A fintech americana Jeeves, que anunciou sua chegada ao Brasil em março, iniciou oficialmente sua operação no país. Mas ao contrário do que se poderia esperar, a startup não desembarcou por aqui com seu cartão de crédito corporativo. O início da operação está acontecendo pela oferta de crédito para startups.
Segundo Fernando Torres, diretor de operações da Jeeves no Brasil, apesar de contraintuitiva, a decisão de começar a pela oferta de crédito fez mais sentido na estratégia da fintech por ser mais fácil e rápido. “O cartão é mais complexo, demanda um processo longo de credenciamento se você quiser ser emissor direto. Estamos trabalhando para ter isso. Por isso optamos por começar com a linha de crédito, plugados em um parceiro”, conta. O nome escolhido, no caso, foi a QI Tech, que atua com banking as a service.
Na avaliação de Fernando, a Jeeves não deve ter problemas no processo de concessão de créditos por não ter um histórico de dados locais para usar nas análises dos pedidos. Isso porque ela pretende se beneficiar do que já foi construído em outros países da América Latina onde já atua – México, Peru e Colômbia. “Não é exatamente igual, mas os problemas são parecidos. Tem similaridades que conseguimos aproveitar os aprendizados deles”, explica.
Momento propício
Além da questão da velocidade de chegada ao mercado, Fernando diz que a oferta de crédito se encaixa bem no atual momento do mercado, em que a aversão ao risco está fazendo os investimentos em startups ficarem mais restritos.
A proposta é que as companhias possam acessar as linhas da Jeeves – que oferecem juros mais baixos que o mercado financeiro tradicional – para não precisarem fazer diluições desnecessárias em um momento de baixa. “Diante do cenário de incertezas, elas ganham fôlego para suportar o mercado de venture capital”, reforça Fernando.
As linhas de crédito da Jeeves têm valores que começam em R$ 500 mil. Além das startups, estão no alvo também empresas tradicionais. Neste caso, no entanto, é preciso ter um porte específico: uma receita anual de pelo menos R$ 1,2 milhão.
Segundo ele, a oferta de crédito vai servir com um preparativo para a operação com o cartão corporativo. A expectativa é que quando a oferta for lançada é que a operação local terá realmente uma aceleração em termos de clientes – uma vez que é mais fácil liberar um cartão com alguns milhares de reais de limite, do que conceder empréstimos de R$ 500 mil.
Prioridade
O Brasil, diz Fernando, é a prioridade zero de crescimento para a Jeeves e a expectativa é terminar o ano com uma equipe de até 30 pessoas. Hoje são duas.
As contratações, no entanto, não vão acontecer da noite para o dia. “Quando você faz uma contratação em massa, traz 20 pessoas de uma vez só, a qualidade do time pode não ser a que você precisava. Quando você busca um perfil específico, é melhor gastar mais tempo”, diz.
De acordo com ele, apesar do atual cenário de incertezas, não há ordem para segurar investimentos. “Vamos continuar crescendo, mas entendendo melhor com isso vai acontecer. Mas vamos continuar avançando”, diz.
Oferta global
A Jeeves nasceu nos EUA há pouco mais de 1 ano e já está presente em 24 países. A meta é chegar a 40 nos próximos 2 anos. A proposta da companhia é ser um provedor de serviços financeiros completo e global para as empresas. Isso significa que uma companhia brasileira chegando aos EUA, por exemplo, não vai precisar abrir conta em um banco local. Bastará habilitar a opção de operação no país.
“Uma coisa é uma startup chegar em um país e tentar abrir uma conta bancária sem um histórico. Outra é eu saber que ela tem dinheiro de uma rodada grande no país de origem dela e poder aproveitar essa informação”, diz Fernando.
Perguntado se para atingir esse objetivo a companhia acabará por se tornar um banco, o executivo disse que isso ainda é incerto por conta das diferentes regras nos diferentes países. “Por incrível que pareça isso acaba sendo mais fácil no Brasil do que em outros lugares por conta da regulação mais favorável”, explica.
Mesmo com pouco tempo de operação, a Jeeves companhia captou US$ 280 milhões em 3 rodadas de investimento, além de abrir, ela própria, uma linha de crédito de US$ 100 milhões para investir. Em março, a companhia dizia ter uma lista de 3 mil clientes. Entre eles estão nomes como Bitso, Kavak, Belvo e Merama.
Com operação no Brasil, essas empresas estão na lista dos possíveis novos clientes a serem atendidos assim que o cartão de crédito for liberado por aqui. “Já estamos em testes para entender o comportamento das empresas”, adianta.