Larry Ellison em apresentação durante o AI World de 2025
Larry Ellison em apresentação durante o AI World de 2025 (Foto: Gustavo Brigatto)

“A inteligência artificial é uma ferramenta incrível. Ela fará com que sejamos melhores cientistas, engenheiros, professores, construtores e cirurgiões. Nunca construímos uma ferramenta como essa”, cravou Larry Elisson, fundador e CTO da Oracle, durante sua apresentação no AI World, em Las Vegas.

Durante uma hora e meia, o bilionário falou sobre longevidade, falta de alimentos no mundo, descarbonização, detecção de câncer em estágios iniciais e robôs cirurgiões. Até um protótipo de uma ambulância conectada foi apresentada. “Se vamos produzir isso em larga escala, eu não sei”, comentou Larry, rindo.

Para o fundador, esses são alguns dos problemas que a humanidade enfrenta e que serão solucionados com a aplicação de IA. “Algumas pessoas pensam que ela vai substituir os humanos em todas as suas atividades. Eu não acho que isso seja verdade. Ela vai nos ajudar a resolver problemas que não conseguíamos sozinhos”, acrescentou.

Uma viagem que faz sentido

Em slides preparados por ele próprio – que não passam por muita revisão ou padronização do time da Oracle –, ele foi apresentando uma conversa sobre o futuro da humanidade que, a princípio, parecia totalmente sem sentido e descolada dos negócios da empresa. Mas a cada desafio, Larry falava sobre alguma tecnologia desenvolvida ou em desenvolvimento pela Oracle para responder a essas mudanças.

Da adaptação do seu banco de dados para um AI database que usa dados públicos e privados; passando pela criação de soluções específicas para segmentos como a saúde – uma obsessão do octagenário fundador, que, segundo dizem, quer viver mais uns bons anos –; e chegando aos projetos de centros de dados como o cluster de 1,2 gigawatts e mais de 500 mil GPUs Nvidia que está sendo construído para a OpenAI no Texas.

“De forma simples: a Oracle faz infraestrutura e aplicações. Fazemos aplicações em escala para grandes empresas e infraestrutura em escala para IA. E somos a única nuvem que faz isso. As outras grandes nuvens, Microsoft, Amazon e Google não criam aplicações de saúde, para grandes empresas, para grandes instituições financeiras. Eles não fazem isso. Eles desenvolvem tecnologia de IA. Pelo menos o Google desenvolve. Os outros dois não. Então nossos objetivos são diferentes dessas outras nuvens”, cutucou Larry.

Até agora, a visão de provedor ponta a ponta parece estar sendo bem recebida. No ano, as ações da Oracle acumulam alta de 80%, cotada acima dos US$ 300. A expectativa é que, até o fim do ano, ou no começo de 2026 ela alcance um valor de mercado de mais de um trilhão de dólares. No trimestre mais recente, o primeiro do ano fiscal 2026, houve um aumento de 12% na receita, para US$ 14,9 bilhões, com a nuvem avançando 28%.

Bolha?

Na semana passada a companhia levou um susto depois de uma reportagem do The Information citando relatórios internos da Oracle ter indicado que ela ganha pouco dinheiro na venda de capacidade baseada nas GPUs da Nvidia. O baque, no entanto, foi momentâneo. E a visão de investimento mais pesado agora para colher frutos em um futuro próximo acabou sobressaindo.   

Isso não silenciou, obviamente, as conversas sobre bolha da IA, que têm ganhado força nos últimos meses. Larry tentou colocar panos quentes, fazendo a clássica diferenciação do momento atual com o estouro da bolha da internet no fim dos anos 2000. Segundo ele, o problema foi que muita gente confundiu que uma empresa de internet era um site de venda de produtos para pets como o pets.com. Quando na verdade eram negócios como Google e PayPal que realmente representavam essa nova categoria.  

Além disso, apesar do crash, a internet se tornou uma infraestrutura fundamental, que, inclusive, criou as bases para o atual momento da inteligência artificial. “Sim, vai ter gente gastando dinheiro com IA, porque, hoje em dia quase toda empresa de tecnologia se diz uma empresa de IA. Sendo que a maioria não é. Mas em termos de valor, essa é, de longe, a tecnologia de maior valor que nós já vimos”, afirmou.   

Projetos futuristas

Aproveitando os recursos de inteligência artificial (obrigado, Notebook LM), montamos um resumo dos projetos futuristas apresentados por Larry Ellison. Eles se foco nas áreas de saúde, sustentabilidade e segurança:

I. Saúde, Diagnóstico e Biometria

  • Diagnóstico Precoce de Câncer (Metagenômica): Desenvolvimento de um novo dispositivo de teste metagenômico. Este sensor realiza o sequenciamento genético de tudo presente em uma amostra (como o sangue).
  • CT DNA: Promete o diagnóstico muito precoce do câncer ao descobrir pequenos fragmentos de DNA tumoral circulante (CT DNA) no sangue, mesmo em estágios iniciais. A IA ajuda a distinguir esses fragmentos de falsos positivos que seriam naturalmente curados pelo sistema imunológico.
  • Identificação de Patógenos: Ele pode identificar qualquer organismo vivo que esteja infectando o paciente (bactérias, fungos, vírus), incluindo patógenos novos (como a COVID-19), e indicar se são resistentes a antibióticos. Ellison sugeriu que esta tecnologia é o “sistema de alerta precoce perfeito” para pandemias.
  • Cirurgia Robótica e Precisão: Robôs de IA serão cirurgiões muito melhores do que os melhores médicos. Sua visão é microscópica, permitindo-lhes cortar entre uma camada de células saudáveis e uma camada de células cancerosas com precisão superior à humana. A cirurgia será “perfeita”.
  • Monitoramento e Conectividade de Pacientes: Criação de dispositivos médicos IoT de baixo custo que podem ser massivamente produzidos para monitorar pacientes em casa com a mesma eficácia que no hospital.
  • Ambulâncias Conectadas: Protótipos de ambulâncias conectadas e carregadas com IA, que mantêm o pessoal do pronto-socorro (ER) constantemente em comunicação com o paciente durante o transporte entre a casa e o hospital.
  • Imagens Diagnósticas Aprimoradas: A IA pode ler varreduras de ressonância magnética (MRI) e outras imagens com precisão, encontrando coisas que ninguém está procurando. Por exemplo, a IA pode medir o desenvolvimento fetal com precisão em 3D, algo que era feito de forma inadequada com uma régua 2D.
  • Biometria para Segurança: Uso de biometria para eliminar senhas, que Ellison classifica como “insanas” e “idiotas”.
  • Cartões de Crédito Biométricos: A Oracle planeja oferecer cartões de crédito opcionais baseados em biometria para reduzir dramaticamente a fraude, beneficiando os bancos e os consumidores (com taxas de juros potencialmente melhores).

II. Alimentação e Sustentabilidade

  • Estufas Robóticas (Robotic Greenhouses): Grandes estruturas infláveis (edifícios de pressão de ar) que utilizam um sistema ferroviário para mover as plantas, permitindo o cultivo com 90% menos água. O cultivo é feito perto de centros urbanos para reduzir o custo e a emissão de CO2 do transporte, oferecendo alimentos mais frescos e nutritivos.
  • Engenharia Genética de Plantas (Wild Bio):
  • Aumento de Produção: Modificação de culturas (como o trigo) para produzir 20% mais grãos por acre.
  • Sequestro de Carbono: Uso de IA para projetar plantas que convertam o CO2 absorvido durante a fotossíntese em carbonato de cálcio, uma estrutura mineral (como a de recifes de coral), removendo-o permanentemente da atmosfera. Isso permite gerenciar e reduzir os níveis de CO2 na atmosfera (como ir de 440 para 400 partes por milhão).
  • Eliminação de Fertilizantes: Engenharia de plantas (milho, soja) para que absorvam nitrogênio diretamente da atmosfera (por meio da enzima nitrogenase), eliminando a necessidade de fertilizantes nitrogenados caros, que causam poluição e escoamento em rios e oceanos.

III. Logística e Segurança Autônoma

  • Drones Antropomórficos: Desenvolvimento de um sistema de controle antropomórfico de IA para drones.
  • Entrega de Amostras de Sangue: Uso de drones para entregar amostras de sangue de clínicas a laboratórios. Para proteger a privacidade pessoal, a Oracle construiu um cofre de espécimes RFID (RFID specimen vault) que transporta as amostras anonimamente.
  • Combate a Incêndios e Perseguições: Drones podem detectar imediatamente incêndios florestais usando infravermelho. Além disso, podem seguir carros em alta velocidade, sendo uma alternativa mais segura às perseguições policiais.