Um novo relatório da gestora de venture capital Andreessen Horowitz (a16z), em parceria com a fintech Mercury, revela como startups estão investindo em inteligência artificial (IA) e quais ferramentas estão realmente sendo adotadas no dia a dia das empresas.
O levantamento analisou transações de clientes da Mercury entre junho e agosto de 2025, identificando as 50 principais empresas de aplicações nativas de IA – aquelas que transformam tarefas e fluxos de trabalho, e não apenas oferecem infraestrutura.
Segundo o estudo, a IA está mudando as habilidades das pessoas, as tarefas que elas realizam e a forma como as equipes se estruturam. Essa mudança atinge pequenas e grandes empresas de maneiras diferentes: enquanto grandes empresas obtêm benefícios incrementais em suas estruturas já existentes, nas startups surgem empresas verdadeiramente nativas de IA, construídas em torno da próxima geração de software.
Aplicativos horizontais dominam os investimentos
Entre os softwares analisados, os apps horizontais – que podem ser usados por qualquer colaborador para aumentar a produtividade geral – representam 60% dos gastos das organizações. Entre eles, destacam-se os assistentes baseados em grandes modelos de linguagem (LLMs), como OpenAI (#1), Anthropic (#2) e Perplexity (#12). Também se destacam plataformas que integram IA aos arquivos e fluxos já existentes, como Notion (#10) e Manus (#33).
O relatório aponta ainda o crescimento de ferramentas de suporte a reuniões, como Fyxer (#7), Cluely (#26) e Otter AI (#41), que auxiliam na tomada de notas e oferecem feedback em tempo real.
A pesquisa mostra que a tecnologia não só potencializa colaboradores em funções específicas, como também transforma habilidades especializadas em competências que podem ser aplicadas por toda a equipe. Segundo o estudo:
“Anteriormente, categorias criativas e de vibe coding exigiam domínio de equipes específicas: departamentos de marketing ou design usavam ferramentas criativas, enquanto equipes de engenharia eram levadas ao vibe coding. No entanto, a IA abriu espaço para aplicações que podem ser usadas por pessoas em qualquer função. Estamos observando isso em algumas categorias, onde ferramentas tipicamente específicas de domínio estão se tornando mais horizontais.”
Ferramentas criativas são representadas por dez nomes na lista. Os líderes da categoria são Freepik (#4) e ElevenLabs (#5), seguidos por Canva, Photoroom, Midjourney, Descript, Opus Clip e Capcut. Soluções de geração de avatares, como Arcads (#47) e Tavus (#50), também aparecem no ranking.
Aplicativos verticais: aumento de produtividade ou substituição de funções
Entre os 17 softwares verticais (voltados a funções específicas), a maioria se concentra em aumentar a produtividade humana, liberando colaboradores de tarefas repetitivas. Entre os exemplos estão Micro1 (#9), focado em recrutamento; Lorikeet (#8), voltado ao atendimento ao cliente; e Delve (#11), especializado em compliance.
Cinco empresas, no entanto, buscam substituir funções humanas por IA em fluxos completos, como Crosby Legal (#27), em serviços jurídicos, e 11x (#37), que automatiza equipes de vendas. Segundo o relatório, startups têm maior liberdade para adotar soluções desse tipo, pois não estão presas a contratos de longo prazo com fornecedores tradicionais.
Vibe coding: do consumidor ao enterprise
O relatório também destaca o vibe coding como categoria que conquistou o ambiente corporativo. Ferramentas como Replit (#3), Cursor, Lovable e Emergent permitem que engenheiros e não-engenheiros desenvolvam aplicações completas e agentes de IA.
O destaque vai para o Replit, que gerou cerca de 15 vezes mais receita que o Lovable entre as empresas analisadas, oferecendo desenvolvimento de aplicativos corporativos, agentes autônomos e serviços de nuvem integrados. Segundo o estudo, isso evidencia que, no ambiente empresarial, soluções mais robustas tendem a superar ferramentas voltadas exclusivamente para o consumidor.
Produtos evoluem de consumidor para prosumer e enterprise
Quase 70% das empresas da lista oferecem produtos que podem ser usados individualmente, sem a necessidade de contrato ou licença corporativa. Ou seja, qualquer pessoa pode criar uma conta e utilizar a ferramenta, mesmo fora de uma equipe ou empresa. Doze dessas empresas também aparecem no Consumer Top 100 da a16z, que mede o tráfego de produtos B2C.
Com a IA, essas ferramentas podem rapidamente migrar do uso individual para o corporativo, permitindo que equipes integrem soluções inicialmente voltadas a pessoas físicas. Isso transforma funções dentro das empresas e aumenta a eficiência dos times, mostrando como produtos originalmente de consumo estão se tornando essenciais no ambiente profissional.
O que o relatório indica sobre o futuro
O estudo da a16z mostra que startups estão liderando a adoção de IA aplicada a produtos e fluxos de trabalho, e não apenas a infraestrutura. A tendência aponta para a expansão de ferramentas horizontais, o crescimento do vibe coding e o aumento da adoção de soluções verticais, incluindo aquelas capazes de substituir funções humanas.
Segundo o relatório, a combinação de produtos mais poderosos e a urgência na implementação de IA deve acelerar a transição de soluções inicialmente voltadas ao consumidor para o ambiente corporativo. O resultado é o surgimento de uma nova geração de software capaz de transformar startups desde os primeiros anos de operação.