Paula Bellizia, VP Latam da AWS | Foto: Divulgação
Paula Bellizia, VP Latam da AWS | Foto: Divulgação

A América Latina é um mercado estratégico para a AWS, mas a região ainda apresenta desafios na adoção de inteligência artificial avançada – ou seja, no uso de IA para de fato transformar processos dentro das companhias. Embora a tecnologia tenha potencial de ajudar as empresas latino-americanas a se tornarem mais competitivas globalmente, perder o bonde dessa evolução pode fazer com que essa chance seja desperdiçada.

“Na América Latina, nós achamos que temos mais tempo do que realmente temos. Se as empresas não fizerem seus times entenderem o que IA representa para o negócio, isso pode acontecer quando for tarde demais e a competitividade foi perdida”, disse Paula Bellizia, vice-presidente da AWS para América Latina, durante o re:Invent 2025.

A executiva destacou que a IA traz aumentos significativos de produtividade e permite que as empresas façam mais com menos, o que representa uma oportunidade principalmente para regiões que possuem menos recursos. O objetivo, segundo ela, é ajudar a elevar a América Latina ao nível de polo global de inovação em IA – tornando isso possível em termos de custos, velocidade e capacidade de acompanhar as mudanças nesse mercado.

“Queremos que as empresas da América Latina possam usar a IA para desenvolver tecnologia e não apenas consumir tecnologia”, disse Paula, citado como exemplos como o Latam-GPT, modelo de linguagem criado pela CENIA (Centro Nacional de Inteligência Artificial do Chile), em parceria com Data Observatory e a AWS.

A América Latina é a terceira região mais ativa em termos de download de apps de IA Generativa, e tem reportado ganhos de produtividade com o uso de IA – 96% no Brasil, 95% no Chile e 88% no México. No entanto, quando se trata do uso avançado dessa tecnologia nos negócios, a região fica atrás de outros países.

No Brasil, apenas 12% das empresas disseram ter adotado a IA de forma avançada, enquanto no Chile são 13% e no México apenas 3%. Na Europa, esse uso avançado é feito em 23% das empresas, enquanto na Austrália é de 24%, e no Canadá, 15%.

Inovação não é mais coisa só de startup

Atualmente, os investimentos da AWS na região se concentram no Brasil (US$ 1,8 bilhão de 2024 a 2034), México (US$ 5 bilhões de 2024 a 2039) e Chile (US$ 4 bilhões de 2025 a 2040). Segundo Paula, cada vez que a big tech anuncia investimentos em uma região, isso movimenta todo o ecossistema de inovação, incluindo capacitação de profissionais para atuar em mercados como nuvem e IA.

No Brasil, especificamente, a AWS calcula um impacto de US$ 4,8 bilhões na economia, com reflexos em inovação, mercado de trabalho, compromissos de energia renovável, treinamento profissional, entre outros.

Cléber Morais, diretor geral da AWS Brasil, ressaltou que o país vem ganhando reconhecimento mundial em inovação, especialmente no segmento financeiro, com o Pix. “Antigamente, Itaú vinha em eventos como este e perguntava para o JP Morgan o que ele estava fazendo em tecnologia. Hoje, é o JP Morgan que pergunta para o Itaú”, contou.

A entrada das grandes corporações na corrida por inovação, inclusive, foi destacada como um sinal de maturidade do mercado brasileiro, onde a inovação deixou de ser um assunto apenas do time de tecnologia, para se tornar uma estratégia de negócio.

“Se no passado era startup que tinha tecnologia como diferencial competitivo, hoje são as grandes corporações”, disse ele.

Luís Liguori, head de arquitetura da AWS Brasil, acrescentou que enquanto 40% das empresas ouvidas pela AWS para um estudo afirmaram estar adotando IA, quando se trata de grandes corporações, a participação sobe para 60%.

Entre os desafios para a adoção de IA por parte das empresas, quando se trata de um uso avançado da tecnologia, estão questões que vão desde dificuldade de encontrar profissionais qualificados no mercado, até cultura das empresas. Embora 95% das companhias no Brasil tenham reportado crescimento de receita após a adoção de IA, o retorno sobre investimento (ROI) ainda parece ser uma questão para as companhias.

“Facilitar construção de agentes é sobre produtividade, mas acima de tudo é sobre criar aquilo que a gente ainda não criou. É sobre criatividade. Por isso a gente acredita tanto que o ROI ainda vai aparecer”, apontou Fernanda Spinardi, Líder de gestões de soluções para clientes para AWS Brasil.

Luís Liguori, head de arquitetura da AWS Brasil, pontuou que “existe ROI nos casos certos”, ressaltando que IA é também uma aposta de longo prazo.

“Todos os clientes que aceleraram investiram em dados no passado, por exemplo. Existe um lado cultural de longo prazo, de cultura da experimentação, como o caso do Itaú. Para conseguir fazer coisa nova, vai ter que errar. O primeiro ano é sempre de descoberta”, disse.