O novo projeto de Sam Altman agora está disponível no Brasil. A startup Tools for Humanity está lançando oficialmente no país o seu serviço de verificação de humanidade, batizado de World ID. O objetivo é ajudar as pessoas a navegar na era da inteligência artificial com mais segurança, oferecendo uma maneira simples e gratuita de confirmar sua identidade humana. A partir desta quarta-feira (13), maiores de 18 anos poderão realizar a verificação em dez centros espalhados pela cidade de São Paulo.
Embora o avanço da IA torne a internet mais útil e eficiente, um mundo cada vez mais interconectado, com a coexistência de humanos e chatbots no universo digital, traz também inúmeros desafios. Questões como scambots, deepfakes, fraudes de identidade e desinformação ganham ainda mais relevância e exigem soluções para garantir um ambiente mais seguro. Nesse cenário, a biometria se destaca como uma tecnologia que pode aumentar a segurança e a confiabilidade dos processos online.
É aí que entra a World, um protocolo de código aberto projetado para fornecer ferramentas que ajudem os humanos a se adaptem à nova realidade. “As soluções que tínhamos até agora, como o captcha, não são tão eficientes como antes”, afirmou Rodrigo Tozzi, gerente de operações da Tools for Humanity, em coletiva de imprensa para jornalistas.
Já vimos casos de como o uso de robôs e da inteligência artificial pode gerar riscos e insegurança. Um exemplo é o uso de ots para comprar ingressos para shows, a produção de vídeos falsos envolvendo figuras públicas, como políticos e celebridades e até imagens falsas virais, como a do papa Francisco usando um casaco fashion – foto que rendeu elogios pelo mood estiloso e foi compartilhada por veículos de imprensa como a Vogue Brasil. “Como podemos provar que somos humanos em uma era de IA?”, questiona Rodrigo.
Desenvolvido por Altman, uma das mentes por trás do ChatGPT, e Alex Blania, o serviço World ID visa diferenciar interações humanas reais daquelas impulsionadas por robôs. Para isso, oferece uma prova de humanidade anônima, em escala global, permitindo identificar pessoas reais em meio à crescente presença de bots. Além de proteger a dignidade e a privacidade humanas no ambiente digital, o World ID busca ampliar o acesso à economia digital e estabelecer uma base de confiança na internet ao distinguir as atividades humanas das automatizadas.
Como funciona
Para verificar sua humanidade, os indivíduos devem baixar o aplicativo World App e agendar um horário em um dos locais de verificação. Por enquanto, são 10 centros de verificação na capital paulista que, segundo Rodrigo, foram selecionados com a estratégia de maximizar as oportunidades para a maioria da população consiga ter acesso.
Os locais de verificação são equipados pelo Orb, um dispositivo que captura uma imagem de alta resolução do rosto e, em especial, da íris do indivíduo. “Com a foto do rosto, o dispositivo verifica se é um humano e, com a íris, reconhece a singularidade desse humano”, explica Rodrigo.
A imagem capturada pelo Orb é imediatamente convertida por algoritmos em uma representação numérica da textura única da íris do usuário, chamada de código íris. As imagens são, então, criptografadas de ponta a ponta e enviadas para o telefone da pessoa. Depois, são deletadas do Orb.
Inicialmente, as pessoas verificadas pelo Orb no Brasil podem aceitar receber 25 tokens da Worldcoin. O token WLD é emitido voluntariamente pelos participantes da rede para alinhar seus incentivos em torno do crescimento da mesma, além de, segundo a Tools for Humanity, contribuir para a inclusão digital de serviços financeiros para a população.
O serviço é totalmente gratuito, e feito exclusivamente sob agendamento. O usuário pode encontrar o endereço dos locais de verificação no aplicativo ou site da World.
É seguro?
“A privacidade é ponto-chave no desenvolvimento da World e do World ID, com total transparência a toda a população”, afirma Rodrigo. Segundo a Tools for Humanity, a íris é a maneira mais segura e confiável de verificar que as pessoas são seres humanos únicos sem ter que pedir informações pessoais como nome, idade, endereço ou documento. Rodrigo reforça que, Rodrigo destaca que, após a captura da imagem do rosto dos usuários, a foto é imediatamente deletada do dispositivo.
“É uma verificação de humanidade. Ou seja, o objetivo da World ID não é provar a identidade da pessoa, e sim que é um humano”, pontua. Segundo ele, o serviços pode ser aplicado em uma série de casos, além da diferenciação de seres humanos e bots. “Pode ajudar na verificação de conta única, evitando a proliferação de contas duplicadas e melhorar a experiência dos games e jogos online, ao equilibrar melhor a disputa entre bots e usuários reais. Também pode fortalecer a conexão entre pessoas e prevenir a criação de perfis e contas falsas nas redes sociais”, destaca.
Rodrigo acrescenta que o projeto é descentralizado, com código aberto e de propriedade de todos os participantes. Na prática, isso significa que qualquer pessoa interessada pode acessar o código e criar sua própria Orb, promovendo maior liberdade e colaboração na construção de uma rede de humanos verificados.
Globalmente, o protocolo World já verificou 7 milhões de seres humanos e conta com 16 milhões de usuários no app. A Tools for Humanity anunciou a expansão do World ID no ano passado. Rodrigo explica que essa fase foi um teste piloto, realizado temporariamente em diversos países para entender os mercados antes de realizar os lançamentos oficiais.
O que está por trás
A empresa afirma que, antes de lançar o World ID em qualquer mercado, busca proativamente dialogar com os órgãos regulatórios locais, e que no Brasil não foi diferente. “Foram feitas diversas conversas e vários encontros com os reguladores, como o Ministério da Ciência e da Tecnologia”, diz Rodrigo. O processo inclui a apresentação da solução e a demonstração do impacto gerado. Segundo a Tools for Humanity, apesar das dúvidas técnicas, as conversas têm sido “muito positivas de forma geral”. No entanto, a startup admite que ainda não houve reuniões com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
No Brasil, a Tools for Humanity opera por meio de parceiros locais, ou seja, empresas terceirizadas responsáveis por montar os pontos de verificação de acordo com padrões pré-estabelecidos e gerenciar a operação na região. Segundo Rodrigo, ainda não há planos específicos de expansão pelo país, embora o objetivo de longo prazo seja disponibilizar o serviço para o maior número possível de pessoas. Além disso, não há planos de comercializar a solução (o Orb estará disponível apenas nos centros de verificação) nem de monetizar em cima dos dados dos usuários.
Em alguns países, a startup firmou uma parceria com o Rappi, permitindo que os usuários solicitem e utilizem o Orb em casa, como um serviço de delivery de prova de humanidade. A iniciativa começa na Argentina, onde a Tools for Humanity pretende testar e estudar o modelo antes de, quem sabe, expandir para outros países.
Recentemente, o Serviço Nacional do Consumidor do Chile (SERNAC) emitiu uma notificação formal à World e à Rappi, solicitando a suspensão das atividades de escaneamento de íris no país. A controvérsia surgiu em meio a preocupações sobre privacidade. Em resposta, a Rappi esclareceu que a parceria está sendo testada exclusivamente na Argentina, e não no Chile, como havia sido especulado anteriormente.
O projeto da Tools for Humanity é financiado por investidores privados e já está no estágio Série C de seu desenvolvimento. A companhia conta com investidores globais de peso, como Andreessen Horowitz (a16z crypto), Blockchain Capital, Bain Capital Crypto e Distributed Global.
Sam Altman já falou abertamente sobre o desejo de utilizar seus projetos, como o token Worldcoin e a blockchain World Chain, para implementar uma renda básica universal e promover a inclusão financeira digital para toda a população. Questionada, a Tools for Humanity reconhece que o projeto do World foi inicialmente pensado com esse objetivo, mas explica que ele se tornou uma meta de longo prazo, à medida que o foco do projeto se expandiu para outras prioridades.
“Como podemos distribuir uma renda para alguém sem antes saber se aquele usuário é um humano ou um robô?”, questiona Astrid Vasconcellos, diretora de comunicação da Tools for Humanity na América Latina. “O projeto se transformou para, nesse primeiro momento, focar na questão da humanidade. A renda básica universal não está descartada, mas, no momento, o objetivo é criar uma rede de humanos verificados globalmente”, conclui.