A DrumWave, startup fundada pelo brasileiro André Vellozo no Vale do Silício, tem uma missão ambiciosa: iniciar um movimento virtuoso com usuários e empresas, a partir da gestão, copropriedade e monetização dos dados. Para dar o primeiro passo dessa campanha aqui no Brasil, a companhia está lançando esta semana a sua dWallet.
Tá, mas afinal de contas, o que é uma dWallet? Segundo destaca a empresa, o nome é autoexplicativo, pois se trata de uma carteira digital onde consumidores podem armazenar “contratos digitais” em que eles e empresas que possuem seus dados atestam a propriedade sobre essas informações.
“Com a dWallet, nossa primeira ideia é trazer os usuários e sua propriedade sobre os dados, colocando-os em uma equação de mercado onde poucos extraem valor dessas informações”, afirma Patrick Hruby, COO da DrumWave. Caso o nome te pareça familiar, é porque ele é. Patrick é um veterano do mercado tech, com passagens por empresas que cresceram baseadas na economia dos dados (Facebook), e foi também CEO da Movile.
Agora, como um dos executivos à frente da DrumWave, Patrick tem o desafio de criar um ecossistema futuro onde todos os dados tenham proprietários e, a partir disso, construir um grande “balcão de negociações” desses dados, em que tanto consumidores quanto empresas possam licenciar suas informações e ganhar dinheiro com isso, com segurança e transparência no uso dos dados.
“Em empresas como o Google, os dados são receita. Eles processam os dados como seu core de negócio. Ao mesmo tempo, existem milhares de empresas que processam dados para o negócio e não como parte de seu negócio, e isso gera uma diferença de trilhões de dólares. E com a IA, que se alimenta de dados, isso só vai aumentar”, dispara Patrick.
Para o fundador e CEO André Vellozo, a campanha (cujo nome é “Se é meu, eu quero”, é colocar a soberania digital na mão do cidadão. “A nova economia de dados é diferente. Nela as pessoas deixam de ser o produto, escolhem, autorizam e ganham quando seus dados são usados. Nada mais justo”, afirma o executivo, em nota.
Primeiros passos
Com um plano ambicioso como esse para o tratamento dos dados, a DrumWave reconhece que não é algo que acontece da noite para o dia. Por isso, o plano da companhia no momento é convidar usuários a criarem suas dWallets. A empresa colocou no ar nesta quarta (15) o website que já permite a criação das carteiras e também convida consumidores a chamarem empresas a entrarem nesse “movimento”.
De acordo com o executivo da DrumWave, inicialmente, 40 empresas – de setores variados, que vão de saúde a finanças e food service – foram pré-selecionadas para que os consumidores digam se compartilharam ou não seus dados com elas em algum momento. A partir disso, essas empresas serão convidadas a aceitar essa “copropriedade de dados”, criando os primeiros contratos que irão para as dWallets dos consumidores.
A expectativa do COO é de que, a partir de novembro, as primeiras empresas entrem na plataforma da DrumWave, criando suas “dWallets corporativas” e, a partir de 2026, consumidores já comecem a ver os primeiros retornos. Segundo Patrick, essas vantagens podem começar como benefícios ou descontos para quem compartilhar seus dados com empresas via dWallet, mas o objetivo futuro é que esse mercado de dados coloque dinheiro real no bolso dos usuários.
“Estamos falando de um mercado de trilhões, então a estimativa, no longo prazo, é chegar a gerar para os usuários cerca de R$ 500 mensais em ganhos com seus dados”, afirma Patrick. Perguntado sobre os percentuais que a DrumWave quer tirar em cima desse “balcão de negociação” de dados, o COO não entrou em detalhes, mas garantiu que a maior fatia dos licenciamentos irá para os consumidores.
“Espero que nosso movimento tenha uma adoção rápida como o Pix, que em dois ou três anos tenhamos uma realidade em que consumidores não consigam mais pensar na gestão de seus dados sem usar sua dWallet”, completa Patrick.
Um empurrão amigo
Para reforçar seu plano de criar um ecossistema de dados, a DrumWave tem na manga um parceiro de peso: o governo federal. Em abril deste ano, a empresa anunciou com a Dataprev um projeto que permitirá aos cidadãos brasileiros compartilhar e monetizar dados pessoais, utilizando como base a tecnologia da dWallet.
“A Dataprev é, com certeza, um aliado nesse movimento”, comenta Patrick. No projeto, brasileiros com contratos de empréstimo consignado, e cujos dados passam pela estrutura da Dataprev, serão consultados para autorizar a compilação e venda das informações referentes a essas operações.
Na época do lançamento, feito no Web Summit Rio, o presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, afirmou que a escolha pelos contratos de consignado é estratégica para o piloto, pois são uma fonte rica de informações e já possuem os mecanismos para serem tratados e compartilhados, dentro do que prevê o open finance.
Segundo o executivo, atualmente a Dataprev intermedia mais de 60 milhões de contratos de empréstimo consignado – dados que podem interessar a diversos players do mercado, de seguradoras a outras fintechs. “O piloto é uma forma de preparar o terreno para um futuro regulado, onde a monetização dos dados possa ser feita de maneira estruturada”, destacou Rodrigo, na ocasião.
Apesar do anúncio, o projeto com a Dataprev ainda não iniciou oficialmente, mas a expectativa é que, com o lançamento da dWallet no Brasil, sediada em uma infraestrutura local da DrumWave no país, as coisas comecem a andar rápido nos próximos meses.