Inovação

Espírito Santo fortalece ecossistema com foco em negócios de impacto

Com políticas públicas e apoio financeiro, estado busca atrair startups e consolidar-se como polo de inovação

Sustentabilidade
Sustentabilidade (Foto: Canva)

O Espírito Santo tem se destacado como um promissor polo de inovação e tecnologia no Brasil, com foco especial em negócios de impacto e desenvolvimento sustentável. Esse movimento é impulsionado pela união entre mercado, governo e universidades, que trabalham juntos para criar um ecossistema que facilite o avanço de novos negócios e gere crescimento para toda a região.

O projeto ganhou força há pouco mais de 1 ano, quando o Governo do Espírito Santo reestruturou a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA), frente ao desafio de endereçar as mudanças climáticas e encontrar soluções para mitigar seus impactos econômicos e socioambientais. Como resultado, a pasta criou novas subsecretarias, entre elas, a de Fomento de Negócios Sustentáveis e Investimentos de Impacto (SUBFNS), com o intuito de integrar a conservação e preservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico.

“Todo negócio de impacto parte da inovação”, afirma Eizen Wanderley, subsecretária da SUBFNS. “Isso porque ter um negócio de impacto envolve repensar os processos, produtos, modelos, caminhos e as jornadas econômicas de consumo e de investimento”, destaca.

Segundo Eizen, embora o Espírito Santo possua infraestrutura estratégica e recursos voltados para o apoio a negócios de impacto, um dos principais desafios enfrentados pelo ecossistema local é o letramento dos próprios empreendedores, uma vez que muitas empresas e startups capixabas ainda não se reconhecem como negócios de impacto ou desconhecem os fundos e programas disponíveis para impulsioná-los. 

“Percebemos que muitos negócios de impacto  – projetos relacionados à gestão de resíduos, economia circular, às mudanças climáticas, entre outros – não se enxergavam como tais. Então há um grande trabalho em relação à construção da identidade dessas empresas”, explica Eizen. O fato dessas iniciativas ainda não se enxergarem como parte do ecossistema, limita sua visibilidade e capacidade de acessar os incentivos e fundos existentes.

Para mudar essa realidade, o governo tem trabalhado na construção de uma narrativa mais clara sobre o papel dos negócios de impacto no desenvolvimento socioeconômico do estado. “O grande desafio, e também a maior oportunidade, é projetar o estado, falar mais do que estamos fazendo e colocar o ES no nosso lugar de direito, mostrando tudo o que já vem sendo feito e das oportunidades que temos para alavancar a região”, diz Eizen. A subsecretaria está promovendo ações para conectar os empreendedores locais a recursos e parcerias estratégicas, fortalecendo a identidade do ecossistema capixaba e posicionando-o como um núcleo inovador e alinhado às novas tendências globais de sustentabilidade.

Políticas públicas

Uma das principais estratégias do governo capixaba para fomentar o ecossistema de inovação tem sido criar um ambiente regulatório e de apoio financeiro para negócios de impacto. “Temos uma lei que coloca mais de 10 fundos públicos disponíveis para empresas de impacto, como os fundos de educação, primeira infância, infraestrutura e do meio ambiente. A própria legislação estadual, com a Lei 1027/2022, já estabelece diretrizes para que esses recursos possam ser direcionados a negócios que contribuam para o desenvolvimento sustentável e a inovação”, afirma Eizen.

Além desses fundos, o estado conta com um Fundo Soberano, o FUNSES1. Criado em 2019 com base nos recursos oriundos da exploração de petróleo, o FUNSES visa buscar a atração de novos negócios, gerando emprego e renda para a população local. O veículo de investimentos tem um total de R$ 250 milhões para apoiar startups de diversos portes, segmentos e áreas de atuação, com cheques em torno de R$ 500 mil cada.

A iniciativa é oferecida em conjunto pelo Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), o Governo do Estado, a ACE Ventures e a Quartzo Capital, oferecendo os recursos, o conhecimento e o suporte necessários para que as empresas possam crescer, acelerando a inserção do Espírito Santo no mapa nacional de inovação e atraindo investidores. O portfólio do FUNSES1 já inclui startups como naPorta, Frota 162, Conducco, Twiggy, Multifidelidade, Persora, Kuke.

Eizen acrescenta que o ES foi o segundo Estado do país a criar um comitê estadual de negócios de impacto, atrás apenas do Rio Grande do Norte. 

Criando pontes

A região tem trabalhado para criar ambientes propícios para a inovação, como os hubs ES+ e o Ilhahub. O Hub ES+ é um espaço colaborativo voltado para o desenvolvimento de novas economias, enquanto o Ilhahub é uma iniciativa com foco na Economia Azul explora o potencial da economia marítima e seus desdobramentos sustentáveis, considerando a localização geográfica estratégica do estado. 

Além disso, o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) lançou a Cidade da Inovação, que tem como foco soluções transformadoras com a sociedade para o desenvolvimento humano, econômico e sustentável. A região ainda conta com players como o Das Pretas, laboratório de inovação e tecnologia social 100% afrocentrado, e o Base 27, hub de inovação que promove conexão e aprendizagem colaborativa para incentivar o desenvolvimento do ecossistema e da economia.

Esses espaços colaborativos permitem a integração de startups, empresas e instituições de ensino em projetos que conectam sustentabilidade e desenvolvimento econômico. Eles também abrem novas oportunidades para que negócios tradicionais e emergentes possam experimentar, prototipar e escalar soluções inovadoras, com o apoio de uma infraestrutura robusta e de políticas públicas direcionadas.

“Mais do que um movimento, existe uma intencionalidade, a partir de uma governança colaborativa entre governo, iniciativa privada, o terceiro setor e a academia. Está todo mundo convergindo para pensar soluções. Inicialmente, vamos olhar localmente e atrair tecnologias para empoderar o nosso território e, depois, conseguir exportar essas metodologias para outras regiões”, afirma Priscila Gama, gerente de desenvolvimento de negócios sustentáveis do Governo do Estado do Espírito Santo.

Priscila Gama, gerente de desenvolvimento de negócios sustentáveis do Governo do Estado do Espírito Santo, e Eizen Wanderley, subsecretária da SUBFNS
Priscila Gama, gerente de desenvolvimento de negócios sustentáveis do Governo do Estado do Espírito Santo, e Eizen Wanderley, subsecretária da SUBFNS (Foto: Divulgação)

Abrindo portas

O Espírito Santo é o segundo Estado mais industrializado do país, com a indústria representando cerca de 38,3% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, de acordo com dados do IBGE compilados pelo Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). “Um dos maiores desafios em termos de emissão de carbono está na indústria, seguido pelo setor de energia e transporte. Por outro lado, já conseguimos reduzir bastante a questão do desmatamento e melhorar a gestão dos resíduos”, afirma Priscila.

Para dar continuidade a esse trabalho, o ES estruturou um Plano de Descarbonização com metas e estratégias para neutralizar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) até 2050 e alcançar a resiliência climática. “Tem um apetite pelo desenvolvimento sustentável, o que gera ainda mais demanda por novas tecnologias e soluções cada vez mais sustentáveis e de impacto positivo”, destaca Priscila.

Por isso, a região tem uma visão estratégica com as chamadas climate techs, startups que desenvolvem soluções tecnológicas para mitigar efeitos das mudanças climáticas, reduzir emissões de gases de efeito estufa e promover práticas sustentáveis em diferentes setores da economia. Recentemente, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do ES uniu-se ao Findeslab, Bandes e Eletrobrás, com apoio de DeloitteABStartups, i2i Institute FEA Angels, para promover o ClimatechES, evento que reuniu climate techs de todo o Brasil para apresentar as oportunidades e diretrizes que o Espírito Santo já oferece a essas empresas.

“Reunir tantos atores do ecossistema para atrair negócios é uma grande conquista”, avalia Priscila. A expectativa é que, a partir do evento, novas parcerias sejam consolidadas e potenciais parceiros de negócios se aproximem, ampliando a presença do Espírito Santo no cenário de inovação brasileiro. “Com este primeiro evento em São Paulo, conseguiremos criar caravanas para o Espírito Santo. Vamos quebrar barreiras, abrir mais espaço para as instituições e fortalecer o ecossistema local, incentivando as pessoas a conhecerem melhor o que estamos fazendo”, conclui.