A operação brasileira da Factorial, startup espanhola de soluções para Recursos Humanos e Departamento Pessoal, registrou crescimento de 21% na receita e 22% na base de clientes no primeiro semestre de 2025. O desempenho reflete a incorporação de inteligência artificial (IA) e o aumento do interesse do mercado nacional por soluções digitais de RH, colocando o Brasil entre os cinco mercados mais relevantes da empresa e reforçando seu interesse em fusões e aquisições no país.
“Antigamente, quando pequenas e médias empresas pensavam em uma solução de RH, o foco era apenas na automatização dos processos. Hoje, enxergam um valor maior, em busca de uma solução que alimente a companhia de informações para decisões estratégicas”, afirma Renan Conde, CEO da Factorial no Brasil. “Ainda estamos longe da digitalização plena no país, mas a IA tem mostrado que pode ir além da automação e oferecer informações estratégicas para decisões de negócios”, observa.
Nesse cenário, a Factorial intensificou os investimentos em inteligência artificial e já incorporou a tecnologia em quase todos os módulos da plataforma – dos processos de admissão às análises preditivas, passando pelo controle de ponto e gestão de performance. Segundo o CEO, as ferramentas também permitem aos gestores acompanhar a saúde mental dos colaboradores e apoiar tarefas como administração de relatórios, avaliações de desempenho e gestão de treinamentos.
Ajustes para o mercado brasileiro
O desempenho atual da Factorial é fruto de uma reestruturação iniciada em 2024, quando a subsidiária brasileira ganhou autonomia para adaptar processos e recursos às particularidades locais. Isso incluiu integração com o WhatsApp para atendimento e suporte, criação de gerentes de contas estratégicos e reforço no pós-venda.
“O fato de termos uma plataforma 360º contribui para o crescimento. Muitas vezes o cliente chega com uma dor específica, mas permanece porque encontra solução para outros problemas também. Essa facilidade estimula a expansão”, explica Renan.
Hoje, a Factorial conta com cerca de 1,4 mil clientes ativos no Brasil, seu principal mercado na América Latina. O potencial estimado, segundo Renan, é de cerca de sete milhões de pequenas e médias empresas no país.
“Temos feito um trabalho forte de conscientização para atrair empresas que ainda acreditavam que um software de RH não era viável. Muitas associam esse tipo de solução a custos altos, porque no passado ele era voltado apenas para as corporações. Em parceria com a área de marketing, mostramos que hoje existem alternativas desenhadas para PMEs, com valores acessíveis”, afirma o CEO.
De olho em M&As
A Factorial adquiriu a Fuell, de gestão de despesas, em 2023, entrando no universo das finanças empresariais. A operação reforçou a missão do unicórnio espanhol de oferecer uma solução de recursos humanos mais completa para pequenas e médias empresas.
Atualmente, a companhia avalia novas aquisições, mas mantém cautela. “Temos observado atentamente essa possibilidade, mas há um dilema: pesquisas indicam que 60% das aquisições não funcionam por questões de integração. É preciso analisar se vale mais a pena comprar a solução ou seguir com o desenvolvimento interno”, explica Renan.
“Em 2025, estamos olhando para essa possibilidade com mais carinho”, admite. Questionado se já há oportunidades no radar, o executivo mantém discrição: “Diria que estamos apenas avaliando possibilidades, para não liberar nenhuma informação confidencial.”
Segundo ele, a Factorial mantém saúde financeira positiva, sendo rentável mesmo antes da última rodada de investimentos. A startup anunciou o aporte em outubro de 2022, quando captou US$ 120 milhões a um valuation de US$ 1 bilhão.
A meta para os próximos seis meses é ambiciosa: crescer 50% em faturamento. Parte desse avanço deve vir da expansão da rede de parceiros comerciais para todos os estados brasileiros, além da implementação de novas funcionalidades com IA para gestão de turnos, treinamento e avaliação de performance. A startup também investe no desenvolvimento de novos produtos, incluindo módulos além do RH, como gestão financeira e vendas, já operacionais na Europa e em fase de adaptação no Brasil.