Os Estados Unidos têm intensificado sua estratégia para manter a liderança global em inteligência artificial (IA), numa disputa cada vez mais acirrada com a China. Nesta semana, o presidente Donald Trump divulgou o seu “AI Action Plan“, com medidas para “reduzir burocracias” e garantir que o país avance no segmento. Em relatório publicado nesta quinta-feira (24), o Deutsche Bank aponta que a corrida pela supremacia em IA é um “jogo de soma zero”, em que só há espaço para um vencedor.
Com o novo plano de Trump, fica claro que a IA não é apenas uma tecnologia disruptiva, mas uma nova fronteira de poder global. Para o Deutsche Bank, a liderança atual dos EUA ainda é sólida. O país abriga 42 das 50 principais empresas de IA no mundo – 33 delas na Califórnia –, recebeu cerca de 75% dos investimentos globais em IA em 2024 e liderou no desenvolvimento de modelos relevantes. No entanto, o rápido avanço da China tem acendido alertas em Washington.
“Só porque os EUA estão à frente de seus rivais hoje não significa que estarão amanhã”, diz o relatório. “A parte final do Plano de Ação concentra-se na segurança nacional – enfatizada pelo fato de que o terceiro signatário do Plano de Ação foi o Secretário de Estado Marco Rubio”.
Segundo o Deutsche Bank, o grande wake-up call para os Estados Unidos no sentido de uma ameaça à sua hegemonia foi o lançamento do modelo DeepSeek, em janeiro, que abalou os mercados, levou a uma queda significativa no valor de mercado da Nvidia, e expôs a capacidade do país asiático de desenvolver IA avançada com menos recursos do que os EUA.
“Mas o aspecto mais preocupante do ponto de vista da segurança nacional dos EUA era que
ou os controles rígidos sobre as exportações desses chips e outros componentes de IA para a China não eram eficazes – ou eram eficazes – mas a inventividade chinesa com chips mais antigos ou equivalentes produzidos internamente significava que isso não importava”, diz o Deutsche Bank.
Para alcançar o ritmo da China, o plano de Trump rompe com a estratégia da administração anterior, que havia priorizado a segurança e confiabilidade da tecnologia. Agora, o foco está em remover entraves regulatórios: o governo propõe reter recursos federais de estados que adotarem legislações consideradas excessivas e pressionar agências como a Comissão Federal de Comércio (FCC) a reverem normas que possam frear a inovação.
Além disso, inovação em IA exige infraestrutura – e muita energia para alimentar os data centers. Os EUA concentram metade dos data centers no mundo, e o uso de energia por eles subiu de 1,9% da rede elétrica nacional em 2018 para 4,4% em 2023. Projeções indicam que esse número pode chegar a 12% até 2028. O plano prevê investimentos em redes de transmissão, usinas nucleares, fontes alternativas como geotermia e até tecnologias emergentes como fusão nuclear.
O Plano de Ação também estabelece medidas na tentativa de tranquilizar um público cético. Uma pesquisa global da Ipsos realizada no ano passado mostrou que os americanos estão entre os cidadãos menos entusiasmados com a IA no mundo, com menos de 40%
concordando que ela traz mais benefícios do que desvantagens.
“No entanto, a maior parte da ênfase está em criar obstáculos ao uso da IA pela China para obter vantagem competitiva”, ressalta o relatório.
Isso inclui o uso de recursos de verificação de localização com IA para reforçar a fiscalização da exportação, até um trabalho de convencimento dos aliados para garantir que eles também reforcem os controles de exportação, com imposição de penalidades, como tarifas, caso não o façam.
“Resta saber como isso funcionará na prática diante da Realpolitik: na semana passada, o governo disse que flexibilizaria os controles de exportação da Nvidia e da AMD, vendendo alguns chips de IA (menos sofisticados) para a China em troca da China reiniciar suas exportações de algumas terras raras para os EUA”.