O mercado de IPO, que enfrentou um período de retração nos últimos anos devido à instabilidade econômica global, pode começar a dar sinais de recuperação em 2025. Apesar das dificuldades recentes, projeções mais otimistas apontam para o retorno das ofertas públicas de ações, impulsionado por um cenário de juros mais baixos e maior apetite por risco entre investidores.
Nesse período de incerteza, muitas grandes empresas privadas optaram por aguardar a melhora dos mercados públicos, utilizando seus estoques de capital para atravessar o período de instabilidade. No entanto, toda startup apoiada por venture capital, eventualmente, precisa realizar exit, seja por meio de uma aquisição ou pela entrada no mercado público.
Com a possibilidade de retomada, algumas empresas já começam a se preparar para lançar IPOs e captar recursos que financiarão suas próximas etapas de crescimento. Entre os destaques estão startups consolidadas em seus nichos de mercado e empresas mais maduras que veem no IPO uma oportunidade de fortalecer sua governança e expansão.
De setores como saúde, finanças e inteligência artificial até varejo e biotecnologia, essas companhias podem agitar o mercado de IPOs, encerrando a calmaria dos últimos três anos. O sucesso dessas operações, no entanto, ainda dependerá de fatores externos, como o humor dos investidores globais, o controle da inflação e a confiança na recuperação econômica.
Nesse contexto, o Crunchbase News identificou as 13 empresas com maior probabilidade de abrir o capital, caso o mercado de IPOs volte a aquecer em 2025. Confira:
Cerebras Systems
A Cerebras Systems, fabricante de chips de inteligência artificial, parece estar a um passo de se tornar uma empresa pública. A startup entrou com pedido de IPO em setembro, mas enfrentou atrasos devido a uma revisão de segurança nacional dos EUA relacionada ao investimento minoritário que recebeu da G42, sediada nos Emirados Árabes Unidos. Apesar disso, a Cerebras deve avançar com sua estreia no mercado público em breve, dado o momento favorável para as desenvolvedoras de chips de IA.
A Nvidia, por exemplo, solidificou sua posição como uma das – se não a mais – empresas mais valiosas do mundo, enquanto o setor de venture capital segue investindo fortemente em tecnologia de chips. Além disso, o sucesso recente da Astera Labs, que fornece soluções de conectividade de dados e memória para algumas das maiores fabricantes de chips do mundo, apesar da queda nas ações após o pico inicial, demonstra o apetite por empresas desse segmento no mercado público.
CoreWeave
A plataforma de nuvem de IA CoreWeave teve um ano intenso em 2024. Em maio, ela levantou US$ 1,1 bilhão em uma rodada de investimento liderada pela Coatue, atingindo um valuation de US$ 19 bilhões, segundo o The Wall Street Journal. Pouco depois, a empresa garantiu uma linha de crédito de US$ 7,5 bilhões com nomes como Blackstone, Magnetar Capital e Coatue, além de uma linha de crédito adicional de US$ 650 milhões.
Esse influxo de capital reflete a ambição da CoreWeave de se posicionar como líder no crescente mercado de IA. A startup oferece acesso aos chips de IA da Nvidia por meio de uma ampla rede de data centers. Em novembro, a Reuters reportou que a CoreWeave planeja abrir o capital em 2025, mirando uma avaliação superior a US$ 35 bilhões. Analistas do Crunchbase observam que com o mercado de IA em alta e sua infraestrutura robusta, a empresa parece bem posicionada para transformar essa meta em realidade.
Snyk
Enquanto a Wiz, uma das maiores startups de segurança em nuvem, é amplamente aguardada no mercado público após sua captação de US$ 1 bilhão com valuation de US$ 12 bilhões no ano passado, outra empresa cibernética com raízes israelenses merece atenção: a Snyk.
A desenvolvedora de segurança de aplicativos apresentou resultados notáveis em 2023, aumentando sua receita em 50%, alcançando US$ 220 milhões, e reduzindo suas perdas em 33%, segundo documentos arquivados na Companies House do Reino Unido. Esses números positivos podem colocar seu esperado IPO de volta em evidência.
Embora a Snyk tenha enfrentado uma queda de valor de mercado no final de 2022 — passando de US$ 8,5 bilhões para US$ 7,4 bilhões durante uma Série G de US$ 196,5 milhões liderada pela Qatar Investment Authority —, a empresa já captou cerca de US$ 1 bilhão no total e continua sendo uma forte candidata para o mercado público. Seus avanços em receita e eficiência operacional sugerem que o IPO pode estar mais próximo do que muitos imaginam.
SymphonyAI
O ano de 2025 parece ser ideal para a estreia da SymphonyAI no mercado público. Em novembro, a empresa contratou Ravi Narula como CFO, profissional com vasta experiência em liderar empresas como Ooma, Gigamon e BigBand Networks em suas ofertas públicas iniciais. Além disso, há relatos de que a startup já está em conversas com bancos para estruturar o processo de IPO.
Com sede em Palo Alto, Califórnia, a SymphonyAI alcançou uma taxa de execução de receita de US$ 500 milhões e já é lucrativa. Fundada em 2017 por Romesh Wadhwani, a empresa desenvolve soluções de IA preditiva aplicáveis a diversos setores, como previsão de demanda de produtos. Antes de fundar a SymphonyAI, Wadhwani também criou o Symphony Technology Group, uma firma de capital privado voltada a investimentos em software e serviços tecnológicos.
Com o mercado de IA em alta e investidores ansiosos por soluções que aproveitem o potencial da inteligência artificial preditiva, a SymphonyAI está bem posicionada para capturar essa oportunidade. A expectativa é de que o segundo semestre de 2025 seja decisivo para a empresa, consolidando-a como um novo destaque no mercado público.
Stripe
Os últimos anos foram de uma verdadeira montanha-russa para a Stripe. A fintech, que chegou a valer mais de US$ 95 bilhões em 2021, perdeu mais de US$ 40 bilhões em valor de mercado em dois anos e, em 2022, queimou mais de US$ 500 milhões de seu caixa. Apesar disso, a fintech continua sendo vista como uma forte candidata para o IPO, mantendo-se em destaque graças a movimentos estratégicos que não só ajudaram a recuperar seu valuation, mas também reforçaram seu preparo para os mercados públicos, mesmo sem a urgência de uma oferta imediata.
Fundada há 14 anos, com sedes em Dublin e São Francisco, a Stripe foi avaliada em US$ 65 bilhões no início de 2024. Em 2023, a empresa ultrapassou a marca de US$ 1 trilhão em volume processado de pagamentos, contratou Steffan Tomlinson como CFO e passou a divulgar cartas anuais para investidores, sinalizando maior transparência. Além disso, levantou US$ 6,5 bilhões em março de 2023, voltados para fornecer liquidez a funcionários atuais e antigos, e realizou uma oferta pública em fevereiro de 2024 para que os colaboradores vendessem ações com base na mesma avaliação.
Com fluxo de caixa positivo, como declarado em sua carta anual, a Stripe conseguiu aliviar a pressão para um IPO imediato, especialmente ao abordar questões de liquidez dos funcionários. Embora a empresa permaneça em silêncio sobre seus planos futuros, sua posição financeira sólida e os passos dados sugerem que ela está pronta para o mercado público. Por enquanto, a Stripe continua sendo uma das principais empresas a serem observadas no ecossistema fintech.
Klarna
A Klarna é outra que não perdeu o otimismo. Uma das mais badaladas e financiadas do planeta, a startup sueca de Buy Now Pay Later registrou prejuízo superior a US$ 1 bilhão em 2022. No mesmo ano, a empresa, que chegou a ser avaliada em US$ 45,6 bilhões, reduziu o seu valuation em 85% ao aceitar um downround significativo para levantar recursos. Durante esse período, a Klarna anunciou uma rodada de US$ 800 milhões, com um valuation de US$ 6,7 bilhões post-money.
No entanto, a fintech tem mostrado sinais de recuperação. A empresa reportou US$ 1,2 bilhão em receita no primeiro semestre de 2024, um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2023. Além disso, teve um lucro operacional ajustado de US$ 62 milhões. A Klarna também diz ter implementado uma série de melhorias operacionais, como a redução de custos no atendimento ao cliente por meio do uso de inteligência artificial.
Desde sua entrada no mercado dos Estados Unidos em 2015, a Klarna tem se destacado por seu crescimento. A empresa anunciou que sua receita nos EUA cresceu 38% no primeiro semestre de 2024 em comparação ao ano anterior. A concorrente norte-americana Affirm já fez sua oferta pública inicial no início de 2021 e foi avaliada em US$ 21,6 bilhões em dezembro, com uma receita trimestral recente de US$ 698 milhões. A Klarna, portanto, segue acompanhando de perto esses movimentos enquanto se prepara para sua estreia no mercado público.
Revolut
A Revolut, terceira fintech mais valiosa no Crunchbase Unicorn Board, é uma forte candidata para abrir o capital em breve. Maior banco digital do Reino Unido, a companhia dobrou sua receita em 2023, chegando a US$ 2,2 bilhões, e registrou lucro antes dos impostos de US$ 545 milhões, além de lucro líquido de US$ 428 milhões.
Com quase uma década de vida, a Revolut é a fintech mais jovem da nossa lista, mas já se consolidou como uma potência no setor. Seus primeiros investidores incluem a Balderton Capital e a Index Ventures.
Para efeito de comparação, o Nubank abriu o capital em dezembro de 2021 e viu suas ações subirem cerca de 45% em 2024, sinalizando o potencial de crescimento que empresas do setor podem ter ao ingressar no mercado público. Isso coloca a Revolut em uma posição vantajosa para seguir o mesmo caminho, considerando seu forte desempenho financeiro e o crescente interesse por soluções bancárias digitais.
Hinge Health
A Hinge Health está se preparando para um possível IPO no início de 2025, já tendo contratado o Morgan Stanley para liderar a oferta, conforme divulgado pelo Business Insider em setembro.
Com sede em São Francisco, a startup oferece serviços de fisioterapia virtual e foi avaliada pela última vez em US$ 6,2 bilhões durante uma Série E de US$ 600 milhões em 2021, liderada por Tiger Global e Coatue. Desde sua fundação, em 2014, a empresa levantou mais de US$ 826 milhões de investidores de risco, de acordo com o Crunchbase.
Em preparação para a abertura de capital, a Hinge Health tem se concentrado em fortalecer suas finanças e se tornar positiva em termos de fluxo de caixa. Como parte dessa estratégia, a startup demitiu 10% de sua força de trabalho no início de 2024, adaptando-se ao atual clima de investimento ao reduzir custos e reforçar sua posição para a transição aos mercados públicos.
Element Biosciences
Como destacado pelo Crunchbase, as startups de biotecnologia apoiadas por capital de risco costumam abrir o capital antes das empresas de tecnologia. Nesse contexto, a Element Biosciences, uma empresa de sete anos e US$ 678 milhões em financiamento de capital até o momento, parece pronta para dar o próximo passo rumo a uma oferta pública.
Com sede em San Diego, a startup se especializa em ferramentas de análise genética para o mercado de pesquisa e, no ano passado, levantou US$ 277 milhões em uma Série D, com o apoio de investidores de destaque como Fidelity e T. Rowe Price, conhecidos por seu envolvimento em ofertas pré-IPO.
Suas linhas de sequenciadores de DNA competem diretamente com a gigante da indústria Illumina, colocando a empresa em uma posição estratégica para explorar uma possível abertura de capital.
Navan
A Navan, plataforma corporativa de rastreamento de viagens e despesas anteriormente conhecida como TripActions, tem sido uma daquelas empresas que sempre parece estar prestes a abrir o capital, mas continua privada. Agora, analistas do Crunchbase se dizem confiantes de que 2025 será o ano da abertura de capital para a empresa de nove anos, que supostamente entrou com um pedido confidencial de IPO em 2022.
Embora já esperava-se que a empresa abrisse o capital no ano passado, há sinais de que 2025 realmente será o ano de sua estreia no mercado público. Recentemente, a Navan contratou Amy Butte, ex-CFO da Bolsa de Valores de Nova York, como diretora de finanças. Além disso, a empresa divulgou que as reservas de viagens aumentaram quase 2x em relação ao ano anterior.
StubHub
A plataforma de ingressos online StubHub parece estar se preparando para um IPO há algum tempo parece estar se preparando para um IPO, especialmente com o retorno de shows e eventos ao vivo após a pandemia.
De acordo com a CNBC, a StubHub, sediada em São Francisco, estava fazendo planos para um IPO em meados de 2024, visando uma avaliação de US$ 16,5 bilhões. No entanto, em julho, a companhia adiou seus planos devido às condições de mercado desafiadoras.
Apesar desse atraso, a empresa continuou discretamente com os preparativos, ao contratar Connie James como nova CFO. A executiva ocupava a mesma posição na empresa Light & Wonder, que é de capital aberto, conforme relatado pelo The Information em agosto.
Embora até o final de 2024 não tenha surgido mais atualizações sobre o IPO da StubHub, ainda parece razoável acreditar que, se as condições de mercado se estabilizarem em 2025, a empresa possa novamente agendar sua estreia pública.
Discord
Prestes a completar 10 anos em 2025, o Discord tem sido uma das plataformas de comunicação mais populares do mundo, inicialmente voltada para gamers, mas que se expandiu para outras comunidades online.
Durante sua trajetória, a empresa, com sede em São Francisco, levantou quase US$ 1 bilhão de investidores privados, incluindo nomes como Benchmark, Tencent, Greylock, Spark Capital, Index Ventures, Greenoaks e Sony Interactive Entertainment. Sua mais recente rodada de financiamento foi uma Série H de US$ 500 milhões, concluída no final de 2021, liderada pelo Dragoneer Investment Group, com uma avaliação de US$ 15 bilhões.
Em uma possível preparação para um IPO, o Discord tem focado em diversificar suas fontes de receita, um movimento estratégico que inclui a introdução de produtos publicitários gamificados como o Video Quests, que recompensa os usuários por interagir com anúncios em vídeo. Essa estratégia é semelhante aos passos dados pelo Reddit, que também buscou diversificar suas receitas, principalmente por meio de publicidade direcionada e licenciamento de dados para modelos de linguagem de IA, ajudando a plataforma a reduzir suas perdas e se aproximar da lucratividade antes de seu IPO em março de 2024.
Canva
O Canva, gigante do design gráfico sediado em Sydney, Austrália, está mais uma vez na rota para um IPO – e desta vez, há fortes indícios de que 2025 pode ser o ano. A empresa, que já figurava nas previsões de 2023, sinalizou com clareza que está se preparando para uma oferta pública ao contratar Kelly Steckelberg como CFO em novembro. A executiva foi a responsável por ajudar o Zoom a se tornar uma empresa pública, o que fortalece a expectativa de que o Canva também esteja mirando o mercado de capitais.
A empresa levantou US$ 2,5 bilhões em várias rodadas de financiamento com investidores como Bond, Felicis, General Catalyst, Dragoneer Investment Group, T. Rowe Price, Coatue e Iconiq Capital, e recentemente foi avaliada em US$ 32 bilhões em uma venda secundária de ações.
Com uma receita anualizada de cerca de US$ 2,5 bilhões e lucratividade consolidada por sete anos, o Canva está posicionada de forma estratégica para atrair investidores públicos.