IPOs

Os IPOs tech estão de volta, mas será que estão mesmo?

Redução na oferta pública da CoreWeave jogou um grande ponto de interrogação sobre o esperado revival dos IPOs

Será que os IPOs estão de volta? | Foto: Canva
Será que os IPOs estão de volta? | Foto: Canva

Nas últimas semanas, o mercado tem mostrado expectativa com o anúncio de novos IPOs de startups, com nomes como a fintech Klarna e a hyperscaler CoreWeave, despertando o interesse de investidores. Entretanto, será que estamos em meio a um aquecimento da bolsa ou é cedo para dizer?

A CoreWeave, operadora de data centers para IA, anunciou seu IPO com o plano de captar US$ 4 bilhões, a uma avaliação superior a US$ 35 bilhões, tornando-se a maior oferta pública inicial (IPO) de uma empresa de tecnologia neste ano. Já a Klarna, conhecida por sua oferta de “buy now, pay later” (BNPL), fez o seu pedido de IPO com planos de arrecadar mais de US$ 1 bilhão, a uma avaliação de US$ 15 bilhões.

Segundo revelaram fontes de mercado ao Financial Times, essas ofertas, juntamente a pelo menos outros três, poderiam ocorrer ainda no primeiro semestre. Outra possível oferta pública inicial é a da plataforma de negociação de varejo eToro, que anunciou no mês passado a intenção de listar suas ações em Nova York, mirando uma avaliação superior a US$ 5 bilhões.

A primeira da fila, a CoreWeave, anunciou sua listagem para esta sexta (28), e com isso veio o primeiro ponto de interrogação para este revival dos IPOs.

A CoreWeave reduziu o tamanho de sua oferta pública e precificou suas ações abaixo da faixa indicada, informou a empresa nesta quinta-feira, esfriando as expectativas de que a listagem impulsionaria o apetite dos investidores por IPOs. A empresa, que conta com o apoio da Nvidia, agora pretende vender 37,5 milhões de ações, uma redução de 23,5% em relação ao planejado inicialmente, com uma meta de captação de US$ 1,5 bilhão, bem abaixo do plano inicial.

Segundo destacaram fontes à Reuters, a estreia da CoreWeave na bolsa tem sido acompanhada de perto como um teste da força da recuperação do mercado de IPOs nos EUA e para avaliar se o entusiasmo dos investidores por novas empresas de IA continua forte ou começou a enfraquecer.

O número de operações no mercado de capitais dos EUA, incluindo IPOs e vendas em bloco de ações, caiu para 187 nos primeiros três meses deste ano, abaixo das 243 registradas no mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Dealogic. O valor total dessas transações também diminuiu, passando de US$ 74,02 bilhões para US$ 63,48 bilhões.

Este não é o primeiro grande IPO deste ano que não atendeu às expectativas.

Em janeiro, a exportadora de gás Venture Global reduziu seu preço em mais de 40% em relação à meta inicial na maior oferta pública do ano. Ainda assim, suas ações caíram no primeiro dia de negociação. Na época, banqueiros disseram a clientes que o desempenho fraco era específico da empresa e não refletia a demanda geral dos investidores por novas listagens.

Os banqueiros esperavam que 2025 marcasse o retorno à normalidade para o mercado de IPOs, após três anos em que muitas empresas privadas evitaram abrir capital. Segundo destacaram fontes à MSNBC, um desempenho fraco da CoreWeave pode atrasar – ou até mesmo inviabilizar – esses planos.

A seca no Brasil

E no Brasil, como vão as coisas? O fato é que a B3 sofre a maior seca de sua história, que já dura quase quatro anos sem novas listagens. E segundo a própria bolsa, não tem muita expectativa de que o cenário vá se reverter no curto prazo, especialmente com os juros altos.

“Continuo vendo empresas trabalhando suas agendas para se tornarem companhias abertas”, disse Gilson Finkelsztain, CEO da B3, durante almoço com jornalistas no início de fevereiro. “O fato de estarmos vivendo um momento global, de política monetária mais apertada, diminuiu o volume de IPOs no mundo todo, não foi um efeito só no Brasil”.

Com um início de um processo de retomada de ofertas no exterior, Gilson acredita que, naturalmente, as empresas brasileiras voltam a se inserir nessa discussão. “Este ano, porém, é mais difícil ficar otimista para uma reversão de tendência de emissões de ações”.

Além disso, segundo outros conhecedores no mercado, caso o mercado de ações se aqueça no Brasil, as empresas de tecnologia não serão prioridade em uma eventual volta dos IPOs.

Na época de abundância, como em 2021, alguns excessos minaram o mercado nacional, quando startups avaliadas em poucas centenas de milhões de reais “se emocionaram” e resolveram ir para a bolsa, com resultados desastrosos.

Um exemplo é o da GetNinjas, que fez um IPO valendo R$ 321 milhões, e despencou na bolsa a ponto de fazer no ano passado uma Oferta Pública de Aquisição (OPA).

“Você olha para o mercado e é fato que grande parte das empresas listadas são da economia tradicional. Na bolsa brasileira temos ainda um agravante. É pequena, apenas com 200 empresas listadas. Para investir em uma empresa tech em um mercado de baixa liquidez, é muito mais difícil”, opinou Fabiana Fagundes sócia-fundadora da FM/Derraik, durante o Web Summit Rio passado.