James Cameron Avatar
Zoe Saldaña como Neytiri em "Avatar: Fire and Ash" (Crédito: 20th Century Studios | Divulgação) James Cameron, diretor de "Avatar" (Crédito: Fred Duval | Shutterstock)

Quando a tecnologia encontra o cinema, poucos nomes têm tanto peso quanto o de James Cameron. Responsável por produções como “O Exterminador do Futuro” e “Avatar”, o diretor ajudou a redefinir os limites do audiovisual ao apostar em CGI, captura de performance e avanços no cinema 3D. Não à toa, sua visão sobre inteligência artificial ganha relevância, especialmente quando ele traça uma linha clara: há uma diferença entre ferramentas que aprimoram a atuação humana e aquelas que tentam substituir o ator por completo.

Durante entrevista ao programa CBS Sunday Morning, na divulgação de “Avatar: Fogo e Cinzas”, Cameron voltou a explicar o papel da captura de performance, técnica frequentemente associada – segundo ele, erroneamente – à inteligência artificial generativa. 

Diferentemente da IA generativa, esse processo não cria atores digitais do zero. A atuação dos intérpretes é registrada com sensores que captam cada expressão facial, movimento do corpo, gesto e intenção. Esses dados são então usados como referência pelos artistas digitais, que constroem os personagens em cima da performance real.

Segundo o diretor, essa abordagem muitas vezes foi interpretada de maneira equivocada. “Por anos, houve a sensação de que ‘estão fazendo algo estranho com computadores e substituindo atores’”, disse. “Mas, quando você analisa o que estamos fazendo, percebe que é uma celebração do momento entre ator e diretor.”

A própria reportagem da CBS exibe os bastidores das gravações, com os atores interpretando cenas subaquáticas em um tanque de 250 mil galões de água, usando equipamentos de captura.

Foi nesse contexto que Cameron contrastou o método com a inteligência artificial generativa. Ele destacou que, no caso da IA, o sistema pode “criar um personagem, um ator, uma performance inteira do zero, apenas com base em um texto”. E reforçou: “Não, isso é horripilante. É exatamente o que não estamos fazendo.”

IA em Hollywood

O debate sobre o uso de inteligência artificial em Hollywood extrapolou o campo tecnológico e ganhou contornos jurídicos e trabalhistas. Desde 2023, a indústria vive uma série de paralisações lideradas pelos sindicatos SAG-AFTRA e WGA, que reivindicam não apenas melhores condições de remuneração, mas também proteção contra o uso não autorizado de IA para replicação de rostos, vozes e performances. O receio é que atores e roteiristas sejam substituídos por versões digitais, ou tenham sua imagem explorada sem consentimento ou compensação.

Outro ponto sensível envolve o avanço de tecnologias como deepfake, capazes de recriar digitalmente expressões faciais, movimentos e até performances completas. Esse debate ganhou força após a revelação de que a Disney chegou a considerar o uso de um deepfake de Dwayne Johnson no live-action de “Moana”, aplicando digitalmente seu rosto sobre o corpo de um dublê. O estúdio acabou descartando a ideia por riscos legais e de imagem, mas o episódio evidenciou como essas tecnologias já fazem parte das discussões de produção e contrato em Hollywood.

O impasse também se estende ao campo dos direitos autorais. Grandes estúdios, como Disney e NBCUniversal, movem ações contra empresas de IA, entre elas a Midjourney, acusadas de gerar imagens que reproduzem personagens protegidos, como Darth Vader (“Star Wars”), Elsa (“Frozen”) e os Minions (“Meu Malvado Favorito”), sem autorização dos detentores dos direitos.