Programas de grandes empresas de tecnologia para startups não são nenhuma novidade. Contudo, tirando casos em que entram em cena projetos de aceleração ou de CVC, muitos não vão além de créditos para uso de soluções ou suporte técnico e mentorias. A Oracle, inclusive, atuava com uma estratégia assim até o ano passado com o programa Oracle for Startups, mas resolveu rever o seu plano para 2024.
Com isso em mente, a tradicional companhia anunciou o Oracle For Growth, uma versão revisada de seu programa para startups, focada não apenas em fornecer o suporte técnico, mas também em utilizar sua presença no mercado para conectar grandes empresas e startups.
Segundo o Innovation Hub Manager para a Oracle América Latina, Rodolfo Aloy, o novo foco já está no nome do novo programa. “Pensamos em um programa focado em ajudar startups a crescer, e não apenas entregar tecnologia”, resume o executivo.
E como uma startup cresce? Para Rodolfo, a resposta é simples: com receita. “O apoio técnico e de créditos de tecnologia é importante, pois as ajudam a manter os custos baixos. Mas ao perguntarmos sobre os desafios das startups, é quando ouvimos que a parte de custos não chega a ser o principal. Isso eles tem coberto, pois faz parte da estratégia. O que muitas startups precisam é obter mais fontes de receita”, completa.
Por isso, a companhia colocou na estratégia do novo programa uma nova linha de atuação – além dos já tradicionais créditos e mentorias – conectando as startups participantes do programa a grandes clientes da carteira da Oracle. Atualmente, a multinacional possui mais de 7 mil clientes na América Latina.
“Se nosso principal valor está em nossa presença corporativa, por que não aproveitar esse espaço para habilitar conversas entre as grandes empresas e startups?”, dispara Rodolfo, em entrevista ao Startups. Segundo ele, estas conexões podem ser feitas de diversas maneiras, como a realização de desafios de inovação aberta, round tables entre startups e clientes Oracle, e até mesmo conexões diretas entre grandes empresas e startups.
“Temos clientes em que estabelecemos não apenas uma relação comercial, mas uma parceria de negócios e tecnologia. Com essas empresas, nosso time de inovação está constantemente conectado com as necessidades de inovação, observando que projetos de disrupção estão sendo realizados”, explica Rodolfo, falando de como estas conexões diretas podem acontecer.
Começando pequeno
Apesar da Oracle ser uma empresa grande, o plano do Oracle For Growth é começar pequeno, e por isso não houve chamada aberta – pelo menos não por enquanto. A turma inicial do programa conta com 20 startups que passaram por uma “curadoria” da Oracle, uma decisão da multinacional para testar o formato e manter uma abordagem mais próxima. São startups com foco B2B e SaaS, que segundo Rodolfo têm mais aderência para as conexões pretendidas pela Oracle, e que já estão um pouco além do early-stage, buscando tração em seu go-to-market.
“É um programa para todo tipo de empresa, mas temos verticais que são estratégicas, como serviços financeiros, health, retail, utilities e manufatura”, afirma Rodolfo. As startups escolhidas tem direito a US$ 100 mil em créditos na nuvem, assim como tem a atenção de uma equipe de suporte para companhar o processo de incorporação de suas tecnologias à nuvem da Oracle.
No lançamento do programa no fim do ano passado, o VP de ‘HighTech Companies’ da Oracle para a América Latina, Leandro Vieira, afirmou que inicialmente o programa não pretende investir em equity nas companhias. “Pode, em algum momento, chegar no equity, mas não é um objetivo do primeiro passo do programa”, disse o executivo, na ocasião.
Aliás, por falar em “High”, no ano passado a Oracle chegou a anunciar um programa para diferenciar sua relação com startups e scale-ups. Ela montou no Brasil uma estrutura dedicada ao atendimento desse perfil de companhia. Com um time de 60 pessoas, o Oracle High Digital separou 300 companhias que vão receber a mesma atenção dedicada aos clientes de grande porte da companhia como Itaú e Petrobras. “São startups, com atendimento enterprise”, contou Leandro Vieira, em entrevista ao Startups em julho.
Entretanto, segundo Rodolfo, o ganho das empresas com o apoio do Oracle for Growth também se converte em receita para a empresa – e para o executivo, isso vale em diferentes frentes. Com os grandes clientes, é uma oportunidade de atender desafios (e vender mais tecnologia) através da integração com soluções inovadoras do ecossistema, funcionando quase como um veículo de inovação aberta para empresas que não possuem um dentro de casa.
Já junto às startups, o potencial está no próprio crescimento destes pequenos negócios. “Claro que não vamos cobrar pelas conexões que proporcionamos. Porém, se conectarmos uma startup com cinco oportunidades de negócio, e ela conseguir avançar em duas, por exemplo, ela necessitará de mais capacidade tecnológica”. “São startups que vão crescer consumindo a nossa tecnologia”, finaliza.