A história da Bloom Care começou longe da saúde digital. Roberta Sotomaior, fundadora da startup, iniciou a carreira no mercado de luxo, negociando com grandes marcas internacionais para o Brasil. A virada veio quando decidiu se dedicar a causas com maior impacto social: mudou-se para Boston, onde fez mestrado em negociação internacional, atuando em projetos ligados à Universidade de Harvard com foco em resolução de conflitos internacionais. Foi nesse período que passou a refletir sobre a importância da prevenção, especialmente no início da vida, como caminho para transformar realidades.
“Por que investimos tanto em resolver problemas e tão pouco em preveni-los?”, questiona Roberta. “Conforme avançava nos estudos, fui me encantando cada vez mais pela ciência do começo da vida. Percebi que já sabemos muito sobre o tema e que existem formas de agir de maneira diferente do que temos feito até agora. Fala-se muito em longevidade, mas, antes de pensar apenas na resolução de um problema, precisamos mergulhar na sua prevenção.”
Ainda em Boston, Roberta aprofundou os estudos sobre a ciência do começo da vida e a importância dos cuidados durante a gestação e a primeira infância, avaliando como a tecnologia poderia contribuir para disseminar o tema. De volta ao Brasil, a reflexão levou ao nascimento da Bloom Care, em 2018.
Criada ao lado de Bianca Cassarino e Antonia Teixeira (que deixou a operação em 2023), a startup surgiu como uma plataforma B2C de conteúdo para parentalidade. Pouco tempo depois, o modelo se mostrou limitado, e a companhia encontrou no B2B um caminho mais promissor.
O primeiro cliente foi a Natura, com um piloto envolvendo 15 mil consultoras mães. A avaliação de impacto, realizada com apoio da Fundação Getulio Vargas, revelou um problema ainda maior: mulheres em diferentes fases da vida tinham pouquíssimo acesso a cuidados de saúde de qualidade. “A jornada começava muito antes da gestação, com desafios de contracepção, reprodução, saúde mental, e se estendia até a menopausa”, resume Roberta. A Bloom, então, se reposicionou como uma plataforma de cuidado contínuo voltada à saúde feminina e familiar.
Crescimento com impacto
Hoje, a Bloom Care opera por meio de três principais canais de distribuição: empresas (que oferecem a plataforma como benefício corporativo aos colaboradores), corretoras de saúde e operadoras. A solução já cobre quase 85 mil vidas no Brasil e é oferecida gratuitamente às usuárias finais. Entre os clientes, estão companhias como Natura, grandes farmacêuticas e operadoras como Unimed e SulAmérica.
Para além da proposta de valor percebida pelos usuários, que chegam a acessar a plataforma mais de 20 vezes por mês durante a gestação, a Bloom também entrega resultados concretos para quem paga a conta. Um estudo de caso com uma empresa do setor farmacêutico revelou redução de cesáreas desnecessárias, internações neonatais, idas ao pronto atendimento e aumento no tempo de amamentação. Além disso, ajudou a aumentar o retorno de mulheres ao trabalho após a licença-maternidade, um gargalo no país onde mais de 50% das mães deixam o mercado.
A Bloom recebeu seu primeiro aporte no fim de 2021: um investimento pré-seed de R$ 3 milhões, com participação dos fundos IKJ Capital e The Next Company, além de investidores como Rachel Horta (Grupo Fleury), Renato Carvalho (Novartis), Marco Crespo (ex-Wellhub) e Fernando Okumura (KMR Ventures).
Modelo e diferenciais
Hoje, a Bloom se define como uma healthtech, embora reconheça a importância do termo ‘femtech’ para dar visibilidade às lacunas históricas na saúde da mulher. O modelo da startup é baseado em cuidado populacional personalizado, oferecendo conteúdo, orientação e acompanhamento digital adaptado aos desafios individuais de cada família. “É importante ter uma diferenciação muito clara para solucionar os desafios de cada pessoa envolvida e oferecer informações de qualidade sobre essas questões”, destaca Roberta.
Segundo ela, a principal vantagem da Bloom está em oferecer uma solução contínua, prática e humanizada, que integra dados e evita a fragmentação do cuidado – algo comum em plataformas focadas apenas em questões pontuais, como gestação ou menopausa. “O cuidado populacional gera o engajamento necessário para a redução de custos das empresas e a melhora dos desfechos clínicos. O engajamento é o ouro da saúde digital, e conseguimos construir um produto que realmente tem valor para quem usa”, afirma.
A tecnologia também é uma aliada na conveniência. A Bloom utiliza uma estratégia multicanal, com comunicação via e-mail, push e WhatsApp. “Não adianta só ter uma ferramenta. A gente precisa estar onde as mulheres estão”, destaca. A jornada cobre desde o planejamento familiar, a espera do bebê (seja na gestação, adoção ou barriga solidária), parentalidade e pediatria.
Rumo à escala
Com um produto validado, resultados consistentes e um modelo que entrega valor tanto para usuários quanto para empresas e operadoras, a startup entra agora em uma nova fase. “Aprendemos muito sobre o ritmo de maturação em saúde. É um setor complexo, mas estamos prontos para escalar”, diz Roberta.
Segundo a empreendedora, uma nova rodada de investimento não é necessária no momento. A startup triplicou a receita no último ano e projeta atingir o breakeven em agosto de 2025.
O objetivo agora é garantir a qualidade do produto, expandir o acesso ao cuidado e acompanhar as mulheres ao longo de toda a vida, com planos futuros de atuação também no SUS. “Queremos garantir que nossa solução esteja nas mãos de todas as mulheres no Brasil, e estamos bem otimistas com os próximos passos”, conclui.