A GK Ventures, gestora criada por Eduardo Mufarej (ex-Tarpon e Somos Educação) para fazer investimentos de impacto, liderou um aporte de R$ 30 milhões na Negócios Verdes, holding que controla 2 negócios na área de tratamento de resíduos industriais: a Rolth do Brasil e a Sulminas.
Também participaram do aporte Daniel Goldberg, ex-presidente do Morgan Stanley no Brasil, e Marco Kheirallah, ex-BTG Pactual. O consórcio ficou com uma fatia de 36,69% da companhia. O controle fica com a família Atalla, da cimenteira Ciplan, que era dona dos dois negócios antes da criação da holding.
A maior parte do aporte (cerca de dois terços) será usada pela Rolth para construir uma unidade de tratamento de escória de aciária dentro de uma fábrica da ArcelorMittal, um rejeito da siderurgia que é um pepino para a indústria. “A indústria precisa reservar grandes espaços para acumular esses resíduos. E essas pilhas têm risco de desabar e causar acidentes”, conta Thomaz Pacheco, sócio da GK Ventures.
A tecnologia desenvolvida e patenteada em 12 países pela Rolth – uma iniciativa de professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), mesma turma que criou e vendeu a New Steel para a Vale por US$ 500 milhões em 2018 – separa em 3 subprodutos, que podem ser utilizados individualmente pela própria indústria siderúrgica e na produção de fertilizantes.
Na Sulminas, o plano é triplicar a capacidade operacional de tratamento do que é descartado pela indústria de pedras ornamentais de São Tomé das Letras (MG). O que a companhia faz é triturar o rejeito dando origem a areia de sílica, um componente que pode ser aproveitado na produção de embalagens de vidro e também na construção civil.
Por fazer a industrialização, não a extração da areia, a Sulminas tem um menor impacto ambiental, segundo Thomaz. O desafio agora é fazer com que o produto final chegue às especificações de qualidade que o mercado precisa.
“Culpa” do Acordo de Paris
De acordo com Thomaz, o interesse nos dois negócios está ligado à necessidade da indústria de correr para atingir a meta de zerar a emissão de carbono até 2050 prevista no Acordo de Paris. “Quase 12 mil companhias se comprometeram, mas não sacaram que têm que começar a se movimentar. E as companhias de base, que não têm substitutos, são grandes emissoras de carbono, vão ter que fazer investimentos. Há uma pressão da urgência, e queremos estar perto delas”, explica.
Segundo ele, no 1º evento anual com investidores da GK Ventures, na semana passada, o interesse foi enorme pela proposta da Negócios Verdes. “Teve gente perguntando se ainda dava pra entrar. Climate funds do Vale do Silício, que têm a indústria como investidores, também gostaram muito da proposta”, conta.
Segundo ele, a ideia é que a companhia agregue novos negócios com o passar do tempo, se tornando uma plataforma para atender as demandas da indústria. No momento, no entanto, a expectativa é se concentrar na Rolth e na Sulminas. “Tem muito pano pra manga para fazer só o que elas se propõem a fazer”, avalia.
Good karma
O investimento na Negócios Verdes é o 3º da GK em seu 1º ano de vida, completando sua presença nas 3 áreas em que se propõe a investir: educação (Rehagro), saúde (Zenklub) e mudanças climáticas (Negócios Verdes).
Com um perfil no meio do caminho entre um venture capital e uma empresa de private equity, a gestora busca empresas em estágio mais avançado de desenvolvimento, série B em diante, para colocar cheques entre R$ 30 milhões e R$ 70 milhões por fatias minoritárias que lhe garantam algum papel na governança do negócio, mas sem estar no dia a dia da gestão. A ideia é fazer no máximo 10 investimentos com os R$ 400 milhões que ela captou para o seu Good Karma Fund.
A gestora também tem um portfólio de R$ 50 milhões na Tembici, Mevo, Trybe, Alicerce Educação, Eureciclo, NeuralMed e Lumiar, investimentos feitos com capital proprietário de Eduardo Mufarej entre 2020 e 2021, quando a GK estava sendo esturturada.