A inovação aberta está cada vez mais presente nas grandes empresas, seja na forma de corporate venture capital (CVC), por exemplo, ou do desenvolvimento de soluções internamente. Na Nestlé, o programa Panela, lançado em 2021, tem o objetivo de encontrar fornecedores para a sua cadeia produtiva – e, para a gigante de alimentos, a parceria com startups é o grande trunfo.
A companhia foi uma das empresas parceiras na oitava edição do Hacktown, que ocorreu entre os dias 1º e 4 de agosto em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais. O palco da Nestlé no evento recebeu especialistas para falarem sobre o futuro da alimentação e as inovações no setor.
Em entrevista ao Startups durante o festival, Carolina Falcoski, gerente de Inovação Aberta da Nestlé, disse que as startups são hoje o carro-chefe do programa.
“Hoje, o Panela está muito focado em parceria, e como desfecho final, a contratação. A gente sempre parte de desafios internos, e cada vez mais desafios bem core da nossa estratégia, e a partir disso a gente aplica uma metodologia para encontrar essas soluções no ecossistema. As startups hoje são o nosso carro-chefe. O Panela não é sobre startups, é sobre inovação aberta de uma forma mais ampla, mas startups são mais de 90% do nosso portfólio. É onde temos encontrado essas soluções mais customizadas e resolvendo problemas bem centrais”, afirma.
Entre 2021 e 2023, o Panela mapeou quase 900 startups, conectou-se com mais de 500, e desenvolveu quase 30 projetos pilotos, com uma das maiores taxas de conversão do programa: cerca de 40%, frente a 10% a 15% em outras iniciativas. É quando a startup se torna uma fornecedora regular da Nestlé.
Segundo Carolina, em breve a companhia fará uma nova chamada para sete desafios que podem ser resolvidos pelas startups. Após o período de imersão, que dura cerca de dois dias, e da apresentação da startup para a alta liderança da Nestlé, começa a rodar o piloto, que leva entre três e quatro meses. Depois de testada, a solução é levada para o Demo Day e pode então ser incorporada ao negócio.
“Já temos muitos projetos em piloto ou finalizando piloto, e é por isso que nós estamos abrindo a boca do funil para colocar mais desafios para dentro. Hoje o Panela trabalha para co-criar o sistema alimentar regenerativo do futuro. Ou seja, tudo que toca o nosso negócio. Dentro do nosso portfólio tem desde o agro até embalagens, passando por supply, HRtechs. Tudo que pode trazer crescimento ou transformação de portfólio, eficiência, e principalmente ESG, cabe dentro do nosso programa”, diz a executiva.
Entre as parcerias que a Nestlé já fechou com startups está a iniciativa com a foodtech Food to Save, uma empresa que recupera alimentos que seriam descartados, como os excedentes de produção e produtos próximos à data de validade, por meio da comercialização de sacolas surpresa com desconto no valor dos produtos com foco no consumidor final.
Ao longo do período do piloto de 3 meses, a Nestlé conseguiu escoar mais de 5,5 mil sacolas surpresas, o que equivale a mais de 10 toneladas de alimentos próximos da validade. Esta solução foi incorporada ao processo atual da companhia.
Outro projeto bem-sucedido foi com a startup Yattó, que possibilitou a reciclagem de 350 toneladas de embalagens plásticas flexíveis em 2023. A meta é reciclar 1.050 toneladas do material em três anos, proporcionando uma geração de renda superior a R$ 1 milhão para 1.300 catadores, graças à valorização das embalagens flexíveis.
“A gente tinha o desafio de dar vazão para plástico flexível na cadeia de reciclagem. São plásticos de biscoito, chocolate, que não têm grande valor, então os catadores não se interessavam em pegar. A gente queria aumentar o valor disso e a Yattó nos ajuda. Começou como um piloto e já está rodando, outras empresas começaram a entrar, foi bem legal”, comemora Carolina.