Saúde

Unimed prepara CVC, cria healthtechs e avança em inovação

A expectativa é que o Sistema Unimed encerre 2024 com mais de R$ 100 milhões em investimentos em startups e criar CVC em 2025

Mauricio Cerri, superintendente de tecnologia e inovação da Unimed do Brasil. Foto: Divulgação
Mauricio Cerri, superintendente de tecnologia e inovação da Unimed do Brasil. Foto: Divulgação

Com mais de 56 anos de história na área da saúde, a Unimed do Brasil vem construindo um relacionamento sólido com o ecossistema de startups por meio de conexões e parcerias estratégicas. Com 340 empresas e cooperativas, 118 mil médicos cooperados e mais de 20,5 milhões de beneficiários em planos de saúde e odontológicos, o Sistema Unimed prevê encerrar 2024 com mais de R$ 100 milhões em investimentos em startups.

Segundo Mauricio Cerri, superintendente de tecnologia e inovação da Unimed do Brasil, a virada de chave aconteceu há cerca de quatro anos, impulsionada pela pandemia. “A partir de 2021, aceleramos algumas estruturas ao entender que tecnologias já desenvolvidas poderiam nos auxiliar no dia a dia e que o ecossistema de startups estava muito preparado para nos atender”, diz o executivo em entrevista ao Startups.

Esse movimento se consolidou com a evolução do Lab – Hub Unimed, que hoje é um hub estratégico de inovação do Sistema Unimed. O projeto busca fortalecer a conexão entre a Unimed do Brasil e startups, investidores, mantenedores, aceleradoras e incubadoras. Para isso, promove iniciativas como eventos, workshops, solução de desafios, programas de formação e demais ações voltadas para a cultura de inovação.

“Além do Lab – Hub, que é um projeto nacional, mapeamos as iniciativas de inovação específicas de cada cooperativa Unimed do país, fomentando projetos para que cada região tivesse seus próprios hubs e áreas de inovação”, conta Mauricio. A Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo, por exemplo, conta com o Vibee, hub de inovação em saúde com foco em inovação aberta e intraempreendedorismo. Já o hub Vitall foi fundado com objetivo de fomentar e apoiar a adoção de novas tecnologias nas Unimeds do estado de São Paulo.

As healthtechs têm sido parceiras estratégicas do Sistema Unimed ao oferecer soluções diretamente relacionadas à saúde e bem-estar, alinhadas ao core business da organização. Contudo, as cooperativas também têm expandido suas colaborações para startups de outros setores, que ajudam a otimizar processos, aumentar a produtividade e agregar valor à operação. “O mercado de saúde é grande e abrange áreas como engenharia clínica, sistema jurídico, back office financeiro, administração, entre outros. A parceria com o ecossistema de startups é fundamental para criar ganhos rápidos e efetivos”, ressalta Mauricio.

Trabalhando sinergias

A Unimed oferece diferentes modelos para apoiar startups em estágio inicial, como as parcerias estratégicas, os projetos do Lab – Hub e o uso do espaço coworking em São Paulo, permitindo que empreendedores se conectem com colegas e potenciais parceiros em um ambiente inovador.

Há também um trabalho com empresas em estágio embrionário, especialmente aquelas que ainda não possuem estrutura definida, mas apresentam ideias promissoras. “Podemos oferecer suporte para desenvolvimento de provas de conceito, evolução de produtos e mentoria especializada, além de proporcionar um entendimento aprofundado do modelo do sistema Unimed”, explica o executivo.

Como parte do processo, a Unimed estabelece um acordo de mútuo conversível, vinculado ao crescimento e à evolução das startups apoiadas, com a possibilidade de conversão em participação societária. Mauricio afirma que atualmente cinco startups estão nesse processo, beneficiando-se do suporte estratégico e das orientações oferecidas pela Unimed. O objetivo é colaborar para o amadurecimento dos negócios e criar parcerias de longo prazo que promovam inovações alinhadas às necessidades do ecossistema de saúde.

De fora para dentro

Além da conexão com o ecossistema, a Unimed do Brasil passou a estruturar startups internamente. Desde 2022, o Sistema Unimed conta com a Unimed Pay, plataforma criada para simplificar e otimizar a gestão financeira de médicos cooperados e prestadores de serviços de saúde cooperativistas.

Mais recentemente, a marca anunciou o lançamento de três healthtechs, criadas a partir da fusão de empresas menores do mercado. As startups NEXDOM, Yuni Digital e Interall foram desenvolvidas a partir da integração de soluções inovadoras já utilizadas pelas cooperativas do Sistema Unimed, com o objetivo de aprimorar a eficiência operacional e a qualidade dos serviços de saúde prestados.

A NEXDOM se posiciona como especialista em sistemas de gestão para operadoras de planos de saúde, consolidando cinco sistemas utilizados por cooperativas Unimed. A empresa já atende 140 cooperativas, que somam 6,5 milhões de beneficiários, e iniciou a operação com um faturamento de R$ 70 milhões e um valuation estimado em R$ 250 milhões.

A Yuni Digital unifica aplicativos e portais digitais do Sistema Unimed, sendo uma solução de fácil acesso para 90% dos clientes e médicos cooperados. Já a Interall, focada em interoperabilidade de dados, conecta mais de 40 operadoras Unimed e gerencia 40 milhões de registros clínicos de pacientes, garantindo um fluxo seguro e eficiente de informações.

“Estamos finalizando a criação de mais uma startup, com lançamento previsto para março de 2025”, revela Mauricio. Sem muitos detalhes, ele compartilha que a healthtech atuará no campo de prontuário eletrônico, telemedicina e atenção primária à saúde.

O intuito é que as startups tenham como prioridade atender o Sistema Unimed, embora também possam prestar serviços para fora. “Algumas de nossas healthtechs já vendem serviços para fora do Sistema Unimed, algumas colaboram com os nossos parceiros e outras atendem um mercado mais amplo e outras”, explica o executivo.

Essas healthtechs são resultado do Programa Sinergia Unimed, que é parte do Plano Diretor de Tecnologia e Inovação (PDTI) lançado em 2023 para promover a convergência tecnológica em todas as 340 cooperativas e empresas da marca. A iniciativa contempla a unificação de sistemas de gestão, interoperabilidade de dados, governança digital, inovação aberta, telemedicina e canais de atendimento digital.

Rumo ao CVC

Segundo Mauricio, existem cooperativas da Unimed que já possuem estratégias de corporate venture capital (CVC) operando de forma independente. A nível nacional, esse ainda é um projeto em desenvolvimento, com avanços significativos previstos para 2025. “Algumas Unimeds realizam investimentos individuais em startups – algumas, inclusive, por meio de seus fundos específicos. Agora, estamos estudando a possibilidade de ter um fundo nacional para fazer esses aportes de forma estruturada”, destaca o executivo.

Ele afirma que a tese de investimentos já está sendo elaborada. “Estamos avaliando duas teses de investimento. Pensamos em um formato de fundo mais tradicional, em que a Unimed do Brasil faça investimentos minoritários e potencialize o crescimento da empresa. Também avaliamos a possibilidade de abrir um cap table para que os médicos cooperados também possam investir nas startups como pessoa física e obter retorno financeiro”, pontua. 

A expectativa é começar a estruturar o CVC da Unimed do Brasil em meados de 2025. 

Os planos também incluem um avanço nas frentes de capacitação e intraempreendedorismo, além de investimentos em governança e inteligência artificial. Para o próximo ano, a Unimed do Brasil está intensificando esforços na captação de recursos financeiros, com foco especial em incentivos fiscais, para fortalecer seus projetos de inovação. A iniciativa está alinhada à criação de uma estrutura robusta que inclui Corporate Venture Capital (CVC) e uma Venture Builder (VB), ampliando as possibilidades de investimento e suporte às startups.