
O momento não é o melhor para as fabricantes de brinquedos. Hoje, a disputa da Mattel (dona de marcas como Barbie, Hot Wheels e Fisher-Price) não é com outras concorrentes (como a Hasbro, por exemplo), e sim com tablets/celulares. Com conteúdos estimulantes e jogos infinitos, fica difícil para os brinquedos fazerem “brilhar os olhos” das crianças.
E parece que, com isso em mente, a dona da Barbie decidiu se reinventar. A Mattel anunciou, na última quinta-feira (12), uma parceria com a OpenAI para criar brinquedos com inteligência artificial. “Nossa colaboração com a OpenAI nos permitirá aproveitar novas tecnologias para consolidar nossa liderança em inovação e reinventar novas formas de brincar”, disse Josh Silverman, vice-presidente executivo e diretor de franquias da Mattel.
Para além dos produtos, a Mattel também passará a utilizar as ferramentas de IA da OpenAI, incluindo o ChatGPT Enterprise (versão projetada para atender às necessidades de grandes empresas e organizações), em suas atividades comerciais.
“Estamos felizes em trabalhar com a Mattel para trazer experiências inovadoras baseadas em IA para suas marcas icônicas, além de oferecer aos funcionários da empresa os benefícios do ChatGPT. A OpenAI fornecerá um conjunto avançado de ferramentas para impulsionar criatividade e transformação em larga escala”, apontou Brad Lightcap, COO da OpenAI.
O que muda com a parceria Mattel x OpenAI?
Até o momento de publicação desta reportagem, não há informações concretas sobre como serão os “brinquedos do futuro” da parceria entre Mattel e OpenAI. Mas a expectativa é de algum anúncio seja feito até o final do ano, com lançamentos previstos para 2026.
A especulação é de que a parceria entre as duas empresas transforme a maneira como as crianças interagem com marcas como Barbie, Hot Wheels e Fisher-Price. Vale lembrar que a Mattel não deve ceder o uso de suas marcas à OpenAI — o foco da colaboração está no uso estratégico da tecnologia.
A fabricante já tem familiaridade com esse tipo de iniciativa: atualmente, utiliza soluções de inteligência artificial do Google para analisar comentários de consumidores e identificar melhorias em seus produtos. Ou seja, a aliança com a OpenAI apenas aprofunda essa aposta em inovação para seu time e inteligência artificial aplicada ao universo dos brinquedos.
Agora vai dar certo… ou não?
A ideia da Mattel de incorporar tecnologia aos brinquedos e mudar a interação com as crianças não é de hoje. Para se ter uma ideia, nos anos 90, a boneca mais famosa do mundo ganhou sua versão “Teen Talk”, com cada boneca falando quatro frases de forma aleatória.
A interação acontecia por meio de um módulo de voz embutido. Quando a criança apertava um botão (geralmente nas costas da boneca), a Barbie emitia uma das frases pré-gravadas. As frases eram pensadas para refletir o universo adolescente.
Apesar de a ideia parecer boa, a boneca gerou polêmica na época, uma vez que uma das suas frases era “math class is tough!” (ou “aula de matemática é difícil!”). Grupos feministas chegaram criticar a frase por reforçar estereótipos de gênero sobre meninas e dificuldades com matemática.
A Barbie chegou, até mesmo, a se tornar um marco no debate sobre o impacto de mensagens subliminares em brinquedos infantis.
Já no ano de 2010, outra boneca tecnológica acabou sendo alvo de polêmicas: Barbie Video Girl. O brinquedo chegou às lojas com uma proposta inovadora para a época, contendo câmera embutida no colar e uma pequena tela de LCD nas costas, funcionando como uma espécie de câmera de vídeo em forma de boneca. A ideia era que as crianças pudessem gravar vídeos do ponto de vista da Barbie, criando suas próprias histórias e filmes.
Apesar de ser uma ideia considerada à frente do seu tempo, a Barbie Video Girl chegou a ser mencionada em alertas de segurança digital pelo FBI nos Estados Unidos, que temiam que o recurso de gravação embutido pudesse ser usado de forma indevida/criminosa.
Diante desse histórico, a nova aposta da Mattel ao lado da OpenAI terá que ter atenção redobrada. Ao integrar inteligência artificial aos brinquedos, a empresa pode abrir caminho para experiências mais interativas e educativas — mas também precisará enfrentar questões éticas, de privacidade e de segurança infantil.
Se por um lado a parceria pode representar uma revolução na forma como crianças brincam e aprendem (especialmente para produtos Fisher-Price), por outro, exigirá um cuidado redobrado para que a tecnologia não ultrapasse limites.