
A inovação aberta não é mais uma novidade para as empresas brasileiras. Mas ela ainda é, majoritariamente, um território das grandes corporações. Isso é o que mostra o estudo “Inovação Aberta no Brasil”, realizado pelo Torq, hub de inovação da Evertec Brasil, em parceria com a Sling Hub. O levantamento mapeou 87 organizações com iniciativas ativas e detalhou práticas de 33 delas, revelando um ecossistema cada vez mais maduro, porém, ainda concentrado entre companhias de grande porte.
Segundo o estudo, 73% das empresas pesquisadas já possuem iniciativas consolidadas com orçamento recorrente, e um terço mantém programas contínuos de colaboração com startups. A tendência é de continuidade e expansão: 76% pretendem manter ou ampliar os investimentos até 2027, sendo que 33% planejam aumentar os recursos e 43% manter os níveis atuais.
Apesar do interesse das companhias na inovação aberta, 57% das organizações mapeadas contam com mais de 10 mil funcionários, indicando que as iniciativas mais estruturadas surgem sobretudo nas grandes corporações. Outros 16% são de companhias com 5 mil a 10 mil funcionários, e 21% das empresas com programas de inovação aberta possuem entre 1 mil e 5 mil funcionários.
João Ventura, CEO e fundador da Sling Hub, destaca que 95% das empresas mapeadas possuem mais de 1 mil funcionários, o que já representa um porte considerável. Para ele, isso significa que existe uma oportunidade pouco explorada pelas médias e pequenas empresas para programas de inovação aberta e parcerias com startups.
“Ainda existe uma avenida a ser percorrida”, diz ele, que chama atenção para o potencial trazido pela inteligência artificial: “Uma coisa é usar o ChatGPT, outra coisa é integrar IA à operação da empresa. É uma jornada muito longa e o primeiro passo é se relacionar com startups que já fazem isso bem”.
A predominância é também nacional: 75% das empresas têm sede no Brasil, com forte presença em São Paulo (46%), seguida por Rio de Janeiro (15%) e Minas Gerais (11%). Setorialmente, o trio Finanças (13%), Indústria (11%) e Energia (11%) lidera as iniciativas.
Apesar de a maior parte das empresas mapeadas ser brasileira, há presença de multinacionais, principalmente europeias e americanas, operando no país. Depois do Brasil, Estados Unidos aparecem em segundo lugar com 8% (7 empresas), seguidos por Alemanha (5%) e França (3%).
Thiago Iglesias, Head do Torq, destaca que estar em um programa de inovação aberta de uma companhia multinacional pode ajudar nos planos de internacionalização das startups.
“É o caso de uma das startups que estamos acelerando, em parceria com a Darwin Startups, que faz automação de impostos. Após uma prova de conceito bem sucedida, estamos conversando para levar a solução a outros países onde a Evertec tem operação”, conta.
IA, dados e eficiência
Para os próximos dois anos, o consenso é que inteligência artificial e dados devem ser os motores da inovação. A tendência aparece em 91% das respostas, seguida por eficiência operacional e automação (79%). Energia e transição energética (45%), sustentabilidade/ESG (36%) e saúde e bem-estar (33%) também figuram entre as prioridades.
“IA vem muito forte nesse movimento de reduzir custos e trazer eficiência”, diz Thiago. Ele observa que, cada vez mais, as empresas têm percebido que não dá para fazer tudo dentro de casa. Segundo ele, mesmo entre big techs, que têm tecnologia no core, a lógica tem sido de colaboração — citando exemplos de gigantes que se conectam a empresas especializadas, como a OpenAI. “As empresas estão entendendo que, se até o Google tem parceiros, as corporações tradicionais também podem ter”, afirma.
Apesar da consolidação, ainda existem desafios para trabalhar com inovação aberta no Brasil. O principal deles, segundo as empresas mapeadas, é escalar soluções após pilotos bem-sucedidos, apontado por 55% das companhias. Cultura corporativa avessa ao risco (52%) e dificuldades de integração com áreas técnicas (52%) aparecem na sequência.
Parte disso, explica Thiago, está ligado a uma falta de integração nas estruturas internas das empresas. “Muitas corporações têm processos de governança para contratação que não se aplicam a startups. É preciso ter uma esteira diferente para POCs. Quando a prova de conceito funciona, porém, ela precisa voltar para o fluxo tradicional, e aí surgem os desafios”, explica.
As provas de conceito continuam sendo o principal mecanismo de colaboração entre startups e corporações, citadas por 91% das empresas. Outras formas frequentes incluem contratação de soluções prontas (85%), parcerias comerciais (82%), programas de aceleração e desafios (76%) e investimentos via Corporate Venture Capital (61%).