Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado recentemente revela que o Brasil foi o segundo principal destino de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em 2023, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. No entanto, quando se trata de investimentos de impacto, o país ainda não é visto como um destino atrativo para o mercado internacional.
Essa foi a conclusão do roundtable promovido pela Lightrock nesta quinta-feira (31), que contou com a participação de SP Ventures, BTG, eB Capital e a Aliança pelo Impacto.
O encontro teve como objetivo discutir os principais temas apresentados no Fórum Mundial do Global Impact Investing Network (GIIN), realizado no início do mês, que reuniu organizações líderes em investimento de impacto no mundo.
Dados do GIIN mostram que a América Latina possui apenas 1% do ativos sob gestão (Assets under management – AUM) de investimentos de impacto. A região fica atrás da África, por exemplo, que atraiu 2% dos aportes globais no segmento.
Segundo o grupo, o AUM em investimento de impacto está concentrado na Europa (53%) e nos Estados Unidos e Canadá (35%).
“A maioria dos europeus acaba querendo investir em África, até por uma questão de dívida histórica. É preciso investir num marketing brasileiro lá fora. Essa é a chance do Brasil de bilhar no mundo novamente”, disse Guilherme Quintal, sócio e head de Global Markets na eB Capital, durante o roundtable.
Tatiana Sasson, Head de Impacto América Latina na Lightrock, ressaltou que a percepção de risco dos investidores internacionais com relação ao Brasil é maior: “Quando dá errado no Norte Global, a impressão é que eles entendem que é assim mesmo, que faz parte. Mas quando dá errado no Sul Global, a percepção é de que o risco não vale a pena”.
Segundo ela, faltam dados e informação sobre o mercado brasileiro. A investidora destaca, por exemplo, que o potencial de impacto com retornos significativos no Brasil é muito mais alto que em nações desenvolvidas, porque países emergentes como o nosso ainda têm problemas básicos a serem resolvidos, como saneamento e saúde.
“Vemos startups com impacto muito alto e dando retorno financeiro. Um exemplo é o Nubank, que veio para resolver um problema de baixo acesso da população a produtos bancários. É esse tipo de oportunidades que temos aqui”, explicou.
Para Juliana De Podestá, head de ESG & Impacto na SP Ventures, as startups têm cumprido um papel fundamental na criação de soluções que geram impactos positivos, tanto do ponto de vista ambiental e climático, quanto no lado social. A gestora é especializada nas cadeias de agro e foodtechs.
“Se queremos resultados diferentes, temos que fazer diferente. E as startups têm um poder grande de desburocratização e de inclusão, elas já vêm com o objetivo de fazer as coisas de uma forma diferente. O papel da inovação é essencial”, apontou.
Mas apesar da baixa participação brasileira no investimento de impacto global, os investidores destacaram que o momento é positivo, com oportunidades e um grande potencial de atração de recursos para a região.
Dados do GIIN mostraram que o tamanho do mercado de investimentos de impacto aumentou em 2024, registrando US$ 1,6 trilhão de AUM. Em 2022, era de US$ 1,1 trilhão, indicando um crescimento de 45% em dois anos.
“Temos que celebrar o crescimento dos investimentos de impacto globalmente, mas é preciso acelerar ainda mais. Ainda tem mais dinheiro financiando a velha economia, como combustíveis fósseis e guerras, que superam esse US$ 1,6 trilhão. O Brasil vem demonstrando com ações a intenção, e ainda está muito sub representado nesse cenário”, ponderou Ricardo Ramos, diretor executivo da Aliança pelo Impacto.