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Kovi levanta R$ 500 mi para popularizar carro por assinatura

Kovi levanta R$ 500 mi para popularizar carro por assinatura

Quem anda pelas ruas de São Paulo certamente já se deparou com um carro com um adesivo meio rosa colado na base do porta-malas escrito Kovi. Mas quem é essa tal de Kovi? De forma resumida, uma locadora de carros que não tem carros. “Nos consideramos uma fintech que entrega para as pessoas o carro e usa o balanço dos outros [locadoras, concessionárias e montadoras] para se alavancar”, resume Adhemar Milani Neto, cofundador da companhia.

Nascida em 2019, ela tinha como proposta trabalhar com a crescente categoria de motoristas de aplicativos. Mas daí veio a pandemia e os planos mudaram. Para compensar a queda brutal na demanda por conta das medidas de isolamento, a startup decidiu embarcar em uma outra tendência crescente, a dos carros por assinatura.

E não é que deu muito certo? Em pleno 2020, a companhia cresceu 70% e agora, acaba de levantar uma rodada de R$ 500 milhões (mais de US$ 100 milhões) para tocar seu plano de expansão e ajudar a popularizar esse conceito. O objetivo é chegar a uma frota de 20 mil carros na rua até o fim do ano, quase o dobro do que ela tem hoje, o que vai exigir a contratação de mais 200 pessoas, chegando a um time de 900 profissionais.

Expansão internacional

O crescimento virá do aumento da atuação no Brasil e também da aceleração do plano de expansão internacional, com foco no México, onde ela já atua, e em outros países da América Latina. Perguntado sobre os outros países nos quais a companhia pretende atuar, ele cita Peru, Colômbia e Chile, mas diz que ainda o roteiro não está definido por conta das incertezas trazidas pelo atual cenário. A começar pela própria oferta de veículos, que está restrita globalmente por conta da falta de chips.

“Tivemos um crescimento de 6 vezes em 8 meses de operação no México e já somos a maior empresa de carro por assinatura por lá”, diz Adhemar, destacando que a chegada em um novo país é rápida por conta do modelo de operação que não prevê a construção de uma frota própria, mas parcerias com concessionárias, montadoras e mesmo outras locadoras, que fornecem os veículos.

Hoje a Kovi tem contratos com montadoras como Volkswagen, Renault Nissan e Toyota. Dentre as locadoras estão nomes como a Maestro Frotas. Na semana passada, uma delas, a Fleet Services foi comprada pela Movida. A avaliação de Adhemar é que a gigante do mercado deve permanecer como sua fornecedora.

“Talvez o nosso modelo não seja tão lucrativo quanto o das grandes locadoras que compram e revendem carros, mas acreditamos que o modelo colaborativo é funciona de forma global no longo prazo”, diz Adhemar.

Novos produtos

Também está no roteiro o lançamento de novos serviços. Em março a Kovi lançou, em parceria com uma seguradora, um seguro que pode ser contratado por quem não assina um carro com ela. O que pode parecer um desvio de foco, faz parte de uma estratégia de oferecer algo com custo-benefício tão bom que quem contrata sinta vontade de, em algum momento, ter um carro com assinatura com ela.

Enquanto isso, a Kovi coleta uma porção de dados sobre o comportamento do motorista que ajudam a melhorar o seu negócio. Já falei que ela desenvolvimento um sistema de rastreamento próprio para equipar a frota?

Segundo Adhemar, são 40 milhões de quilômetros de dados gerados por mês “Começamos a operar com um perfil de cliente com altíssimo risco de crédito que ninguém queria servir e provamos que com uso de tecnologia conseguimos dar acesso. Agora a ideia é transformar o conceito de ter um carro em algo mais amplo”, diz.

A rodada

A série B foi liderada pelo Valor Capital e coliderada pela Prosus Ventures, o braço de investimento da Prosus, a companhia que reúne os negócios no mundo digital da sulafricana Naspers. Mas nem precisava apresentar por que você já leu sobre os planos dela para a América Latina aqui, no Startups, né?

Além dos dois, participaram Quona, GFC, Monashees, Ultra Venture Capital, Globo Ventures, Maya Capital, ONEVC, Norte e PIPO (do Gustavo Ashends) além de Justin Mateen (co-fundador do Tinder) e o family office do co-fundador do PayPal, Peter Thiel.

Em sua captação anterior, em 2019, a companhia tinha levantado R$ 150 milhões (US$ 30 milhões).

O Startups apurou que a Kovi foi avaliada em US$ 400 milhões na operação.

Segundo Adhemar, a opção pelo Valor e pela Prosus como líderes veio, em grande parte, pela experiência nas áreas de mobilidade e de fintechs da primeira e pela capacidade de ajudar na expansão internacional e nas sinergias com a OLX, o maior classificado de carros da América Latina, que podem ser exploradas com a segunda.

Potencial de mercado

Segundo Adhemar, o mercado de carros por assinatura tem potencial de chegar a 7 ou 8 milhões de veículos na próxima década, segundo projeção feita pelo Goldman Sachs. A conta inclui os motoristas de aplicativo e aquelas pessoas que optam por não ter um carro próprio.

Na disputa por esse contingente, a Kovi terá que enfrentar não só outras locadoras, que já têm suas ofertas de carros por assinatura, mas também as próprias montadoras, que estão lançando as suas ofertas próprias. A Volvo, por exemplo, fala em ter metade de seu negócio vindo desse modelo já em 2025.

Adhemar diz que a competição de fato é com os bancos, que financiam veículos a taxas altíssimas e ressalta que o modelo da Kovi é mais democrático e acessível por cobrar por quilômetro rodado e não exigir o uso de cartão de crédito, ou depender de análise de histórico de crédito para aprovar uma contratação.

A Kovi oferece dois planos de assinatura: o Seu jeito, que não tem fidelidade e oferece carros seminovos e o Max, com modelos zero quilômetro e permanência mínima de 12 meses. Os dois têm preços a partir de R$ 299 por semana. No momento a contratação do Max não está disponível pelo excesso de demanda. A ideia é retomar  a oferta no fim do mês. O Seu jeito também está com limitações, apenas com modelos sedan.