Inovação aberta

Indovinya aposta em Startup-as-a-Service para inovação química sustentável

Divisão da Indorama Ventures lança programa para integrar startups e acelerar soluções verdes na agricultura

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Agronegócio
Agronegócio (Foto: Canva)

Trabalhar com inovação aberta não é novidade para a Indovinya, divisão de negócios da gigante global de química Indorama Ventures. A proposta, aliás, está presente até no nome da companhia – uma junção de Indorama com Avinya, palavra que significa inovação em sânscrito.

“O open innovation é um dos quatro pilares da nossa estratégia de inovação corporativa”, afirma Renata Haenel, diretora de gestão da inovação da Indovinya. Segundo ela, a empresa enxerga o ecossistema externo como um parceiro fundamental para superar desafios internos em diferentes áreas. “Identificamos um desafio, nos conectamos com o ecossistema e buscamos uma solução mais estruturada, que possa reduzir riscos, acelerar o nosso time-to-market e permitir entregas mais robustas, com otimização de recursos”, explica.

Como parte dessa abordagem, a empresa tem promovido iniciativas no Brasil e no exterior, incluindo desafios tecnológicos em parceria com universidades, Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e outros players do ecossistema. Só em 2024, a Indovinya se associou com mais de 80 startups e conduziu 10 provas de conceito no país, apoiando áreas como logística, novos produtos, assuntos regulatórios, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), engenharia, entre outras. Ao todo, a companhia possui mais de 500 pedidos de patentes em mais de 30 países e conta com 114 novos desenvolvimentos de produtos criados pela área de inovação e lançados em 2024.

Em 2025, a Indovinya dá mais um passo para fortalecer seu relacionamento com startups com o lançamento de um novo programa de inovação aberta focado no desenvolvimento de tecnologias químicas sustentáveis para a agricultura. O objetivo é apoiar a criação de moléculas que atuem como hidrófobos ou dispersantes biodegradáveis e livres de microplásticos, aditivos usados em pesticidas, herbicidas e fertilizantes para melhorar a estabilidade, a dispersão e o desempenho desses produtos, com menor impacto ambiental.

As novas soluções devem ser ao mesmo tempo altamente eficazes e ecologicamente corretas. A Indovinya busca moléculas biodegradáveis que funcionem como dispersantes eficientes, sem gerar resíduos persistentes como os microplásticos presentes em formulações convencionais. Estão no radar alternativas de alto desempenho, como novos sistemas surfactantes, polímeros de base biológica, pequenas moléculas e compostos obtidos por fermentação, capazes de impulsionar a inovação em agroquímicos e contribuir para um futuro mais sustentável.

“A gente olha muito para o empreendedor”, afirma Renata, ao comentar sobre a etapa de avaliação dos inscritos no programa. “É ele quem tem o espírito de fazer acontecer, de crescer e tocar o negócio. Por isso, sempre avaliamos o empreendedor além da tecnologia. Levamos em conta o nível de maturidade da solução, a viabilidade econômica, o estágio da empresa, entre outros aspectos.”

Após a avaliação das candidaturas, os participantes selecionados passarão por mentorias com especialistas para desenvolver suas moléculas inovadoras. Em seguida, terão a oportunidade de apresentar suas soluções em um Pitch Day, diretamente para as equipes de negócios e P&D da Indovinya. Além disso, as startups terão acesso a plataformas de desenvolvimento e à possibilidade de lançamento no mercado com o apoio da Indovinya.

“Startup-as-a-Service”

A proposta da Indovinya é promover uma relação de troca com as startups, em que ambas as partes se beneficiem: enquanto a corporação avança com soluções inovadoras, as startups também ganham acesso a oportunidades e recursos que impulsionam seu crescimento.

“Um dos pontos mais importantes para as startups é participar de mentorias que ofereçam orientação estratégica, visão de negócio empresarial e impulsionem o crescimento do negócio”, analisa a executiva. “Também valorizamos a troca de conhecimento e a possibilidade de fazer negócios”, acrescenta Renata.

Por parte da Indovinya, o relacionamento pode ocorrer por meio de acordos comerciais, licenciamento da solução, entre outras formas. Segundo Renata, a empresa adota um modelo de “Startup-as-a-Service”, com o objetivo de integrar o serviço e a tecnologia da startup em seu negócio. “No fim das contas, estamos buscando fechar uma parceria de fato, que pode ser estruturada de diferentes maneiras”, pontua. 

O programa não prevê aportes financeiros. “Ainda não chegamos ao momento de investir em alguma startup com a qual nos aproximamos. Essa oportunidade ainda não surgiu e, ao mesmo tempo, esse é um pilar que estamos evoluindo”, explica Renata. Ainda assim, a holding Indorama Ventures, da qual a Indovinya faz parte, já conta com uma célula de investimentos em startups.

As inscrições para o desafio “Tecnologia Sustentável na Agricultura: Avanço de Dispersantes Biodegradáveis ​​para Formulação de Próxima Geração” estão abertas até 27 de julho, pelo site da AEVO.

Visão de mercado

O novo programa da Indovinya chega em um momento oportuno, seis meses após a Oxygea. fundo de CVC da petroquímica Braskem, encerrar suas operações. Criado em 2023, o veículo dispunha de US$ 150 milhões para investir ao longo de cinco anos e tinha oito empresas em seu portfólio quando foi descontinuado.

Em comunicado, a Oxygea reconheceu os resultados significativos obtidos com seu modelo, que combinava investimentos de risco, venture building e aceleração. No entanto, informou que a Braskem optou por descontinuar as operações do CVC para garantir a “maximização de valor por meio da implementação de iniciativas de eficiência operacional e gestão de custos”.

Sem citar diretamente a concorrência, a diretora de gestão da inovação da Indovinya destaca que o posicionamento da empresa é diferente do adotado por outras gigantes do setor químico. “Os concorrentes tinham uma iniciativa mais apartada do negócio principal”, avalia Renata. A observação faz sentido, considerando que a estratégia de alguns fundos corporativos, como era o caso da Oxygea, era operar de forma independente da empresa-mãe.

“No caso da Indovinya, a inovação aberta continua sendo um pilar central da nossa estratégia corporativa. A gente acredita genuinamente que trabalhar com o ecossistema nos permite alcançar resultados de forma mais rápida e colaborativa. Por isso, não vejo a Indovinya seguindo o mesmo caminho [de descontinuar iniciativas de open innovation]. Pelo contrário, seguimos fortalecendo esse pilar como parte essencial da nossa atuação”, afirma Renata.

A executiva compartilha expectativas otimistas para o desafio de inovação sustentável na agricultura. “O grande objetivo é encontrar o parceiro certo, que traga a tecnologia e o conhecimento necessários para reduzir riscos e levar essa solução ao mercado de forma mais ágil. Esse não será o único desafio lançado em 2025; outras iniciativas estão previstas ao longo do ano, com foco em outro mercado estratégico”, conclui.