Gigante low profile

Exclusivo: Jusbrasil atrai Warburg Pincus e amplia foco no B2B

Já no break even e em estágio série D, legaltech avança em nova fase de crescimento pautada pela inovação

Luiz Paulo Pinho, sócio e cofundador do Jusbrasil
Luiz Paulo Pinho, sócio e cofundador do Jusbrasil | Foto: Divulgação

Após se consolidar como a maior plataforma de inteligência jurídica do país, o Jusbrasil vive uma nova fase de crescimento pautada pela inovação. A empresa vem fortalecendo sua atuação no setor B2C, ao mesmo tempo em que expande para os segmentos B2B e B2G e investe continuamente em tecnologia. O objetivo é desenvolver produtos e funcionalidades escaláveis que tornem o acesso a informações jurídicas mais fácil e acessível para o público geral, além de atender instituições públicas, grandes empresas e escritórios de advocacia.

Como parte dessa estratégia, a companhia acaba de lançar o Jusbrasil Soluções, uma nova unidade de negócios que marca a sua expansão para o B2B e o B2G. Até então, a legaltech oferecia produtos corporativos por meio da Digesto, empresa adquirida em 2021 mas que deixa de existir com a integração das soluções em uma única plataforma. O intuito é oferecer uma solução ainda mais robusta e analítica, incluindo lançamentos para áreas de risco e compliance.

“Hoje, nosso principal mercado é o B2C, com foco em pessoas comuns e advogados privados. Mesmo assim, vemos o B2B como uma grande alavanca de crescimento, tanto para nós quanto para os parceiros, que podem utilizar essas informações jurídicas em diversas questões, incluindo de compliance”, afirma Luiz Paulo Pinho, sócio e cofundador do Jusbrasil, em entrevista exclusiva ao Startups. “Nossa lógica é oferecer um conjunto de soluções que resolva todas as necessidades relacionadas à informação jurídica, seja para empresas privadas ou entidades governamentais.”

A Presidência do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) assinou recentemente um protocolo de intenções com o Jusbrasil. O acordo busca promover pesquisas em conjunto, compartilhamento de informações e troca de experiências para análise de dados processuais públicos. “Contribuir com o ecossistema, com o poder público e incentivar novas políticas públicas é algo incrível. O Brasil ainda carece de uma estrutura de dados robusta para apoiar a tomada de decisões. Acreditamos que podemos agregar muito ao setor público com iniciativas como essa”, observa Luiz.

A expectativa do Jusbrasil é dobrar a receita da operação B2B/B2G no próximo ano. “Estou extremamente animado com tudo que está acontecendo. Temos conseguido demonstrar o valor do Jusbrasil que já estava claro para os profissionais do Direito – para organizações e órgãos governamentais”, destaca Luiz. O executivo revela que mantém diversas conversas com entidades do governo que já estão testando a tecnologia. “Hoje, já vemos o Jusbrasil sendo utilizado pela pessoa jurídica, a pessoa física e também pelo governo. Com essa tríade estabelecida, o futuro promete ser bem promissor”, pontua.

Gigante low profile

A plataforma do Jusbrasil conta hoje com um acervo de mais de 1,2 bilhão de documentos públicos provenientes dos sistemas de justiça de todo o país, abrangendo mais de 1.400 fontes de dados jurídicos. Com uma equipe de mais de 600 colaboradores, a plataforma recebe mais de 30 milhões de usuários únicos por mês e reúne mais de 80% dos advogados brasileiros em sua base de cadastros.

Ainda assim, a empresa não é de se gabar. Desde sua fundação, em 2008, o Jusbrasil adota uma postura reservada, construindo uma reputação sólida sem fazer alarde, focando no produto, na geração de valor e no crescimento sustentável. Essa abordagem low profile permitiu à legaltech priorizar a qualidade e a inovação de seus serviços, expandindo seu impacto sem se desviar de sua missão original, tornando-se referência na integração de tecnologia com o Direito.

O Jusbrasil é apoiado por grandes fundos de investimento, incluindo monashees, SoftBank e Founders Fund. Em 2021, o Startups apurou que a legaltech havia levantado uma rodada série C de US$ 32,5 milhões. O aporte foi registrado na SEC, órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, em março daquele ano, como parte de uma rodada maior de US$ 38 milhões.

Ao Startups, Luiz revela que a legaltech fez uma nova rodada em outubro de 2023, uma série D liderada pela Warburg Pincus. Embora o cofundador não abra o valor do investimento, dados do Crunchbase indicam que a rodada alcançou US$ 86.1 milhões.

Segundo a base proprietária do Distrito Dataminer, o Jusbrasil recebeu seu primeiro investimento em 2013, e em 2016 levantou US$ 1,8 milhão em sua rodada série A. Em seguida, a startup obteve uma série B de US$ 7,7 milhões. Dados do Crunchbase confirmam que a legaltech já captou um total de US$ 128 milhões, distribuídos em cinco rodadas de investimento. Não há informações disponíveis sobre o valuation da empresa.

“Provavelmente, não vamos pensar em uma nova rodada no futuro próximo”, avalia Luiz. No entanto, ele não descarta totalmente essa possibilidade. “O mercado é rei. Dependendo do que venha pela frente, pode fazer sentido ou não”, pontua.

De maneira discreta, o Jusbrasil também tem avançado em sua estratégia de M&As. A companhia comprou a Bipbop, especializada na captura de dados de sites, portais e sistemas públicos e privados por meio de crawlers e uso de machine learning. Além disso, a plataforma incorporou a Jurídico Certo e a Teewa em 2018 e 2019, respectivamente, e a Digesto, em 2021.

Embora não revele números de receita ou faturamento, Luiz confirma que o Jusbrasil opera no breakeven. “A lógica é otimizar os recursos para garantir que a empresa continue crescendo de forma sustentável”, explica. Sobre novos M&As, ele admite que a estratégia está sempre no radar. “Estamos constantemente atentos ao mercado, avaliando quais empresas e expertises podem ser incorporadas ao portfólio do Jusbrasil e como podemos usar nossa força para expandir novos negócios”, afirma.

Tecnologia no centro

Parte essencial na estratégia do Jusbrasil é a busca contínua por inovação. A empresa quadruplicou seus investimentos em tecnologia nos últimos três anos, com foco em infraestrutura e segurança da informação, resultando no desenvolvimento de soluções mais seguras e inteligentes.

“À medida que uma empresa cresce, ela pode acabar ficando um pouco engessada. Talvez hoje essa seja a nossa principal guerra: não nos deixar engessar. Estamos sempre tentando crescer e desenvolver nossas expertises para continuar no topo da onda”, declara Luiz. “Nossa grande preocupação é fazer isso com responsabilidade, oferecendo informações fidedignas que realmente traduzam a realidade da informação jurídica”, acrescenta.

Com o recém-lançado Jusbrasil Soluções, a proposta é oferecer soluções escaláveis que integram dados de forma ágil e proporcionam uma experiência de uso self-service, garantindo autonomia aos clientes. Em paralelo, a empresa tem desenvolvido novas funcionalidades baseadas em inteligência artificial generativa com o objetivo de tornar o Direito mais acessível ao público.

As ferramentas “Entender” e “Resultados Enriquecidos”, disponíveis no Consulta Processual e em Jurisprudência para os assinantes de Pesquisa Jurídica, utilizam tecnologia para traduzir o “juridiquês”, simplificando a linguagem técnica dos processos e permitindo que os usuários compreendam claramente as movimentações e o status atual de seus casos. Com a ferramenta “Resultados Enriquecidos”, os advogados têm acesso a um resumo contextualizado de cada decisão judicial, o que, segundo o Jusbrasil, ajuda a evitar que os profissionais consumam decisões irrelevantes para sua pesquisa, tornando a triagem mais eficiente e alinhada com o que procuram.

De acordo com Luiz, a empresa continuará expandindo a oferta de funcionalidades baseadas em IA Generativa nos próximos meses, com o objetivo de fornecer aos usuários inteligência jurídica que torne o ecossistema do Direito mais eficaz e acessível.

Sócios fundadores do Jusbrasil no primeiro escritório da empresa em Salvador
Sócios fundadores do Jusbrasil em 2008, no primeiro escritório da empresa em Salvador (Foto: Divulgação)

Sobre o Jusbrasil

Luiz Paulo Pinho, Rafael Costa, Rodrigo Barreto, Daniel Murta, Gustavo Maia e Osvaldo Matos Júnior começaram o Jusbrasil movidos pelo inconformismo. “A gente não se enxergava trabalhando para grandes empresas e, com esse inconformismo, tivemos a ideia de montar o próprio negócio”, conta Luiz.

A ambição era grande: criar um buscador de internet profunda. “A gente tentou concorrer com o Google e, obviamente, a ideia não deu muito certo”, relembra Luiz. “Chegamos a ganhar um prêmio de melhor alternativa de busca ao Google, concedido pelo segundo maior blog de tecnologia do mundo, mas depois tivemos um pouco de bom senso e decidimos reduzir o escopo de atuação.”

Em vez de tentar organizar a informação do mundo todo, eles optaram por criar uma plataforma que reunisse ‘apenas’ a informação pública brasileira. “Isso já é bastante coisa. É um nicho extremamente vasto, e o volume de informação pública disponível na internet é enorme, e estava completamente desorganizado”, afirma.

A vantagem foi que a experiência anterior deu aos empreendedores a expertise necessária para transformar o Jusbrasil em realidade. Ao tentar criar o buscador, aprenderam sobre técnicas de SEO e como posicionar a plataforma no topo das pesquisas, em uma época em que não tinham recursos para investir em publicidade.

“O que fizemos foi pegar as informações que estavam soltas e transformá-las em algo mais palatável. Nossa grande surpresa foi que funcionou muito bem. No início, pensávamos que a lógica do Jusbrasil seria entregar informação jurídica especificamente para o profissional do Direito. No entanto, percebemos que a plataforma não se resumia a isso e atraía também o público em geral”, destaca Luiz.

Enquanto o Brasil registrava cerca de 700 mil advogados, o Jusbrasil alcançava quase 1 milhão de usuários por mês logo nos primeiros anos de operação. “Vimos que não eram só os advogados que estavam acessando o nosso site. Da mesma forma que a doença dói mais para o paciente do que para o médico, o principal interessado no processo jurídico é a pessoa comum que passa por ele, e não o advogado. O profissional é uma ferramenta para que a pessoa tenha seus direitos resguardados, mas quem sofre as consequências da decisão é ela”, conclui.