
Depois da onda dos chatbots, uma nova tendência começa a dominar os bancos: agentes de inteligência artificial. Diferente dos bots tradicionais, eles funcionam quase como “funcionários humanos”, sendo capazes de entender o contexto das conversas, tomar decisões e executar tarefas. A corrida para adotar essa tecnologia e não “ficar para trás” na concorrência é intensa, mas vem acompanhada de cautela — especialmente dentro do cenário bancário, em que segurança e confiabilidade não são opcionais.
E é justamente nesse ponto que entra a Jabuti AGI, startup especializada na criação de agentes digitais autônomos, com memória estruturada, hiperpersonalizados e preparados para operar dentro das regras de cada organização. A mais nova parceria da startup é com o banco BV, que resolveu apostar na tecnologia para implementar agentes de IA em seus canais de atendimento, começando pelo WhatsApp. O resultado foi positivo e, logo de cara, trouxe uma redução de até 73% das “rechamadas” (contatos recorrentes sobre o mesmo tema em até 30 dias).
Segundo Gabriel Lima, Superintendente de Tecnologia do banco BV, na prática, essa porcentagem significa um atendimento mais eficiente e completo já no primeiro contato. “As pessoas conseguem resolver seus problemas de forma muito mais eficiente e não voltam a nos procurar por outros canais”, disse em entrevista ao Startups.
O executivo também explicou que o foco da parceria com a Jabuti está justamente em uma frente que, segundo ele, exige precisão, agilidade e autonomia para realmente fazer diferença na operação. Isso porque, enquanto outras soluções internas de IA do banco são destinadas a finalidades distintas, os agentes da Jabuti AGI atuam como protagonistas no contato diário com o usuário.
Hoje, esses robôs são responsáveis funções práticas no pós-venda veicular, como enviar cópia de boleto, emitir uma segunda via ou disponibilizar rapidamente um contrato. “A diferença entre um assistente e um agente é que o assistente só dá informação, enquanto o agente faz alguma coisa. O que a gente tem com a Jabuti é um agente, já que ele faz ações específicas relacionadas ao contexto onde ele está”, esclarece.
Por segurança, IA possui acesso limitado
Ainda falando sobre contexto, Gabriel expôs que a segurança e a precisão das respostas são prioridades dentro do BV — e que isso começa pela limitação intencional do acesso da IA. Ou seja, os agentes só operam com as informações estritamente necessárias para cada jornada: se o atendimento é sobre financiamento veicular, eles só enxergam esse universo; se é sobre seguros ou cartões, apenas aquele conjunto de dados está disponível.
Além disso, toda interação passa por filtros de segurança construídos junto com a equipe da Jabuti AGI, tanto na entrada quanto na saída das mensagens, garantindo que qualquer resposta fora das regras internas seja automaticamente substituída por uma versão segura. Ainda visando evitar falhas, o sistema também é monitorado em tempo real por ferramentas automatizadas e por equipes humanas, já que o conteúdo precisa acompanhar a evolução constante do produto.
Quando a IA lembra de você
Além de todas as questões de segurança, outro ponto que levou o banco BV a adotar a tecnologia da Jabuti AGI foi a capacidade dos agentes digitais da empresa de trabalhar com memória estruturada. Diferentemente de outras soluções já disponíveis no mercado, os agentes da Jabuti conseguem aprender com cada interação, reconhecendo informações mencionadas pelo próprio cliente.
De acordo com Cecílio Cosac Fraguas, fundador e CEO da Jabuti AGI, isso acaba trazendo um toque de “humanidade”, mesmo que o atendimento seja feito por um robô. “Uma cliente pediu um boleto e mencionou que estava no hospital com a filha. O agente guardou essa informação e, algum tempo depois, retomou o assunto: enviou o boleto e perguntou se estava tudo bem”, exemplifica.
A engenharia por trás da Jabuti
Em 2023, a Jabuti AGI nasceu oficialmente, mas sua história começou anos antes, quando Cecílio, que é mestre em Computação Distribuída e Engenharia da Computação pela Universidade Estadual de Campinas, ainda trabalhava no Itaú e, por hobby, criou um drone autônomo equipado com IA para segurança rural. A repercussão inesperada do protótipo, apresentado ainda “na pessoa física” na Agrishow de 2019, fez o executivo perceber que queria voltar às raízes de engenheiro e empreender.
Depois de viagens a Israel e anos estudando inteligência artificial, ele concluiu que o futuro não estava no hardware, mas no software inteligente capaz de acionar sistemas reais. Foi assim que, ao lado dos cofundadores Thales Araújo e Gabriel Bellon, decidiu transformar aquele conhecimento acumulado em uma plataforma robusta, pensada desde o início para atender aos padrões de segurança e escala exigidos por grandes instituições.
Sem investimento externo e apostando capital próprio, o trio construiu a base tecnológica da Jabuti com um único objetivo: criar agentes digitais realmente úteis, capazes de acessar dados atualizados, operar sistemas internos e manter conversas naturais com pessoas — tudo isso dentro de uma arquitetura “de banco”, que aguenta milhares de transações por segundo e atende rigorosamente aos requisitos de compliance.
A operação começou de fato em janeiro de 2024 e, desde então, a empresa tem se destacado por adotar uma abordagem pouco comum no setor: crescer devagar, com solidez, priorizando segurança, personalização e capacidade técnica em vez de hype.