Se você é um consumidor frequente de redes sociais como Instagram ou Tik Tok, com certeza já deve ter esbarrado em memes em que mensagens aleatórias de WhatsApp são transformadas em hilariantes canções sertanejas. A “mágica” por trás disso tem um nome: é o app Suno, gerador musical que utiliza inteligência artificial para produzir canções em segundos – tudo isso a partir de simples prompts de texto.
Nos últimos meses, os conteúdos produzidos no Suno viraram uma febre nas redes sociais, despertando o interesse de milhões de usuários, mesmo sendo gratuito. E ainda que sem receita, quando algo desperta o interesse massivo do público, pode acreditar que ele desperta o interesse dos investidores. Resultado: o Suno acabou de anunciar uma rodada série B, colocando o valuation da companhia na casa dos US$ 500 milhões.
Apesar do valor do cheque não ser divulgado oficialmente, o investidor é de respeito: a rodada foi liderada pela Lightspeed, fundo conhecido por apostar em negócios de IA como a Stability AI e Mistral. Segundo revelaram fontes ao The Information, desde a sua fundação, o Suno já levantou cerca de US$ 125 milhões.
Com um modelo generativo próprio para a criação das músicas e integrado ao ChatGPT para a criação de letras, o Suno chegou à marca de 10 milhões de usuários ativos nos últimos meses, inclusive gerando microcanções que viralizaram em redes como TikTok e X.
No Brasil – que é expert em utilizar a internet para criar humor – o Suno também se tornou um hit, inclusive com perfis como este se popularizando como verdadeiras “usinas” de memes, transformando conversas inusitadas de WhatsApp em grudentas canções sertanejas ou gospel.
Popular, mas controverso
Apesar de todo o sucesso do Suno, a startup criada em Cambridge, Massachussetts, tem os seus detratores. No caso, estamos falando dos próprios produtores musicais, que temem ver a sua obra sendo usada como base para o treinamento de modelos de IA.
Em entrevistas, o CEO do Suno, Mikey Shulman, não deu detalhes sobre quais são as bases utilizadas para treinar sua IA, mas ele afirmou que sua companhia “trabalha de forma bem próxima com seu time de advogados para garantir que o que fazem é legal”. Além disso, a Suno anunciou parcerias com DJs conhecidos como Flosstradamus e 3LAU, com a finalidade de ganhar mais crédito com a comunidade artística.
Entretanto, diversos grandes artistas mostraram publicamente sua preocupação com geradores de música. A Sony Music e seus artistas, como Celine Dion e Lil Nas X, enviaram cartas para mais de 700 companhias de IA, advertindo-os do uso indevido de propriedade intelectual para fazer músicas a partir de seus modelos generativos.
Para Mikey Shulman, é a partir desse diálogo com a indústria musical que pode partir a rentabilidade do Suno. Segundo o CEO, seu app pode ser uma ferramenta para os produtores no futuro, ajudando-os a acelerar seu processo de criação musical, composição de remixes ou até mesmo a geração de novos conteúdos utilizando modelos de voz de artistas consagrados.
Nesse meio tempo, o Suno já está explorando formas de compensar artistas em troca do uso de seus dados, uma decisão que vai em linha com o que empresas como OpenAI está fazendo para ter bases confiáveis para o treinamento de seus modelos de texto. Por exemplo, a OpenAI firmou nos últimos tempos parcerias com plataformas como o Reddit e jornais como o Financial Times para isso.