O grupo Panvel pode não ter (ainda) uma grande presença para além da região Sul, mas especialmente no Rio Grande do Sul a rede é uma “gigante”. A empresa, que possui 538 lojas na região, está agora dando um novo passo na sua reformulação de negócios e expansão no mercado. Em parceria com a aceleradora Ventiur, a companhia lançou o seu fundo próprio de corporate venture.
Chamado Panvel Ventures, o fundo nasce com a tese de investir em startups com soluções nas áreas de saúde e bem-estar, em linha com o core business da companhia, mas também avalia soluções de experiência de cliente para varejo e inteligência operacional em frentes que a Panvel anda apostando suas fichas, como o e-commerce.
“Foi um movimento natural que segue nossa aproximação com a inovação aberta, que começou de uns anos pra cá com a criação de um comitê de inovação”, explica Fábio Machado, head de inovação do Grupo Panvel, em entrevista ao Startups. Este movimento se tornou ainda mais forte no fim do ano passado, quando a rede farmacêutica montou a sua aceleradora, a Panvel Labs, e lançou um programa de aceleração que selecionou seis empresas.
“Este é um passo natural da companhia após a criação do programa de aceleração de startups, em 2021. A nossa jornada de inovação aberta entra em uma nova fase de maturidade, com olhar atento ao mercado e à continuidade deste modelo de atuação. Por isso a busca por startups que alavanquem novas oportunidades para o nosso negócio”, afirma o CEO do Grupo Panvel, Julio Mottin Neto, em nota.
Aliás, a primeira investida da Panvel Ventures vem da primeira turma do Panvel Labs. É a Lincon, healthtech que desenvolveu uma solução de acompanhamento preventivo para doentes crônicos. Segundo Fabio, ao trazer pra perto soluções como a da Lincon, o plano é agregar mais valor e serviços à simples venda de remédios.
“Assim trazemos um valor agregado com a melhoria de sua saúde, sem esquecer do tratamento médico. Conectamos com o core business e trazemos um ganho adjacente”, explica o executivo, que não abriu informações sobre o valor da rodada seed assinada pelo fundo para a Lincon.
Por falar em cheques, a Panvel Ventures não abriu informações sobre o montante alocado no fundo, ou de quanto devem ser os aportes. Contudo, a empresa aponta que o plano é investir em startups que já tenham alguma tração no mercado. “Nossa visão é investir em rodadas seed e série A”, revela Fábio.
Na visão do executivo da Panvel, com esta abordagem o plano da companhia difere de outro CVC peso pesado do ramo de drogarias – o RD Ventures da RaiaDrogasil – que vem abocanhando o mercado de forma mais agressiva através de compras de startups como Amplimed e Healthbit.
Embora não considere este o foco da Panvel Ventures neste primeiro momento, Fábio não descarta a possibilidade de futuras aquisições a partir do CVC. “O fundo pode ser um veículo estratégico para futuros M&As, mas não estamos tão preocupados com isso agora. Queremos fazer o movimento certo na hora certa, propiciando as oportunidades ideais para as startups”, destaca.
Um parceiro experiente
Apesar da Panvel e da Ventiur já se conhecerem no mercado (ambas são gaúchas), a criação do Panvel Ventures foi a primeira iniciativa de negócio conjunta realizada pelas empresas. A Ventiur não esteve envolvida na criação da aceleradora criada pelo grupo farmacêutico em 2021 – a iniciativa foi tocada pela Panvel com a consultoria paulista Inoscience.
Já no caso do fundo de corporate venture, para Felipe, a escolha da aceleradora gaúcha foi bastante oportuna, já que a Ventiur vem se firmando nos últimos tempos como um nome forte na criação de fundos corporativos, especialmente na região sul: o banco Sicredi e o grupo +A Educação montaram seus CVCs com a aceleradora.
Segundo o fundador e diretor da Ventiur, Sandro Cortezia, agora que a parceria está fechada, entra em ação o trabalho de prospectar o mercado e aproximar da Panvel negócios que tenham o melhor “encaixe” com as expectativas da dona do fundo. “Estamos conduzindo os processos de avaliação, assim como daremos o suporte na definição dos investimentos e também no acompanhamento pós-aporte para garantir que os objetivos das startups e do fundo sejam atingidos”, pontua Sandro.
Conforme destaca o executivo, o plano é que não demore muito para que novos cheques sejam assinados. “Já estamos conversando com algumas startups que já estavam conectadas a Panvel, seja pela aceleradora ou por outros canais. A nossa expectativa é que em algumas semanas já tenhamos uma nova investida”, acrescenta Sandro.
Expansão nacional
Além da criação da Panvel Ventures, o que a Ventiur e a rede farmacêutica gaúcha têm em comum? Ambas estão investindo em expansão no território nacional.
Uma das mais tradicionais redes de farmácias no Rio Grande do Sul, a Panvel vem num ritmo de aceleração, tanto no físico quanto no digital. Em 2022, o grupo já abriu 44 novas lojas, chegando a um total de 538 na região Sul – 379 no Rio Grande do Sul, 64 em Santa Catarina e 89 no Paraná – e mais seis em São Paulo.
O Grupo Panvel também é dono da Dimed, uma das principais distribuidoras farmacêuticas do país e o laboratório Lifar, que desenvolve produtos cosméticos e farmacêuticos para o mercado e para a marca própria da farmácia.
Nos canais digitais, a empresa aumentou suas vendas em 24,1% no segundo trimestre deste ano, atingindo uma fatia de 15,7% do total de sua receita, que foi de R$ 1,06 bilhão (crescimento de 26,7% em comparação com o mesmo período de 2021). Ainda falando do digital, a empresa também investiu na sua parte logística, com centros de Distribuição em Eldorado do Sul (RS) e São José dos Pinhais (PR).
Segundo dados da própria Panvel, o foco da empresa é aumentar ainda mais a sua fatia na região Sul até 2025, para depois expandir para outros estados como Mato Grosso do Sul e São Paulo, entrando de vez na briga com pesos pesados como a RaiaDrogasil, que soma mais de 2500 lojas em todo o país.
Já a Ventiur, conforme noticiamos aqui no Startups, quer reforçar a sua posição como um player nacional, e iniciou recentemente operações em cinco novos estados – Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Tocantins e Amapá – depois de abrir no primeiro semestre do ano o seu escritório em São Paulo. Para esta fase de ampliação, a Ventiur dispõe de aproximadamente R$ 30 milhões já captados de sua rede de investidores, e o plano é investir em negócios em busca de rodadas pré-seed de R$ 200 mil a R$ 1 milhão.