
Um ano depois de deixar o comando da Sinqia após a venda para a Evertec, Bernardo Gomes, fundador da companhia, tem um novo negócio: a healthtech BrightBrains. E os planos são ambiciosos. “Quero fazer em cinco anos o que fizemos com a Sinqia em 20 e ser a maior empresa de saúde mental”, diz ele em conversa com o Startups.
A migração do sistema financeiro para a área de saúde aconteceu por conta de uma experiência pessoal de Bernardo. Em 2022, ele foi diagnosticado com Machado-Joseph, uma doença degenerativa de origem genética que ataca o sistema nervoso, comprometendo os movimentos, e não tem cura. Para tratar os sintomas, ele descobriu a neuromodulação não-invasiva, uma técnica que consiste em estimular partes específicas do cérebro usando pulsos elétricos ou magnéticos. O objetivo é ter um efeito igual ao de um remédio, mas sem o processo químico.
Dois anos mais tarde, quando deixou a Sinqia após a venda para a Evertec por R$ 2,5 bilhões, ele até pensou em diminuir o ritmo e se dedicar aos cuidados com a saúde. Mas, para quem já empreendeu uma vez, parar é algo quase impossível. Sentindo os efeitos positivos da neuromodulação e percebendo que a técnica é pouco difundida no Brasil, ele decidiu investir na sua disseminação.
Para fazer isso ele recrutou o próprio cientista que conduziu seu tratamento, o Dr. Ricardo Galhardoni – que tem mais de 15 anos de experiência com neuromodulação -, e Fernando Pereira, primeiro CFO da Sinqia, que atuou na área de saúde no Pátria e foi um dos responsáveis pela construção da tese da Alliar.
Os 3 pilares da BrigthBrains
A inciativa é dividida tem três frentes: uma rede de clínicas onde serão feitos os tratamentos; o uso de tecnologias e a criação de protocolos para os tratamentos; e um instituto que fará estudos e pesquisas científicas na área de neurologia para colocar o Brasil na vanguarda do setor. “A BrightBrains é uma real healthtech. O que estamos fazendo é realmente algo de saúde. Não é para melhorar o plano de saúde, o hospital. Essa é a diferença”, crava Bernardo.
O tratamento começa com testes cognitivos para avaliar o que a pessoa tem e criar um protocolo personalizado usando inteligência artificial. A neuromodulação é indicada para o tratamento de depressão, ansiedade, TOC, AVC, Parkinson, enxaqueca, dor crônica, TEA e outras condições neurológicas. Ela é tida como uma boa alternativa especialmente para pacientes que não respondem bem a remédios.
Além dos tratamentos clínicos, ela também pode ajudar na melhora da performance para atletas, executivos e profissionais. Para isso, foram criados protocolos específicos para aumento de foco, produtividade, criatividade e controle emocional.
Negócio bilionário
Segundo ele, a tese é escalável e tem sido bem recebida por investidores. O plano é buscar investidores externos aproveitar uma janela para IPO que Bernardo acredita que se abrirá em 2028. Até lá, a BrightBrains pode chegar a uma receita de R$ 1 bilhão.
O número impressiona. Mas a conta é simples e faz sentido. Um tratamento pode variar entre 20 a 40 sessões de 30 minutos. As primeiras cinco sessões são obrigatoriamente feitas na clínica, mas as seguintes podem ser feitas em casa. Para as visitas em domicílio o preço sobe 25%. Com as sessões na clínica custando R$ 1 mil cada, o investimento pode chegar a R$ 40 mil.
A primeira clínica, instalada na Vila Olímpia, em São Paulo, pode fazer atualmente mil sessões por mês, o que, de largada, dá ao negócio uma receita anual de R$ 12 milhões. Há possibilidade de expansão dessa capacidade em 70%, elevando o número de atendimentos para 1700 por mês. Como o plano de expansão prevê a abertura de 20 clínicas, só no atendimento nas clínicas próprias, o potencial de receita é de R$ 400 milhões.
Some-se a isso as receitas com atendimentos em casa e outros planos de crescimento como a oferta para empresas, a criação de uma rede credenciada em todo o Brasil, e a expansão para outros tratamentos para saúde mental, e o primeiro bilhão da BrightBrains, de fato não parece tão distante. E o melhor: com EBITDA acima de 50%, garante Bernardo.
Sem cobertura
Um ponto que pode atrapalhar a adoção é que o tratamento não é coberto por planos de saúde. Bernardo concorda com isso, mas diz acreditar que é até melhor que seja assim nesse começo. “A cobertura dos planos ajuda a popularizar, mas tira o controle sobre o preço do procedimento. Então faz sentido não ter isso por enquanto. É um ponto positivo no sentido de quem determina o preço somos nós”, defende.
Para ele, a maior dificuldade será criar o mercado, especialmente com uma oferta voltada ao consumidor, algo bem diferente do que ele fez com a Sinqia. Mas Bernardo está convencido de que consegue repetir a fórmula (ou pelo menos parte dela) na BrightBrains.