A Tivita nasceu de uma observação simples, mas decisiva: mesmo sob pressão por mais eficiência, o setor de saúde privada no Brasil ainda depende, em grande parte, de processos manuais. Fundada em 2023 por Claudio Franco e Amilton Paglia, ambos veteranos do ecossistema de startups brasileiras, a empresa se propõe a simplificar a gestão de clínicas médicas por meio da automação inteligente.
A ideia surgiu após uma imersão profunda no setor. Durante mais de um mês, os empreendedores atuaram como voluntários em clínicas – Franco em uma unidade multidisciplinar e Amilton em uma especializada em ginecologia – para entender, na prática, os desafios da rotina médica. A experiência foi complementada por mais de 100 entrevistas com profissionais da área, de recém-formados a sócios de instituições de saúde. “Durante a imersão, pedíamos que os profissionais nos delegassem tarefas, especialmente aquelas que não gostavam de fazer ou que os deixavam sobrecarregados”, conta Claudio.
A partir dessa vivência, surgiu o primeiro foco da Tivita: automatizar processos como contas a receber, emissão de notas fiscais e recibos, além da comunicação desses documentos com os pacientes. “A primeira solução foi encontrar formas de automatizar o trabalho repetitivo, manual e que não agrega valor terapêutico para o paciente”, completa.
Com o tempo, a companhia ampliou o escopo da plataforma para incluir automações de agendamento, prontuário eletrônico e geração de relatórios para os planos de saúde. Na fase mais recente de evolução, a Tivita lançou agentes digitais autônomos: a Tais, responsável pela burocracia e pelos processos administrativos relacionados aos convênios; e a Júlia, focada na conversão de agendamentos, oferecendo assistência aos pacientes via WhatsApp.
A Tais automatiza grande parte das tarefas de faturamento dos planos de saúde, como a solicitação de autorizações para procedimentos e o preenchimento automático de guias de convênio. Segundo Claudio, ela é 75 vezes mais rápida do que um agente humano e já está integrada a 10 dos 20 maiores planos de saúde do país, incluindo Bradesco, Sul América, Amil e Porto Seguro.
Já a Júlia atua no pré-atendimento dos pacientes, respondendo perguntas frequentes e auxiliando no agendamento de consultas. Ela é capaz de processar informações sobre disponibilidade de médicos, especialidades e horários, entregando respostas precisas em cerca de dois segundos. “Desde os lançamentos, observamos três grandes benefícios: ganho imediato de eficiência, menos pressão sobre as equipes (especialmente as mais enxutas) e a possibilidade de as clínicas crescerem com um custo operacional reduzido”, destaca Claudio.
Mudança de foco
Os novos agentes autônomos acompanham uma mudança estratégica da Tivita. No início, a startup optou por focar no “meio do mercado”, atendendo pequenas e médias redes e consultórios. Agora, avança em direção a clientes maiores. “A missão da Tivita é automatizar 90% das tarefas manuais de uma clínica. Algumas são comuns a qualquer porte de empresa; outras ganham mais relevância em operações maiores. Nossa transição para um novo perfil de cliente está alinhada com a tecnologia que temos desenvolvido e os fluxos que priorizamos resolver”, explica Claudio.
Segundo ele, conforme a startup começou a atender clínicas maiores, ficou evidente que esses clientes atribuíam mais valor a funcionalidades que não eram tão críticas para consultórios menores. “O produto não mudou. O que mudou foram, por exemplo, as integrações. Hoje, a Tivita já consegue substituir grande parte das ferramentas que as clínicas utilizam, tornando-se uma plataforma completa”, diz.
O empreendedor ressalta que a empresa também está preparada para atender clínicas de grande porte em escala corporativa. “As necessidades desses clientes costumam ser diferentes”, afirma. Para esses casos, a Tivita estruturou integrações com os sistemas já usados pelas instituições, oferecendo uma solução combinada.
Visão de futuro
Em 2024, a Tivita levantou R$ 32 milhões em uma rodada liderada pela FinTech Collective, com participação de nomes de peso como Cesar Carvalho (Wellhub), Tiago Dalvi (Olist) e Renato Velloso (dr.consulta). O aporte permitiu à startup quadruplicar o time, que passou de 12 para mais de 40 pessoas. Metade da equipe está dedicada à área de tecnologia, enquanto o restante se divide entre vendas, suporte e operações.
Para 2025, a meta é ambiciosa: crescer 10 vezes. O avanço deve vir da ampliação da base de clientes, do lançamento de novos produtos e do aumento nas integrações com operadoras de saúde – a meta é saltar das atuais 10 para 50 nos próximos 12 meses. “A automação de repasses pelo contas a pagar é uma grande prioridade, e devemos fazer um lançamento em breve para o mercado”, antecipa Claudio.
Nesse cenário de expansão, a Tivita também estruturou um plano de treinamento contínuo para seus agentes autônomos, que passam a aprender novas tarefas semanalmente, como reconhecer carteirinhas de planos de saúde ou interpretar pedidos médicos. “A inteligência artificial nos traz infinitas possibilidades. Hoje, a Júlia já entende áudios. O próximo passo é fazer com que ela realize tudo o que faz também por meio de uma ligação telefônica via WhatsApp”, revela.
Além de expandir as capacidades da Júlia para o atendimento por voz, a startup também trabalha para conectar diretamente seu chatbot aos sistemas dos planos de saúde, permitindo uma comunicação em tempo real com as operadoras.
Para sustentar esse ritmo de crescimento, a Tivita aposta em uma cultura organizacional sólida. Alguns times atuam de forma híbrida, enquanto outros são 100% remotos e distribuídos pelo país, com encontros presenciais a cada três meses. O perfil ideal? Pessoas que buscam simplificar problemas complexos. “A gente se define como alquimistas”, brinca Claudio. “Resolver algo muito difícil com uma solução simples é crucial para atender o cliente, personalizar a conta e construir um produto eficiente”, conclui.