A mudança de nome da Intelijus para Forlex foi apenas o primeiro passo de uma estratégia bem maior: ganhar o mundo com sua inteligência artificial para o setor jurídico. A legaltech, que foi anunciada recentemente como a ferramenta oficial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), já vem rodando provas de conceito fora do país — com empresas como Ambev, no escritório da Holanda, e a Qatar Airways, nas operações no Reino Unido.
“Estávamos começando a negociar provas de conceito no exterior e ninguém falava o nome da empresa correto. Nos perguntamos se isso iria nos assombrar no futuro e aproveitamos para fazer o rebranding, mudando para Forlex“, conta Daniel Bichuetti, co-CEO e CTO da empresa, em entrevista ao Startups.
Mas os desafios para internacionalizar um negócio como este vão além de uma mudança de nome. Fundada em 2023, a Forlex desenvolveu um agente de IA com conhecimento jurídico específico, baseado no contexto regulatório brasileiro. Ou seja, leis brasileiras, jurisprudências brasileiras, bases processuais brasileiras etc.
Levar essa IA para outros países significa treinar o modelo em cima de uma base de dados completamente nova, específica para aquele sistema jurídico. Segundo Daniel, a Forlex começou a coleta de dados internacional há cerca de dois anos, com países como Estados Unidos, Reino Unido, França, Portugal, Espanha, Itália, Alemanha e Holanda.
“O objetivo é entender não apenas a lei, mas se o país adere à Common Law ou ao Direito Romano, além de outras questões. Por exemplo, como a jurisprudência é aplicada. No Brasil, não se usa nem jurisprudência de cinco anos atrás. Nos EUA, há precedentes de 1890 que são citados”, explica o co-CEO.
No momento, porém, o foco principal da Forlex é na parceria com a OAB para oferecer sua plataforma de IA, chamada LIVIA, para toda a base de 1,5 milhão de advogados de todo o país inscritos na Ordem. A ferramenta funciona como uma espécie de advogado digital, “para ser um assistente dos advogados”, ressalta Daniel.
Um diferencial da Forlex para outras legaltechs é que a empresa desenvolveu seu próprio modelo de linguagem. Ou seja, não usa infraestrutura desenvolvida por empresas estrangeiras, como OpenAI. Isso, segundo Daniel, torna o uso da ferramenta mais atrativo para entes públicos brasileiros, por uma questão de segurança dos dados.
Na prática, a LIVIA funciona como um chatbot de IA generativa convencional. Porém, treinado com fontes de informações jurídicas, incluindo legislação, jurisprudência e referências acadêmicas. Hoje, a ferramenta atua como um assistente jurídico com nível técnico equivalente ao de um profissional sênior, diz a empresa.
“Estamos priorizando segurança do ponto de vista da alucinação, e a parceria com a OAB é uma oportunidade de estarmos mais perto dos profissionais e acelerar a tração. Eles podem dar feedbacks, mas não temos acesso aos dados desses advogados”, aponta Daniel.
A expectativa da legaltech é faturar R$ 648 milhões por ano a partir da parceria com a OAB. Em 2024, a startup já faturou R$ 3 milhões e registrou um crescimento de 500% em relação ao ano anterior. A Forlex levantou no ano passado uma rodada pré-seed de R$ 3,6 milhões liderada pela Vinci Ventures.
Para os planos de internacionalização, porém, a legaltech planeja abrir uma nova rodada de captação no futuro. “Ano que vem, depois de estabilizar essa parceria com a OAB, vamos abrir uma rodada para fazer uma penetração mais agressiva nos caixas mundiais”, diz Daniel.