Inovação

Google for Startups mira em IA no trabalho com empresas de tecnologia

Lançada no Brasil em 2016, iniciativa apoia e ajuda startups a crescerem por meio de recursos, produtos, boas práticas e conexões

André Barrence, diretor do Google for Startups para a América Latina
Foto: Divulgação

Acompanhando o movimento das gigantes de tecnologia em todo o mundo, o Google for Startups está direcionando seus esforços para investir e desenvolver soluções de inteligência artificial e sair na frente nesta corrida. Lançada no Brasil em 2016, a iniciativa visa dar suporte a startups e ajudá-las a crescer por meio de recursos, produtos, boas práticas e conexões.

“Inteligência artificial é um tema que veio para ficar, e dificilmente haverá um retrocesso ao ponto desta tecnologia não ocupar um espaço importante na agenda dos fundadores de startups em todo o mundo”, afirma André Barrence, diretor do Google for Startups para a América Latina, em conversa com o Startups. “Nossa perspectiva é que IA continue a ocupar muito do que é o nosso trabalho, mas sem deixar uma parte importante focada no que já vínhamos construindo e consolidando ao longo dos anos. É um tema que está impactando todos os estágios, e nosso foco é ajudar as empresas a navegar neste contexto ao longo de 2023 e 2024.

No Brasil, o investimento em startups do Google é feito pelo Black Founders Fund, criado para fomentar startups fundadas ou lideradas por pessoas negras. Com fundo de R$ 16 milhões, a iniciativa já apoiou 56 empresas de diferentes regiões do país desde o seu lançamento, em setembro de 2020. A turma mais recente foi anunciada há cerca de 1 mês, com 13 startups que receberão, além dos aportes, créditos em produtos do Google, workshops e mentorias para solucionar seus principais desafios de negócios e tecnologia.

“Uma parcela considerável dessas empresas já tem ou está em vias de construir produtos que tenham a inteligência artificial como fundamento”, diz André. Segundo o executivo, o foco no trabalho com empreendedores e lideranças negras irá continuar nos próximos meses. “É essencial ter intenção e consistência, e esse é um trabalho que demanda esforços contínuos para colhermos resultados que são de fato bastante promissores.

Ele antecipa novos investimentos neste segundo semestre, com a expectativa de que a inteligência artificial siga tendo um papel importante no portfólio de empresas investidas. “O Google, assim como todo o mercado de tecnologia, enxerga o Brasil como um mercado muito importante. Estamos constantemente em conversa com fundadores, fundos e investidores-anjo, conectando esses agentes para criar janelas de oportunidades e continuar dando destaque para os bons empreendedores que temos no país”, pontua. 

Janelas de oportunidades

O Black Founders Fund realiza aportes minoritários nas startups, sem contrapartida ou participação societária, buscando uma relação de médio e longo prazo com potenciais parceiros de negócio. Em alguns casos, o Google se torna cliente das startups investidas, utilizando produtos desenvolvidos por elas para solucionar questões internas e potencializar o seu crescimento.

Segundo André, muitas vezes as próprias empresas passam a adotar ferramentas do Google para escalarem. “Não há nenhuma cláusula que obrigue a startup a utilizar produtos Google. Mas é de nosso interesse que elas vejam que nossos produtos são os melhores do mercado e migrem suas operações para nossas plataformas por trazerem fortes benefícios”, diz.

Para o Google, o feedback dessas empresas é parte fundamental para o desenvolvimento de novas tecnologias. “As startups são grandes desbravadores das novas tecnologias. Então, para nós é interessante que elas utilizem nossas ferramentas e deem feedbacks para que a gente aprenda com quem utiliza muito bem a tecnologia”, explica.

Construindo o futuro

O objetivo é não apenas pensar em agendas atuais, mas também olhar para temas portadores de futuro. Além da IA, ele cita questões de formação de talentos de tecnologia. De acordo com o Panorama de Talentos em Tecnologia, desenvolver um mercado de trabalho tecnológico maduro no Brasil esbarra, majoritariamente, no desafio do acesso à educação. Cerca de 55% dos potenciais talentos dizem que há poucas condições para estudar tecnologia no país e 78% das startups afirmam que existe um grande afastamento entre os jovens brasileiros e as bases de conhecimento para o setor.

“Se a gente quer que o ecossistema brasileiro esteja bem posicionado e continue a crescer, não basta ter a volta dos investimentos e casos de sucesso; também é necessário discutir temas relacionados à regulação de IA no país, e pensar na colaboração entre políticas públicas e privadas para endereçar desafios como o da lacuna de talentos. Nosso papel como aceleradores do ecossistema é trazer essas provocações, e vamos continuar fazendo isso ao longo dos próximos anos”, explica.

O executivo enxerga este como um momento bastante oportuno para empreendedores de startup. Ele conta que, em 2022, uma pesquisa do Google for Startups mostrou que o mercado de IA era de difícil compreensão para os clientes B2B, que ainda não entendiam os benefícios dessa tecnologia. “Esse obstáculo diminuiu muito, e hoje não há C-level que não tenha como prioridade pensar como a IA vai ajudá-lo a defender ou ganhar posição de mercado. É uma oportunidade para que boas startups ganhem ainda mais terreno e tração vendendo suas soluções de IA, e o Google tem total disposição para ajudá-las a construir os melhores produtos”, pontua.

Como prioridades, André fala em tornar essas tecnologias cada vez mais disponíveis e acessíveis aos empreendedores e especialistas que ajudarão a companhia a tomar as melhores decisões técnicas. Recentemente, o Google assumiu um compromisso com o avanço da inteligência artificial ousada e responsável, o que André acredita ser um diferencial importante para empreendedores do setor. “Queremos plantar a semente de que a IA deve ser construída com responsabilidade, o que será um diferencial enorme para empreendedores construírem produtos do zero que podem ter um impacto tão grande”, conclui.