David Steuer, sócio da área de tecnologia da IGC
David Steuer, sócio da área de tecnologia da IGC | Foto: Divulgação

O que há em comum entre a captação Série B de R$ 400 milhões da CRMBonus — que marcou o primeiro investimento da Bond no Brasil —, o investimento da General Atlantic e da XP Private Equity na LiveMode, responsável pela CazéTV, e o aporte de R$ 425 milhões da GIC, fundo soberano de Cingapura, na mineira Sankhya, especializada em ERP? O mesmo advisor por trás de todas elas: a IGC Partners, especializada em conectar o potencial das empresas do ecossistema tecnológico brasileiro a investidores internacionais, tanto em processos de fundraising quanto em M&A, sempre atuando no sell-side, ou seja, ao lado do empreendedor.

“Em M&A, se eu depender apenas de compradores nacionais ou consolidadores de software, a transação será mais padrão. Nós buscamos a melhor transação possível — que nem sempre é a mais fácil — e, para isso, contamos com uma rede global de investidores e compradores”, afirma David Steuer, um dos quatro sócios da IGC dedicados exclusivamente ao setor de tecnologia.

Para sustentar essa estratégia, a empresa mantém escritórios em São Paulo e Miami, ampliando sua conexão com fundos e compradores estratégicos norte-americanos. Das 100 transações realizadas pela IGC no setor de tecnologia desde 2019, 70% envolveram investidores internacionais.

Na prospecção de investidores e compradores, a IGC concentra seus esforços no chamado middle market americano — exemplos incluem as operações da Labsoft com a Confience, da OOBJ com a Avalara e da AllStrategy com a Prophix.

Um caso que ilustra bem essa atuação é a venda da brasileira Labsoft para a norte-americana Confience, plataforma global de software para laboratórios controlada pelo fundo STG, que administra mais de US$ 12 bilhões em ativos. Fundada em 2001, a Labsoft desenvolveu o MyLIMS, plataforma em nuvem utilizada por centenas de clientes em mais de dez países, com presença em setores altamente regulados, como alimentos e bebidas, mineração, produtos químicos e farmacêuticos. A operação marcou a saída da Kilimanjaro Capital, search fund que havia adquirido participação majoritária na empresa em 2022.

Em fundraising, o foco está em empresas com crescimento acelerado — entre 80% e 100% ao ano — e faturamento já próximo à casa das centenas de milhões. Já nas operações de M&A, a atenção recai sobre companhias com faturamento mínimo de R$ 30 milhões e bom equilíbrio entre crescimento e margens, seguindo a chamada Rule of 40. Em ambos os casos, a inteligência artificial passou a ser um critério central nas análises. “Essa tem sido uma pauta recorrente: como a IA pode gerar mais eficiência e, ao mesmo tempo, não comprometer o negócio?”, comenta Steuer.

Ele observa ainda que o papel do fundador segue essencial na avaliação dos investidores, embora mude conforme o estágio da empresa. Nas rodadas iniciais, a capacidade de executar uma visão ainda cercada de incertezas é determinante para o sucesso. Já em estágios mais maduros, como nas Séries B ou C, ganham peso a estrutura e a sustentabilidade do negócio — e o desafio passa a ser avaliar até que ponto o fundador tem habilidade para liderar o crescimento. “Alguns conseguem levar a empresa do zero ao bilhão de faturamento — mas não todos”, pondera.

Para Steuer, o mercado está mais seletivo, valorizando empresas que crescem com solidez e eficiência — mas o cenário está longe de ser negativo. “Não há escassez de investimento para esse tipo de negócio”, conclui.