Ricardo Buffon, country manager da Databricks no Brasil | Foto: divulgação
Ricardo Buffon, country manager da Databricks no Brasil | Foto: divulgação

No hype da inteligência artificial dos últimos anos, poucas empresas surfaram uma onda de valorização como a da Databricks. Em cerca de um ano, a multinacional de soluções B2B para dados e IA saltou de uma série J de US$ 10 bilhões, em dezembro do ano passado, para uma série L de US$ 4 bilhões, fechada esta semana. E, com essa injeção no caixa, a empresa tem planos arrojados para o Brasil a partir de 2026.

Segundo Ricardo Buffon, que assumiu em agosto o posto de country manager da Databricks, a companhia está reforçando sua estrutura para um ciclo inédito de crescimento desde que chegou ao país, em 2020. “Crescemos mais de 150% no mercado brasileiro nos últimos dois anos”, afirma, sem abrir números de metas para 2026. Questionado pela reportagem, no entanto, o executivo diz que a expectativa é manter esse ritmo.

Com a operação global embalada por seguidas injeções de capital, o que se vê é que há, sim, dinheiro chegando à operação brasileira. Em 2025, a companhia inaugurou, em julho, uma nova sede na Avenida Faria Lima, três vezes maior que o escritório anterior e que rapidamente vem sendo ocupada. “Devemos fechar o ano com 200 pessoas na operação local e, para o ano que vem, queremos aumentar esse número entre 15% e 20%”, revela.

Além disso, segundo destaca o executivo, a estratégia para expandir no país passa por um foco maior em verticais específicas. Na mira estão segmentos como empresas digital natives, varejo, manufatura, finanças, healthcare, setor público e telecoms. “Em algumas dessas frentes já temos clientes de peso, como Bradesco, B3, iFood, Nubank, PicPay, entre outros”, completa.

Para ampliar esse alcance, a companhia também deve aumentar sua aposta em um ecossistema de parceiros de consultoria e implementação. Segundo Ricardo, atualmente a Databricks já conta com mais de 300 empresas em sua rede, atuando de forma conjunta em integrações e geração de demanda para o time da companhia em São Paulo.

Aliás, dentro dessa visão de canais, a Databricks fez seu primeiro investimento externo na América Latina neste ano. Em setembro, o braço de venture capital da empresa, a Databricks Ventures, aportou um valor não divulgado na Indicium, integradora catarinense que já trabalhou com a multinacional em projetos dentro e fora do Brasil. “É um de nossos principais parceiros, e o investimento mostra nosso comprometimento com a visão de ecossistema para o país”, frisa.

Adoção madura

Dos 20 mil clientes que a Databricks tem no mundo, cerca de 1 mil estão na América Latina — com Brasil e México puxando a frente. De acordo com o country manager, o crescimento na região tem acompanhado o avanço da maturidade das organizações na adoção de IA e de uma cultura orientada por dados.

“A gente vê crescimento no número de clientes e também na quantidade de casos de uso dentro de cada cliente. Uma parte importante do nosso trabalho tem sido ajudar os clientes a entenderem em que ponto estão e como podem evoluir até se tornarem, de fato, organizações orientadas por dados e IA”, explica Ricardo.

Segundo o executivo, um dos segmentos em que esse trabalho de tratamento e orquestração de dados tem mostrado resultados é o de clientes vindos do “varejo tradicional”, como Casas Bahia e Arezzo, que lidam com grandes volumes e diversidade de dados.

“No caso da Arezzo, a plataforma é utilizada tanto para a gestão logística quanto para aplicações avançadas de IA voltadas à experiência do consumidor. Entre elas está uma funcionalidade que permite ao vendedor fotografar um sapato, de qualquer marca, e encontrar produtos similares disponíveis no estoque, considerando localização e prazo de entrega”, detalha.

Para reforçar esse foco em dados dentro dos clientes, Ricardo traz na bagagem uma experiência de peso no setor tech. Antes de assumir o cargo de country manager na Databricks, ele atuou por três anos como head de vendas em banco de dados no Google Brasil. Antes disso, foi por 20 anos profissional de vendas dentro da Oracle, nome que por décadas foi referência no segmento de banco de dados. “A gente concorre com diversas soluções que eles (Oracle) oferecem, mas apostamos em uma abordagem totalmente nova”, desconversa o executivo.

Série L

Para bancar planos ambiciosos no Brasil e na América Latina, é preciso ter dinheiro em caixa. Contudo, esse não tem sido um problema para a Databricks. Seis meses depois de levantar US$ 10 bilhões em uma série K com a Thrive Capital, fundo liderado por Joshua Kushner, a empresa acabou de fechar uma série L de US$ 4 bilhões.

A nova captação, a 12ª na trajetória da companhia, avalia a empresa em US$ 134 bilhões e foi liderada por Insight Partners, Fidelity e J.P. Morgan Asset Management. Segundo divulgou o fundador e CEO Ali Ghodsi na última terça-feira (16), a rodada dá fôlego ao negócio, que não tem pressa em fazer um IPO.

“É uma corrida, e todo mundo está investindo”, disse o CEO em entrevista. Embora a empresa não descarte um IPO em 2026, o executivo citou o colapso dos mercados em 2022 e as demissões que se seguiram como um cenário que espera evitar como companhia aberta.

A empresa tem investido pesado em seu banco de dados para agentes de IA, conhecido como Lakebase, viabilizado pela aquisição de US$ 1 bilhão da startup Neon e voltado a projetos de vibe coding de desenvolvedores corporativos. A Databricks também firmou acordos de centenas de milhões de dólares com Anthropic e OpenAI para oferecer LLMs dentro de seus produtos B2B.

Segundo anunciou a Databricks na última terça, a empresa agora gera uma receita anualizada superior a US$ 4,8 bilhões, um aumento de 55% em relação a um ano antes, dos quais mais de US$ 1 bilhão vieram de seus produtos de IA.