Futuro

"As empresas atuais estão em perigo", diz Peter Diamandis

Segundo o cofundador da Singularity University, nova onda de inovação impulsionada pela IA trará desafios para quem lidera o mercado.

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Peter Diamandis, durante palestra no Instituto Caldeira, em Porto Alegre | Foto: Startups
Peter Diamandis, durante palestra no Instituto Caldeira, em Porto Alegre | Foto: Startups

Para quem já conhece o discurso do empresário norte-americano Peter Diamandis, sabe que ele é de otimismo com o futuro e com as inovações que ele trará. Entretanto, em meio aos avanços velozes e exponenciais prometidos pela onda da inteligência artificial, ele tem um recado – ou melhor, um aviso – para as empresas atuais. Segundo ele, a IA é uma “força que vai mudar tudo”, e tanto grandes companhias quanto as startups que transformaram o mercado na década passada podem estar em apuros.

“Elas (empresas atuais) estão em perigo. A IA é uma força de descentralização, que vai contra o modelo conhecido de crescimento. Antes, para fazer um progresso massivo, era preciso contratar muitas pessoas, ter todos os talentos dentro da sua empresa. No futuro, teremos muitas empresas pequenas entregando um grande valor, com muito mais agilidade”, dispara Peter.

Essa foi uma das provocações que o futurista e cofundador da Singularity University fez em um evento para convidados no Instituto Caldeira, em Porto Alegre. Em pouco mais de uma hora, ele falou sobre sua visão para o futuro dos negócios, mas também de como a IA vai transformar a economia como um todo e até mesmo nossa saúde e nossa vida em geral.

Na visão de Peter Diamandis, se antes a média de idade de empreendedores com negócios de sucesso estava na casa dos 30 anos, agora as ideias inovadoras estão partindo de jovens de 20 a 24 anos, que já têm acesso a ferramentas de IA e pensam “fora da caixa” para resolver problemas do dia a dia. “Eles não sabem o que não podem fazer. Esses empreendedores jovens estão dispostos a tentar ideias loucas, e empresas maiores não estão dispostas a correr esses riscos”, pontua.

Segundo o executivo, exemplos como o da startup de IA Base44, que nasceu como projeto pessoal de um único programador e foi adquirida por US$ 80 milhões pela Wix seis meses após sua fundação, serão mais frequentes. Inclusive, são essas iniciativas que estão na mira da BOLD, fundo do qual Peter é sócio e que tem cerca de US$ 250 milhões em recursos.

“Vejo uma enorme mudança pela frente, e as grandes companhias que insistirem em centralizar operações e bases de trabalho podem não sobreviver no longo prazo. Elas vão lutar contra a mudança, depois vão tentar comprar essas empresas menores e centralizar. Mas vai chegar um ponto em que isso não vai mais funcionar. Estamos mudando em uma direção que nunca vimos antes”, afirma.

Uma revolução acessível?

Para Peter Diamandis, um dos pontos principais para essa mudança nos negócios do futuro tem a ver com uma palavra: acessibilidade. Segundo ele, é admirável que tecnologias tão poderosas como os LLMs tenham custo baixo para quem usa, e a tendência é que se tornem mais poderosas e menos caras a cada ano.

“Eu acho incrível que a tecnologia mais inovadora do mundo seja praticamente grátis. É como descobrir uma ilha com um bilhão de PhDs, dispostos a trabalhar 24/7 pelo custo de energia. É isso que estamos vivendo. Temos acesso a uma inteligência inédita, como pequenos Einsteins em nossos bolsos”, diz.

Por falar em avanço exponencial da IA, Diamandis acredita que estamos mais próximos da Inteligência Artificial Geral (AGI) do que imaginamos. Para ele, a expectativa é que as inteligências sintéticas consigam igualar – ou até mesmo superar – a humana ainda nesta década, em algum ponto entre a previsão de Elon Musk, para 2026, e a de seu colega fundador da Singularity, Ray Kurzweil, que estima a chegada da AGI para 2029.

“Em 1999, Ray previu que chegaríamos a uma IA de nível humano em 2029, e as pessoas riam dele. Diziam que estava louco e que isso aconteceria em 100 anos. Eles não estão mais rindo”, alfinetou.

Copo meio cheio ou meio vazio?

Em sua palestra, Peter mostrou empolgação com o futuro da saúde. Para ele, o uso da IA na medicina poderá trazer avanços exponenciais nos tratamentos médicos dentro de 5 a 10 anos. Segundo Peter e seu colega Ray Kurzweil, até 2030 a humanidade chegará à chamada “velocidade de fuga”, em que cada ano vivido equivale a um ano de extensão de vida trazido pela ciência.

“Quando eu estava na escola de medicina, aprendi que baleias podem chegar aos 500 anos. Por que elas podem e nós não? É um problema de hardware ou software nosso. Isso é o que os engenheiros da medicina pensam também. E acredito que vamos ser capazes de resolver isso nesta década”, dispara.

Com essa ideia em mente, Peter levantou US$ 157 milhões por meio de sua X Prize Foundation, em um desafio que reuniu pesquisadores e engenheiros para resolver um problema: criar uma terapia capaz de reverter 20 anos de efeitos do envelhecimento em três áreas principais: músculos, imunidade e cognição cerebral. “Temos 630 equipes que entraram nessa competição e esperamos um vencedor em 2030”, afirma.

No fim das contas, na opinião deste que vos fala, conferir uma palestra de Peter Diamandis acaba sendo uma escolha. Ou você se empolga com o futuro utópico previsto por ele – e que gerou conceitos como o “mindset de abundância”, que alimentou uma onda de coaches que vimos por aí – ou não. Para Peter e seu otimismo, não existe melhor momento para estar vivo.

“O mundo em que vivemos, o que estamos criando, é um mundo de abundância extraordinária. Temos uma convergência de tecnologias que vão transformar os serviços e produtos que criamos. Essas forças vão reinventar toda a indústria na Terra”, destacou Peter, enquanto lutava com o clicker para passar os slides – não existe tecnologia infalível, não é mesmo?