A Layers Education, edtech que quer se tornar uma espécie de sistema operacional que facilita o uso e gerenciamento de diferentes tecnologias educacionais, acaba de receber um aporte de R$ 11,2 milhões. O investimento seed foi liderado pelo Endurance, com participação de SQUARE Knowledge Ventures, Faber-Castell Ventures e dos investidores-anjo Rodrigo Dantas (Vindi), Paulo Silveira (Alura) e Lincoln Ando (IdWall).
Segundo os cofundadores Danilo Yoneshige e Ivan Seidel, os recursos serão usados para desenvolver a tecnologia e contratar novos talentos. A startup tem 35 colaboradores e 100 vagas abertas para todos os setores. Juntos, esses investimentos devem apoiar a expansão dos negócios por todo o Brasil.
A companhia transacionou R$ 48 milhões de janeiro a outubro de 2021 e, agora, quer aumentar o volume em mais de 200% nos próximos 10 meses. Também está nos planos aumentar a presença nacional para 3.000 escolas – hoje são 600 instituições e 11 redes de ensino, entre elas o Grupo Marista, a Rede SESI e o Colégio Objetivo.
“Desde que criamos a LE, em 2018, a ideia é resolver problemas do dia a dia escolar”, diz Danilo, que antes de empreender foi coordenador educacional do Zoom e professor de tecnologia educacional no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo.
Histórico
Há 3 anos, Danilo se juntou com Ivan, engenheiro de software formado pela Universidade Federal do ABC, que ele já conhecia há quase uma década de campeonatos de robótica, para criar um produto na área educacional: um marketplace para conectar escolas, pais e alunos aos fornecedores de serviços, materiais e livros didáticos.
A proposta chamou a atenção de empresas como a Faber-Castell, que fez um investimento pré-seed de valor não revelado na companhia. O aporte foi o 1º feito pela marca, e aconteceu 1 anos antes dela criar seu fundo de investimento em companhias iniciantes. Depois do investimento, a Layers triplicou o faturamento anual e saltou de 90 mil para 350 mil alunos atendidos em 2020.
Com o início da pandemia, uma experiência pessoal de Danilo abriu os olhos para uma nova oportunidade. “Meu filho de 5 anos tinha que usar umas 5 ferramentas, com logins diferentes para assistir às aulas, fazer as tarefas e acessar a agenda digital”, conta Danilo. Acrescente a isso a necessidade de um pai de administrar outros aplicativos para acessar as notas e pagar os boletos e está dada a receita do caos diário.
Para atacar esse problema, a dupla de fundadores optou não por desenvolver um novo conjunto de ferramentas próprias que as escolas pudessem contratar, passando a ter apenas um fornecedor. O caminho escolhido foi o de criar uma camada de integração de diferentes produtos. Ivan faz uma analogia com um sistema operacional como o Windows, onde diferentes programas de diferentes desenvolvedores são instalados e funcionam sob uma base comum.
Assim, ao invés de acessar 5 ferramentas diferentes, um aluno pode usar apenas um login para entrar no aplicativo da Layers e acessar de tudo. Por trás dos panos, os diferentes sistemas continuam rodando como sempre. “Enquanto muitas startups reduziram os investimentos, nós percebemos que não podíamos pisar no freio”, diz Danilo.
A rodada
A nova fase da startup incentivou os empreendedores a buscarem mais capital. “Mesmo crescendo 3 vezes ao ano nos 2 anos anteriores, não conseguiríamos mais crescer organicamente. Precisávamos injetar dinheiro para manter a tração”, diz Danilo.
Foram 6 meses e mais de 50 reuniões com fundos nacionais e internacionais. O plano era levantar US$ 2 milhões mas, no final das conversas, o volume na mesa era 3 vezes maior. “Não aumentamos a rodada, porque não queríamos ter uma diluição maior. A ideia era conseguir o dinheiro para estruturar o negócio”, explica Danilo. Sem experiência como startupeiros, e sem nunca ter feito um pitch na vida, os fundadores tiveram o apoio do Lincoln Ando, que já era conhecido deles, para estruturar todo o processo de captação.
A Endurance será um parceiro para a expansão da Layers Education no Brasil. A edtech, que começou trabalhando só com escolas privadas de educação básica, vai avançar para as universidades privadas e instituições do Sistema S – um misto de público e privado que reúne entidades empresariais voltadas para serviços de interesse público, como treinamento profissional, consultoria e assistência técnica-social. O Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Sesc (Serviço Social do Comércio), Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) fazem parte desse sistema.
“Existe muito espaço no sistema público e construímos a plataforma pensando nessa expansão”, observa Ivan. Entre as funcionalidades úteis para o setor público, ele destaca o recurso offline Famílias, alunos e professores podem carregar as informações em um ambiente com conexão e armazená-las para acessar depois em um lugar sem internet.
Danilo acrescenta que, com a Endurance, a Layers recebe um suporte para M&As. “Vamos ficar de olho em edtechs que podem nos apoiar nessa jornada de impacto e crescimento.” Sem muitos detalhes, ele também adiantou para o Startups que quer investir em outras empresas com venture capital, para incentivar o setor de educação no Brasil.
Vale a pena?
“Não nos vemos como um concorrente das outras edtechs”, afirma Ivan. Isso porque, na prática, a Layers funciona como um grande hub. Ao invés de desenvolver um produto para competir com outras salas de videoconferência, ambientes de aprendizagem ou plataformas de organização escolar, a Layers integra as soluções de outras edtechs, fortalecendo o ecossistema de soluções digitais.
“Tem muitos players com ótimas soluções para melhorar o ensino, e as escolas podem escolher qual é o melhor para a sua proposta pedagógica, financeira e acadêmica. Independentemente da escolha, a experiência do usuário tem que ser fácil e intuitiva. Nosso sistema operacional abraça todos os aplicativos e os conecta em uma única ferramenta”, explica Danilo.
Ivan complementa: “A Layers Education serve como um grande unificador. Nossa plataforma tem várias aplicações independentes, que não foram desenvolvidas pela LE. As startups criam soluções para resolver a dor do mercado, e nós as ajudamos a crescer, conectando os produtos com as escolas que também precisam dessas ferramentas. Não tem mais ninguém fazendo isso no Brasil.”
Em águas internacionais, o modelo mais semelhante é o da Clever, startup norte-americana adquirida pela Kahoot, plataforma de aprendizado baseada em jogos, por US$ 500 milhões. Segundo Ivan, ela detém mais de 70% do mercado e funciona muito bem na área pública do país.
Por que é bom para as startups entrarem na rede da Layers? Conquistar clientes. “Temos várias empresas parceiras, que criam soluções para facilitar o dia a dia das escolas. Elas sim podem ser concorrentes entre si”, diz Danilo. Segundo o empreendedor, a escola vai escolher o melhor serviço para seu modelo pedagógico e, muitas vezes, busca um app que esteja integrado na Layers, para facilitar a experiência do usuário. “Então, para as empresas, é interessante fazer parte da plataforma.”