O ritmo de ofertas públicas para empresas financiadas por fundos de venture capital está em uma grande seca nos últimos três anos. Segundo dados do PitchBook, o mercado não esteve tão desaquecido desde 2011, o que deixou centenas de empresas na sala de espera de uma oferta pública. Só no mercado dos EUA, são cerca de 600 empresas na fila para um IPO – e quase metade desse volume não empresas de SaaS.
Segundo o relatório divulgado pela PitchBook, o gargalo está nos valuations, que chegaram a patamares recordes durante a pandemia, e também na taxa de juros elevada. Esses fatores foram decisivos na seca que se viu de IPO nos últimos anos – foram 40 em 2022, 41 em 2023 e 42 em 2024.
“Os três anos combinados somam apenas 63,7% do total de 2021 e mal ultrapassam 2020. Muitos listagens que ocorreram foram para empresas de saúde e biotecnologia que normalmente usam IPOs para financiamento adicional de ensaios clínicos, o que é totalmente diferente do propósito de criar ganhos realizados e impulsionar o crescimento para empresas de tecnologia”, diz o relatório.
Apesar da atividade lenta, em 2024, cinco unicórnios do setor de tecnologia abriram capital na bolsa norte-americana. Algumas dessas empresas tiveram um bom desempenho: o Reddit, por exemplo, atingiu um valor de mercado superior a US$ 30 bilhões após sua oferta inicial, que avaliava a empresa em pouco mais de US$ 5 bilhões.
No entanto, nenhum IPO teve sucesso suficiente ou reduziu a incerteza do mercado a ponto de incentivar mais startups a seguirem o mesmo caminho.
Entretanto, segundo contabilizou o PitchBook, o valor concentrado das empresas na fila de espera pelo IPO praticamente triplicou nos últimos cinco anos. Atualmente, são cerca de 601 empresas com capitalizações dignas de IPO, totalizando um valor agregado de US$ 1,576 trilhão.
“Mesmo que o crescimento no número de candidatos (ao IPO) desacelerou nos últimos dois anos, 68 empresas entraram no grupo em 2024, o que é mais de 50% superior ao número de empresas que completam uma listagem”, diz a PitchBook no seu estudo.
Falando especificamente de SaaS, o PitchBook contabilizou cerca de 294 empresas prontas para um possível IPO, o dobro do volume em comparação com 2021. Entretanto, na arena das empresas tech, agora a competição está mais acirrada, especialmente com a rápida valorização das companhias de inteligência artificial – atualmente, são cerca de 170 já capitalizadas o suficiente para tentar uma oferta pública.
Atualmente, 170 empresas de IA atingiram os níveis de capital típicos de companhias que abriram capital no passado — um aumento de 2,4 vezes em relação a três anos atrás. Nos últimos anos, vários IPOs bem-sucedidas vieram desse setor, embora nem todos tiveram uma transição tranquila para o mercado público. A Tempus AI e a Pony.ai, por exemplo, estrearam na bolsa com avaliações cerca de 50% menores do que seus picos de valorização no mercado privado.
Apesar das notícias não muito animadoras, o relatório do PitchBook traz um fio de esperança. Segundo eles, a expectativa é que mais IPOs sejam vistos em 2025, mas eles passarão por ajustes – em 2024, diversos uniórnios que fizeram seu IPO tiveram que cortar seus valuations.
“Investidores estão priorizando caminhos claros para a lucratividade, o que mantém as startups em um nível padrão mais elevado do que nos anos anteriores. À medida que mais empresas permanecem privadas, o mercado de potenciais candidatos a IPO ficará mais lotado, especialmente para setores como tecnologia, IA, fintech e saúde. As startups precisarão determinar como se destacar e atrair investidores juros, especialmente à medida que a liquidez pública disponível diminui”, pontua o PitchBook.