Nos últimos dias, nas rodas de conversa sobre tecnologia, dificilmente se falou sobre outra coisa: o movimento da Meta para “aproveitar” a ideia do Twitter e criar sua rede de microblog, chamada Threads. Neste tempo teve de tudo: gente criticando a falta de vergonha de Mark Zuckerberg, outros elogiando o talento do fundador da Meta para atrair usuários, chegando a mais de 10 milhões de usuários em poucos dias, e gente apenas curtindo a treta.
Entretanto, copiar ideias alheias na cara dura não é algo novo no mundo tech. Desde fundadores oportunistas que criaram produtos iguais a outros para fazer acordos até os que partiram para esta estratégia para bater de frente com rivais, os casos estão por aí – e em alguns deles, os que chegaram depois conseguiram se dar bem.
Até mesmo o lendário Steve Jobs – que ironicamente processou várias empresas por supostamente copiar ou roubar sua propriedade intelectual – disse uma vez: “Picasso tinha um ditado – ‘bons artistas copiam; grandes artistas roubam ‘- e sempre fomos desavergonhados em roubar grandes ideias.
Por isso, separamos 4 casos em que empresas fizeram cópias praticamente iguais de seus competidores, e obtiveram sucesso na sua estratégia.
1 – Apple e Xerox
Essa remete aos anos 70, ainda no começo da ascensão do Vale do Silício. Em 1979, a Apple era um dos nomes mais promissores da região, e estava prestes a fazer seu IPO. Por outro lado, a marca que estava na “crista da onda” no assunto inovação era (acredite) a Xerox, que liderava o Palo Alto Research Company (PARC), laboratório onde as mentes mais brilhantes do Vale iam para desenvolver suas ideias disruptivas.
Em troca de US$ 1 milhão em ações pré-IPO da Apple, a Xerox convidou Jobs e alguns dos engenheiros da Apple para visitar as instalações e dar uma conferida no que estava sendo feito por lá. Mal sabia a Xerox da má ideia que isso foi.
Jobs e sua equipe viram uma interface gráfica do usuário muito mais avançada do que qualquer coisa produzida pela Apple. Para não ficar para trás, a maçã replicou a interface e a incorporou em seu lançamento da época – o Macintosh, que se tornou um sucesso de vendas e levou a Apple a um novo patamar no mercado.
O movimento de Picasso feito por Jobs simplesmente obliterou os planos da Xerox de crescer no segmento de PCs – e a companhia chegou a processar a Apple pelo atrevimento, pedindo US$ 150 milhões em danos. Entretanto, ao não conseguir comprovar efetivamente e cópia em corte, o caso foi arquivado. Jobs, gênio ou aproveitador?
2 – eBay e Alando
Na virada do milênio, o eBay já era um gigante da internet, criando um nicho totalmente novo ao desenvolver um marketplace online para a venda de produto. De olho nessa inovação, entram os irmãos Marc, Alexander e Oliver Samwer, renomados “reis da clonagem” no ramo tech, e tiveram algumas tacadas bem sucedidas nessa estratégia um tanto sem vegonha.
Em 1998, depois de passar uma temporada em San Francisco, Marc Samwer conheceu o eBay e viu como várias pessoas estavam começando a usar o site. Ele enxergou uma oportunidade de replicar o modelo em seu país natal (Alemanha) e mandou um email para o eBay para lançar a plataforma em terras germânicas.
Passaram-se meses e nenhuma resposta veio, mas isso não deteve os Samwers. Em 1999, Marc e seus irmãos decidiram construir e lançar um clone do eBay, chamado Alando – que nada mais era do uma versão do eBay em alemão. A estratégia deu mais do que certo: menos de 3 meses depois, o eBay comprou o clone por US$ 43 milhões.
Caso vocês estejam se perguntando: sim, os Samwers são os cofundadores e donos da Rocket Internet, um dos fundos mais conceituados do mercado. 25% dos unicórnios europeus, avaliados em mais de US$ 1 bilhão, são empresas Rocket.
O que nem todo mundo sabe é que, para chegar na fortuna que eles têm hoje, teve um tanto de malandragem.
3 – Groupon e CityDeal
Quando eu disse que os Samwers receberam o título de reis da clonagem, eu não estava brincando, tanto que eles tiveram sucesso mais vezes em seu, digamos, “modelo de negócio”. Em 2009, no auge do boom das compras coletivas (alguém ainda lembra disso?), a Rocket Internet investiu em uma cópia do Groupon chamada CityDeal.
Neste caso, comparado com os 3 meses do Alando, o retorno demorou um pouco para aparecer. Os irmãos esperaram até maio de 2010 para ver a CityDeal ser adquirida pelo Groupon, em um negócio de aproximadamente US$ 170 milhões.
Os Samwers fizeram um negócio de copiar outras empresas em sua “fábrica de clones”. Outras empresas incluem BillPay (PayPal), eDarling (eHarmony), StudiVZ (Facebook) e Pinspire (Pinterest).
4 – Snapchat e Instagram
Vocês sabiam que a lista ia terminar com essa. Para muitos, a decisão da Meta em “surrupiar” a ideia do Twitter na criação do Threads não foi nenhuma surpresa em termos “éticos”, já que Mark Zuckerberg já tinha feito uma manobra semelhante lá em 2016, quando o Instagram estava sofrendo com o crescimento de um novo app social chamado Snapchat.
Em 2013, ele chegou a fazer uma oferta de US$ 3 bilhões para comprar o Snapchat, mas foi rejeitada. Talvez essa rejeição tenha levado sua equipe a lançar uma cópia carbono do Snapchat Stories – inclusive utilizando o mesmo nome: os Stories que todo mundo conhece e usa.
O Instagram inclusive admitiu que estava copiando a ideia, com o CEO Kevin Systrom afirmando que o crédito para a ideia do Instagram Stories era creditado totalmente ao Snapchat.
Apesar do reconhecimento, o Instagram atropelou o Snapchat sem dó, e em 8 meses os Stories ultrapassaram o número diário de usuários do Snapchat. Outros 250 milhões de usuários foram adicionados no primeiro ano do Instagram Stories, enquanto o preço das ações do Snapchat sofreu um grande golpe.
Até hoje, a decisão do Instagram é lembrada como uma manobra tanto brutal quanto brilhante, dividindo opiniões sobre quais são os limites para a competição no mercado. Entretanto, se a história é contada pelos vencedores, hoje a gente sabe bem que saiu por cima. Será que o mesmo vai acontecer com o Twitter? Esperemos os próximos capítulos.