Goldman Sachs | Foto: Shutterstock
Goldman Sachs | Foto: Shutterstock

A corrida tecnológica entre Estados Unidos e China já está refletida nos preços das ações das principais empresas globais de semicondutores. É o que aponta o novo relatório The US-China Tech Race, publicado pela Goldman Sachs este mês. Segundo os analistas do banco, o mercado já incorporou boa parte dos impactos das restrições comerciais, políticas industriais e disputas geopolíticas que marcaram os últimos anos — ao menos no que diz respeito aos grandes fabricantes de chips e aos fornecedores de equipamentos.

Essa precificação poderia ajudar a explicar, em parte, a correção no preço das ações da Nvidia, que no último mês apresentaram queda de mais de 10%. No final de agosto, a companhia se tornou a primeira empresa do mundo a alcançar US$ 5 trilhões em valor de mercado, marcando um momento histórico em Wall Street. 

Como principal símbolo do boom de IA e líder em hardware para sistemas de inteligência artificial, a Nvidia foi uma das empresas que mais se beneficiou da antecipação dessas expectativas do mercado. No entanto, o relatório sugere que o próximo ciclo de oportunidades pode estar menos nos grandes fabricantes de chips e mais em cadeias adjacentes, como minerais críticos, infraestrutura e players regionais.

A Nvidia parece ter entendido o recado e tem buscado expandir sua atuação em software, indo além do fornecimento de chips. Nesta semana, a companhia anunciou a aquisição da SchedMD, empresa responsável pelo desenvolvimento de um sistema de gerenciamento de cargas de trabalho open source utilizado em computação de alto desempenho e inteligência artificial.

De acordo com a equipe de equity research da Goldman Sachs, empresas líderes na fabricação de semicondutores e na produção de chips já negociam com valuations que refletem o cenário atual de tensão tecnológica entre as duas maiores economias do mundo. Isso sugere que novos desdobramentos políticos ou regulatórios podem ter efeito mais limitado sobre esses papéis, a menos que representem mudanças estruturais profundas.

Um dos principais focos de atenção apontados pelo relatório são as empresas ligadas à mineração e ao refino de terras raras e outros minerais críticos. Esses insumos são essenciais para a fabricação de chips, baterias, motores elétricos e equipamentos de alta tecnologia, e a China ainda detém uma posição dominante nessa cadeia. Para o Goldman Sachs, a tentativa de reduzir essa dependência pode se tornar um importante vetor de valorização para companhias fora da Ásia que atuam nesse setor.

O relatório identifica quatro arenas principais na corrida tecnológica: inovação, aplicação prática, infraestrutura digital e autossuficiência tecnológica. Enquanto os EUA seguem à frente na criação das tecnologias de ponta, a China avança de forma acelerada nos demais campos.

Segundo Mark Kennedy, fundador da Wahba Initiative for Strategic Competition da Universidade de Nova York (NYU), ouvido pelo relatório, a China se destaca especialmente na adoção de robótica e inteligência artificial física, com um volume de implantação industrial muito superior ao americano, além de liderar a instalação de infraestrutura digital em países do Sul Global.

Para ele, os EUA ainda lideram no desenvolvimento das tecnologias mais avançadas, como semicondutores, frameworks de inteligência artificial, computação em nuvem e computação quântica.

“Podemos chegar a um mundo em que os EUA dominem os projetos e o software, enquanto a China domine as instalações, o hardware e a infraestrutura”, diz Mark. “Os EUA teriam os blueprints, e a China, os edifícios.”

Em todo o caso, os analistas do banco reforçam que não haverá arrefecimento na disputa entre EUA e China pela liderança tecnológica e a busca por autossuficiência tecnológica deve permanecer no centro da agenda chinesa, “sem poupar esforços ou recursos”, diante da percepção de um ambiente internacional cada vez mais hostil. Segundo o Goldman Sachs, Pequim trata a tecnologia como um pilar central de segurança nacional e resiliência econômica.