A história da Sofya começa diretamente do núcleo de inovação do Hospital Sírio-Libanês. Criada em 2022 a partir de especialistas da força conjunta entre o squad médico e especialistas em tecnologia, a startup desenvolveu uma solução que une plataforma de voz e inteligência artificial para que médicos, enfermeiros e profissionais da saúde reduzam em mais de 40% o tempo de preenchimento de formulários assistenciais e elevem a precisão e personalização no cuidado dos pacientes.
“Em determinadas especialidades médicas, para cada hora de cuidado assistencial o profissional gasta mais uma hora com a documentação nos sistemas. Há uma grande dor das equipes assistenciais com a burocracia digital, e passamos a nos questionar como as novas tecnologias podem solucionar esse problema, deixando mais tempo para o cuidado do paciente e não para as documentações”, explica Igor Couto, cofundador e CEO da Sofya, em entrevista ao Startups.
A ferramenta nasce com o objetivo de ajudar os profissionais da saúde a aprimorar a qualidade clínica, evoluindo a eficiência, personalização e a medicina de precisão em suas tarefas mais críticas. “Não é apenas salvar o tempo com a burocracia digital, mas também aliviar toda a pressão cognitiva das equipes de saúde, como um segundo cérebro para pensar em conjunto em como melhorar o cuidado”, acrescenta o executivo.
Entre as funcionalidades, o sistema oferece automatização de tarefas rotineiras como preenchimento de documentação por meio da voz e suporte para decisões clínicas complexas como diagnóstico de hipóteses e sugestões de exames laboratoriais adequados. Além disso, permite a otimização de filas em pronto atendimento, identificação de casos de anafilaxia em prontuário eletrônico, preenchimento do DRG, sistema global para classificar casos hospitalares, e análise do histórico de exames do paciente.
Construindo a ponte EUA-BR
Inicialmente, a solução foi aplicada no ambulatório de cardiologia do Sírio-Libanês e, desde o lançamento, já impactou a vida de mais de 40 mil pacientes. Nos primeiros meses de 2024, o uso da Sofya deve ser ampliado para todas as áreas do Hospital, apoiando o trabalho de mais de seis mil enfermeiros da instituição. Neste momento, a companhia está captando os primeiros clientes, com foco especialmente em redes integradas, e reforçando o seu processo de internacionalização.
Os fundadores da Sofya já estão alocados em Miami, nos Estados Unidos – um movimento realizado justamente para acelerar o desenvolvimento da solução. “Quando chegamos em Miami, nos deparamos com um ecossistema de saúde muito relevante, com várias empresas atuando no setor e um incentivo interessante da combinação entre governo e universidades, além de ser uma região que está florescendo no que diz respeito a startups, novos negócios e à tecnologia”, avalia Aline Fróes, cofundadora e CMO da healthtech.
A executiva observa semelhanças relevantes entre os mercados de saúde do Brasil e dos Estados Unidos. “Os problemas enfrentados pelos países são muito semelhantes. Faz muito sentido estarmos em Miami, pensando nas inovações que podemos oferecer, pois conseguimos atender os dois lados e ganhar um nível ainda maior de riqueza de conhecimento, experiência e perspectivas”, pontua.
Atraindo investidores
Além da internacionalização e conquista de clientes no Brasil e nos EUA, a startup tem perspectivas de fechar uma rodada de captação ainda em 2024. Este será o primeiro aporte institucional da companhia, que até o momento recebeu investimentos apenas do Sírio-Libanês durante o desenvolvimento da ferramenta. “O Hospital Sírio-Libanês já é sócio, a partir de um acordo para pesquisar, testar e validar as tecnologias em conjunto com a instituição. Agora, vamos buscar um parceiro de investimento para expandir o produto e a plataforma”, explica o CEO, Igor Couto.
Os fundadores da Sofya pretendem realizar roadshows nos dois países e captar um aporte com foco na estruturação de uma nova plataforma, voltada à programação de novas IAs médicas e a protocolos clínicos confiáveis. “Os recursos serão basicamente utilizados para pesquisa e desenvolvimento (P&D). Vamos especializar o nosso raciocinador clínico para que ele seja cada vez mais inteligente e esteja cada vez mais disponível para clínicas, hospitais, médicos e enfermeiros”, afirma.
A meta é processar 1 milhão de notas clínicas de pacientes este ano. Nos próximos meses, a companhia vai anunciar o seu LLM (Large Language Model), com uma espécie de ChatGPT treinado especificamente para a área clínica. “O mercado de saúde sempre teve sistemas de suporte à decisão, mas no ponto de vista de tecnologia e poder computacional, isso ainda é bem básico. Com o advento da inteligência artificial, conseguimos de fato colocar o computador para pensar junto com o médico, criando tecnologias eficientes de captura de dados que conseguem raciocinar protocolos clínicos e assistenciais para ajudar o médico e o enfermeiro a ter um nível de cuidado muito melhor com o paciente”, finaliza Igor.