Martech

Gupshup levanta US$ 60M para expandir com IA — inclusive no Brasil

Depois de cortes e decisões difíceis, startup indiana se prepara para novo sprint de crescimento, e o Brasil está na estratégia

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Beerud Sheth, fundador e CEO da Gupshup | Foto: divulgação
Beerud Sheth, fundador e CEO da Gupshup | Foto: divulgação

No boom de startups indianas que rolou há poucos anos, a martech Gupshup era um dos expoentes. Tornou-se unicórnio em 2021, levantando US$ 340 milhões em duas rodadas no mesmo ano, com fundos tarimbados como a Tiger Global investindo. Com o inverno recente dos VCs, o ecossistema indiano passou por turbulências, mas a Gupshup quer mudar essa trajetória. Para isso, acabou de levantar uma rodada de US$ 60 milhões para bancar um novo sprint de expansão — e o Brasil faz parte desse plano.

A nova rodada é um misto de capital e dívida, liderada pelos fundos Globespan Capital Partners e EvolutionX Debt Capital. Em nota, a companhia destacou que o aporte servirá para acelerar a expansão da plataforma de mensagens e IA conversacional da empresa, além de impulsionar sua atuação comercial em mercados de alto crescimento, como Índia, Oriente Médio, América Latina e África.

Apesar de abrir os valores da rodada, a companhia não deu informações sobre o valuation definido no deal. No ano passado, a empresa deixou de ser unicórnio após a Fidelity (uma das principais investidoras na rodada unicórnio da startup em 2021) cortar o valor da companhia de US$ 1,4 bilhão para US$ 486 milhões.

Entretanto, para o CEO da Gupshup, Beerud Sheth, valuation não é uma prioridade para a companhia neste momento. “Comandar uma companhia é como dirigir um carro de corrida. É preciso saber o momento de frear e de acelerar. Estamos tomando as decisões certas para navegar em um novo cenário, e o valuation é consequência”, pontua Beerud, em conversa exclusiva com o Startups.

Por falar em investimento, o plano com o aporte é acelerar a inovação de produtos a partir de modelos internos de IA conversacional, especialmente no desenvolvimento de agentes. “Estamos em um ponto de virada, no qual os agentes de IA estão deixando de ser uma tecnologia experimental para se tornarem infraestrutura essencial para os negócios — o que vem gerando uma demanda extraordinária”, afirmou.

Também está nos planos expandir a presença em diferentes mercados, tanto em contratações internas para tocar grandes projetos enterprise quanto na expansão da rede de parceiros para aumentar sua base de clientes PMEs. No geral, a companhia soma mais de 50 mil clientes em 130 países, processando mais de 120 bilhões de mensagens.

No Brasil, o carro-chefe da Gupshup é sua plataforma conversacional para WhatsApp, um negócio que representa cerca de 20% do faturamento global da companhia. “O Brasil é uma de nossas bases mais avançadas em adoção de inovações, e cresce cerca de 40% a 50% ao ano”, revela Beerud, dizendo que o país contribui bastante para os números globais da companhia, que, segundo ele, triplicou nos últimos quatro anos.

Foco em IA

Apesar do número já expressivo de clientes em sua base, o CEO da Gupshup estima que o crescimento do uso de IA trará um salto ainda maior no uso de plataformas conversacionais de marketing, especialmente para pequenas e médias empresas. “A tecnologia está se movendo muito rápido, e acredito que não vai demorar muito para que toda companhia ou comerciante tenha seu agente de IA. Teremos 5 milhões, 10 milhões usando tecnologias como a nossa em um futuro próximo”, afirma.

De olho nessa oportunidade — e com o Brasil incluído nessa estratégia — o plano é expandir a rede de parceiros, levando as soluções da Gupshup a mais negócios menores. Atualmente, na América Latina, a startup tem uma rede de aproximadamente 3 mil parceiros, com dois terços dessa base no Brasil.

“Vamos investir para sustentar nossa estratégia de crescimento no Brasil, seja em mais parceiros, novas contratações para os times enterprise e também em tecnologia, suportando integrações com o Pix e plataformas como Mercado Livre e Reclame Aqui“, pontua.

Segundo o CEO, o foco em IA também está dentro de casa. Cerca de 35% dos processos internos de desenvolvimento da empresa já contam com suporte de IA. Em áreas administrativas, agentes internos organizam demandas, produzem relatórios e eliminam tarefas repetitivas. A meta da companhia é chegar a 75% de automação até o final de 2025.

Decisões difíceis

A decisão de empregar IA para ganhar eficiência e reduzir custos internamente não é apenas parte de uma tendência. Perguntado pela reportagem do Startups, ele admitiu que todas essas mudanças também são uma resposta ao momento turbulento pelo qual muitas startups — inclusive as indianas — têm passado nos últimos anos.

Talvez o maior exemplo desse momento complicado no ecossistema indiano seja o da edtech Byju’s, que viveu momentos de glória como a maior edtech do mundo, avaliada em US$ 22 bilhões, com investidores gigantes como a Prosus, mas que, em meio a decisões equivocadas, viu seu valuation despencar até chegar a zero no ano passado.

Do lado da Gupshup, Beerud afirma que as dificuldades não chegaram nem perto das de algumas de suas conterrâneas. Entretanto, não faz muito tempo que a companhia teve que “apertar o cinto”. Nos últimos 18 meses, a empresa demitiu cerca de 300 funcionários, em um esforço para enxugar seu headcount, que, na época de altos investimentos (2021), chegou à casa dos 1,5 mil colaboradores.

“Quando as tecnologias mudam, temos que tomar decisões difíceis. Em 2020 e 2021, crescemos rápido demais, e tivemos que nos adaptar. Tem o momento de fazer cortes, pensando em crescer melhor um pouco mais pra frente. Estamos nos preparando para outro momento importante de crescimento”, finaliza.