Há cerca de uma década, o mercado de serviços financeiros começa a viver uma verdadeira revolução. Com novas regras, novas tecnologias e a velha insatisfação dos clientes, uma nova geração de negócios foi criada, trazendo novos serviços, mais acesso à população e interesse dos investidores. Agora, a Lemon Energia quer surfar a mesma onda, mas no mercado de energia, com seu marketplace que conecta produtores de energia solar e consumidores.
“Existe regulação nova que fala sobre geração distribuída, tem a tendência de ESG e não existe uma empresa tecnológica que está na frente de tratar o cliente com user experience, costumer experience. A Lemon quer ser essa empresa. A gente vê que é possível criar uma indústria diferente”, diz Luciano Pereira, cofundador e diretor de tecnologia (CTO) da Lemon.
Para ser essa empresa, a climate tech nascida em 2019 acaba de levantar uma série A de R$ 60 milhões. O aporte foi liderado pela Kaszek, em sua 1ª incursão no segmento de energia, e contou com a participação do fundo americano Lowercarbon Capital, do investidor Chris Sacca, especializado em impacto, que faz seu début na América Latina. Também entraram Kevin Efrusy (ex-Accel) e Sergio Furio (Creditas). A companhia já tinha levantado dinheiro com Big Bets, Norte, Canary e Ambev em duas rodadas anteriores.
De acordo com Rafael Vignoli, fundador e presidente da companhia, os recursos serão usados para dar à companhia a escala que ela quer ter, com investimento em tecnologia, design e expansão geográfica. A ideia é ampliar a atuação dos atuais 6 estados para mais de 10 principalmente nas regiões Nordeste e Sul e também em São Paulo. Nos próximos meses, serão contratadas 40 pessoas.
O plano é que até 2025 a base atual de 3 mil clientes salte para 250 mil. “É um mercado novo, mas com crescimento exponencial. São mais de 80 milhões de unidades consumidores de energia no Brasil. E que não são clientes, são pagadores de conta”, diz Rafael.
Modus operandi
A Lemon opera conectando produtores de energia solar a consumidores. O foco está em estabelecimentos comerciais (B2B). A contratação é feita pelo site da companhia, sem a necessidade de nenhum investimento ou obra. Em um prazo de até 60 dias, o estabelecimento começa a receber uma conta da Lemon.
Ao se tornar cliente da companhia o cliente “aluga” um determinado número de placas que vão fornecer a quantidade de energia que ele precisa para abastecer o seu negócio. “É a placa solar as a service”, brinca Luciano. Pelas regras do setor, só é possível fazer essa operação se o produtor e o consumidor de energia estiverem no mesmo estado. Por isso a Lemon precisa ampliar sua presença para mais estados.
Segundo Rafael, se o consumo passar do contratado inicialmente, o excedente é cobrado pela distribuidora de energia como sempre e não há risco de ficar sem energia. De acordo com Luciano, um dos desenvolvimentos que a companhia vem fazendo é de sistemas que possam prever e fazer esse balanceamento.
A Lemon, obviamente não está sozinha na tentativa de conquistar esse mercado. A Sunne tem um modelo parecido. Já a Meu Financiamento Solar (que recentemente participou da série Dá o Start, no canal do Startups no Instagram), a Solfácil e a Nextron (ambas investidas da Valor Capital) estão indo em um modelo um pouco diferente, de financiamento para quem que instalar placas solares em sua casa.
A rodada
De acordo com Rafael, a Lemon conversou com 70 fundos para fazer a captação. “A gente se sentiu educando o mercado mesmo sobre o assunto. E acho que vamos ter esse papel”, conta.
Segundo ele, apesar do cenário conturbado do mercado, o aporte saiu porque a climate tech está inserida em um segmento novo, para o qual a maior parte dos fundos ainda não tem uma tese definida (então há espaço para tentativas). Além disso, ela mostrou bons unit economics. “Temos crescimento com baixo custo de aquisição”, diz.
Isso acontece porque a Lemon se alavanca em parceiros para chegar aos seus clientes. O destaque, é claro, á para a parceria com a sua investidora Ambev, que tem uma rede de centenas de milhares de estabelecimentos comerciais espalhados pelo Brasil e funciona como um canal de distribuição para a startup.
Rafael diz que a Lemon pretende entrar no mundo dos consumidores residenciais em algum momento, mas isso não vai acontecer neste momento. Ele acredita que ainda há muito a explorar no formato atual, agregando outros serviços às ofertas do marketplace, como a venda de seguros, por exemplo.