Era uma tarde de terça-feira quando Brian Requarth mandou um e-mail para alguns investidores. A ideia era sondar o mercado para uma captação para a Latitud, negócio fundado por ele Gina Gotthilf e Yuri Danilchenko. Em 3 dias, o fundador do ZAP tinha as propostas para fechar a 1ª rodada do negócio que acaba de completar dois anos de operação. E não foi qualquer captação.
São US$ 11,5 milhões em uma rodada seed que, para os padrões latinos, tem mais perfil de uma série A, ou mesmo uma série B. O aporte foi liderado pela Andreessen Horowitz e contou com a participação de Endeavor, Canary, FJ Labs e da NFX. Também entraram fundadores de negócios como Nubank, Kavak, Rappi, Creditas, dLocal, Bitso, Auth0 e Cornershop.
De acordo com Brian, a ideia é construir a base para o crescimento do mercado de startups da América Latina daqui em diante. “Com o influxo de capital e o crescimento das companhias, o ecossistema está passando por um teste de estresse e está prestes a quebrar, como fala o Yuri. A infraestrutura é ultrapassada, com processos manuais que atrasam tudo. A resistência começa antes mesmo de se abrir uma empresa. Alguém precisa ser essa autoestrada que acelera as coisas”, defende ele.
Dentre os pilares atendidos estão o início de um negócio, a distribuição do produto, recrutamento e a captação de investimentos. Para fazer isso, ela vai desenvolver produtos próprios, mas também fazer parcerias com outras empresas. Hoje com um time de 25 pessoas, a Latitud vai triplicar o número nos próximos meses.
Na semana que vem, dia 5, a companhia fará um evento online no qual abrirá à comunidade a oportunidade de também investir na operação.
Histórico até agora
A Latitud nasceu com um programa de imersão de 6 semanas voltada a fundadores e fundadoras que conta com a participação de nomes como David Vélez e Sérgio Furió. Depois, ampliou sua atuação criando um fundo próprio, o Latitud Ventures; um programa de formação para investidores anjo; uma plataforma de lançamento de produtos semelhante ao Product Hunt, o Latitud Launch e, mais recentemente, um serviço para abertura de empresas nos EUA, o Latitud Go. “Começamos pela comunidade, apoiando os fundadores, mas sempre soubemos que queríamos ter uma atuação mais ampla”, diz Yuri.
Normalmente citada como a “Y Combinator” da América Latina”, Brian diz que a Latitud será, na verdade, a maior indicadora de novas startups para a aceleradora americana – que fará seu tradicional demo day nesta semana.
Nas contas da Latitud, são mais de 800 fundadores apoiados que levantarem US$250 milhões, em uma avaliação coletiva de US$ 1,5 bilhão. Em 2 anos, a companhia recebeu US$ 1 milhão de investimento de seus fundadores.
No futuro, a Latitud pode vir a se tornar uma empresa global, uma vez que os problemas que ela resolve são semelhantes também em regiões como África e o Sudeste Asiático. Mas, por enquanto, a ideia é olhar mesmo só do México à Argentina, diz Brian.
Cenário do mercado
O anúncio do aporte chega duas semanas depois de o cofundador do GuiaBolso, Benjamin Gleason, apresentar seu novo empreendimento, a fintech Kamino, que também tem uma pegada de apoiar fundadores em sua jornada. Em fevereiro, a Trace Finance levantou um seed de R$ 22 milhões para criar uma conta digital para startups nos EUA.
A rodada também acontece em um momento de incertezas econômicas que já começou a afetar os valuations de startups nos EUA e que certamente trará um “corte de cabelo” para os negócios latinos nos próximos meses.
Para Yuri, essas variações momentâneas são naturais e não afetam os planos. “Estamos olhando em décadas, no longo prazo. Se o mercado secar em 2 anos, não importa. Nos próximos 20 anos, as principais empresas da região será as empresas que estão começando hoje”, avalia.