Inteligência Artificial

Ningúém sabe o que são agentes de IA, dizem sócios da a16z

Segundo sócios da gestora, ainda estamos longe de IAs realmente capazes de substituir humanos, ao contrário do que diz o hype

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Tá, mas o que são agentes de IA? | Foto: Canva
Tá, mas o que são agentes de IA? | Foto: Canva

Todo mundo ama um hype – ou uma expressão de efeito para inflamar os entusiastas do “ecossistema” e ditar a próxima grande coisa do mercado. Em 2025, o termo da vez é “agente de IA” — e suas variações “agentic” e afins. Entretanto, segundo insiders do Vale do Silício, a expressão já está se desgastando de forma rápida – a ponto de muita gente tocar no assunto sem nem saber o que ele significa.

Segundo os especialistas da Andreessen Horowitz (a16z), um dos maiores fundos do Vale, nem investidores entusiasmados em startups de IA sabem ao certo o que o tal “agente” realmente é. Foi a constatação dos sócios Guido Appenzeller, Matt Bornstein and Yoko Li, em um episódio do podcast da gestora, chamado “What Is an AI Agent?”. No podcast, eles tentaram definir o conceito, em um esforço digno, mas pouco conclusivo.

Para dar o contexto sobre essa confusão toda, os sócios chegaram a falar sobre o plano da a16z para levantar US$ 20 milhões em um megafundo voltado a IA e agentes de IA. Em setembro do ano passado, dois outros sócios escreveram no blog do fundo que “todo cargo de colarinho branco terá um copiloto de IA. Alguns serão totalmente automatizados por agentes”.

A promessa era clara: teremos um futuro em que agentes assumam funções humanas inteiras. Só falta construí-los.

Entretanto, segundo os VCs da a16z, o que mais se vê são startups pendurando a etiqueta “agente” em qualquer produto com um prompt esperto e uma base de dados. Guido Appenzeller ironizou que o mais básico dos agentes que viu era apenas isso: uma resposta pronta, disfarçada de assistente digital, o que nem de longe se alinha com a ideia de uma IA autônoma como se espera de um agente, a princípio.

Segundo os próprios sócios da a16z, para que isso aconteça, seria necessário algo próximo de uma AGI — uma inteligência geral artificial — capaz de operar por longos períodos, com memória persistente e tomada de decisão autônoma. “Isso ainda não funciona”, admitiram Guido e Yoko Li.

Humanos ainda vencem a IA

Um exemplo curioso citado no podcast foi o da Artisan, startup que oferece “agentes de vendas” baseados em IA, uma proposta parecida com a de startups como a brasileira Nuvia, que no mês passado levantou R$ 10 milhões para escalar sua tecnologia de IA que poderá substituir SDRs. A Artisan, inclusive, levantou R$ 25 milhões em uma série A no mês passado.

Agora vem a ironia: apesar de usar o discurso “pare de contratar humanos” para viralizar em sua campanha publicitária, a Artisan segue contratando humanos, conforme destacou o CEO Jaspar Carmichael-Jack em entrevista ao TechCrunch no mês passado.

Para que uma IA se torne de fato uma substituta de trabalhadores humanos, ainda é preciso resolver questões técnicas importantes — como memória de longo prazo persistente (e os custos envolvidos nisso) — além de eliminar as alucinações. Afinal, nenhuma empresa quer contratar um funcionário — humano ou artificial — que não se lembra da última conversa e ainda inventa mentiras aleatórias.

Na prática, como explicou Yoko Li no podcast, os agentes de hoje em dia não são muito mais do que LLMs com capacidade de raciocínio e execução em múltiplos passos. Eles podem tomar decisões e agir, como escolher clientes a abordar ou escrever código, mas não são capazes de realmente substituir um humano..

Para Matt Bornstein, ainda não existe um futuro próximo em que bots tirem os humanos do jogo. “Do nosso ponto de vista aqui no Vale do Silício, às vezes esquecemos que a maioria das pessoas tem trabalhos que exigem criatividade e pensamento”, disse. “Não sei se substituir isso com um robô é sequer teoricamente possível”.