A JudIT é mais uma legaltech a entrar no mercado, mas ao mesmo tempo ela não é. Enquanto vários outros players que misturam tecnologia e dados jurídicos ainda estão de olho no consumidor final, a startup buscou um outro caminho. Com sua tecnologia de processamento de dados, o plano da empresa é ser a legaltech que atende outras legaltechs, assim como grandes empresas.
“Queremos ser uma AWS de acesso aos dados jurídicos, com velocidade e preço”, dispara Leonardo Rebitte, cofundador da JudIT ao lado do CEO João Ângelo e o CIO Guilherme Silva. Aliás, Leonardo não é marinheiro de primeira viagem no ecossistema. Empreendedor serial, ele foi fundador da fintech Mutual e da idtech CAF – e agora abraçou um novo desafio de olho no segmento jurídico.
“Resolvi escolher o mercado jurídico por ser um setor ainda carente de inteligência, pela dificuldade no acesso aos dados de tribunais. Tem players que fazem isso, não com a qualidade e velocidade que as empresas buscam”, completa Leonardo, em conversa com o Startups, que permanece na CAF como membro do Conselho.
Entretanto, segundo os executivos da legaltech, o desafio foi mais complicado do que esperavam. A companhia iniciou suas operações no começo de 2023, desenvolvendo um motor interno de busca de informações. “Não sabíamos que seria difícil pra car***o”, avalia Leonardo.
Segundo o executivo, a dificuldade está na falta de padronização nos sistemas judiciários, o que é um problema na hora de consolidar as informações. Mesmo assim, a JudIT encarou o desafio. “A partir da experiência que temos em tecnologia, utilizamos a criatividade na forma de acessar e reunir os dados, mesmo com as restrições em várias bases”, completa João Ângelo.
O impulso que faltava para o desenvolvimento da plataforma veio de conhecidos de Leonardo – a legaltech recebeu um investimento seed no valor de R$ 1,2 milhão de Leonardo e Darryl Green, ex-CEO da CAF e investidor no mercado financeiro com experiência em empresas globais de meios de pagamento.
Atualmente, por meio de suas APIs, a JudIT já conseguiu colocar mais de 90 tribunais e mais de 18 sistemas diferentes em sua base, atendendo diversos territórios em todo o país. “Criamos a solução no primeiro semestre de 2023, começamos a prospectar em julho, e os primeiros contratos saíram em setembro”, pontua Leonardo.
Já no seu primeiro ano, conquistou 25 clientes, entre eles Uplexis, Jusfy, Omnijus, EasyCrédito, Fitbank, Ouro Preto Investimentos, SBK Capital, Bankap e Cronos Bank. Para 2024, o plano é mais do que dobrar essa base, chegando a 60 clientes e uma receita de R$ 20 milhões.
Crescimento sustentável
Apesar de se posicionar como uma “legaltech das legaltechs”, os sócios da JudIT afirmam que outros segmentos também estão na mira para sua prospecção. “Tem muita fintech que usa nossos dados na hora do onboarding. Por exemplo, criamos para um clientes uma regra de negócio para pesquisar e localizar pré-precatórios, algo bem específico”, afirma Leonardo.
Segundo o CEO da JudIT, atualmente a base de clientes está bem diluída, de pequenos a grandes players, mas o objetivo é de abocanhar mais contratos graúdos. “Estamos em conversas com empresas de porte enterprise, com POCs e negociações com bancos grandes”, revela João.
Mesmo com a visão ambiciosa, internamente a JudIT não pensa em dar passos maiores que as pernas. Segundo João, internamente a companhia pretende se manter enxuta, com um time de no máximo 40 pessoas, apostando na capacidade de escala da tecnologia desenvolvida, sem precisar de tantos colaboradores pra isso. “Contratamos de forma pontual, trazendo profissionais de nível senior e todo mundo colocando a mão na massa”, afirma o CEO.
De acordo com Leonardo, esse planejamento permitiu à JudIT já operar no breakeven, sendo que só “queimou” metade do investimento recebido no ano passado. “Por enquanto a gente não tá pensando em captar, o foco é se manter lucrativa sempre, crescer a partir da receita”, pondera Leonardo.
“Nosso foco é em volume, mas a tecnologia foi pensada para entrar de forma rápida e barata nesses sistemas, reunindo de forma padronizada na hora das pesquisas dos clientes”, explica João. Por conta disso, a JudIT não tem maiores planos de desenvolver produtos adicionais, preferindo atender outras startups. “Se você cria a base para aquisição desses dados, abre oportunidade até para outros players inovarem”, completa.
Um exemplo disso foi com a legaltech Jusfy, que utilizou o motor da JudIT para desenvolver um aplicação de busca de processos, baseada em registro da OAB dos advogados.
Inclusive, segundo Leonardo, cases como esse tem chamado até a atenção de players conhecidos do mercado para utilizar a tecnologia da legaltech. “Estamos em conversas com um dos maiores, se não o maior player B2C de informações jurídicas do país para ele usar nossa tecnologia”, finaliza Leonardo, sem revelar o nome da tal empresa.