Os desafios de criar uma startup e empreender no Brasil são muitos. Burocracia, carga tributária, pressão e competitividade do mercado são apenas alguns exemplos de um dia normal de fundadores e fundadoras. Mas acredite: sem os obstáculos, os perrengues, não haveriam os aprendizados que orientam os caminhos de um novo empreendimento. Ninguém gosta de errar. Mas a verdade é que é preciso testar, testar e testar para se saber pelo menos o que não funciona, e tentar chegar no que vai funcionar.
Para Tatiana Pimenta, presidente da healthtech Vittude, os aprendizados são diários, mesmo após 5 anos no mercado. “Construir uma cultura forte, interagir com clientes de grande porte, pensar em governança e estruturar a cadeia de gestão, são aprendizados constantes”, diz. Formada em engenharia civil, área em que atuou durante 15 anos, Tatiana decidiu empreender no segmento de terapia online após passar por um período difícil tanto no pessoal como no profissional (também imaginou o Faustão dizendo essa frase?).
Ser resiliente é fundamental para aguentar o tranco e continuar a acreditar no seu negócio, ainda segundo ela. “Ouvimos mais nãos do que sim, é preciso estar com a auto-estima sempre lá em cima para conversar com potenciais investidores”, comenta. Tatiana inclusive faz terapia há anos, pratica corrida e meditação para manter o foco e produtividade em sua carreira.
A estratégia parece estar dando certo. Após um investimento anjo de R$ 600 mil em 2017, e um capital semente de R$ 4,5 milhões em 2019 (liderado pela Redpoint), a plataforma que conecta psicólogos e pacientes está em conversas para uma nova rodada de captação, muito maior, segundo Tatiana. Será que vem R$ 10 milhões por aí?
Quem também foi motivado por uma experiência própria para criar uma startup foi Sergio All, cofundador e presidente da Conta Black. Após ter o crédito negado no banco do qual era cliente, por ser negro, o empreendedor decidiu criar um serviço financeiro com acesso facilitado. A fintech foi fundada em 2017 com a proposta de ser uma conta digital para pessoas nas classes C, D e E.
“Estava tão focado em fazer o negócio acontecer que não me liguei na representatividade da minha raça, do peso e responsabilidade em um negro ser dono de um banco digital”, afirma Sergio. A Conta Black é o 2º negócio criado por ele. No fim da década de 90 (saudades dessa época) ele tinha montado uma agência de comunicação. Nos quase 25 anos de agência, bagagem e contatos. Ainda assim, cada mergulho é um flash.
“Acredito que o meu maior aprendizado como presidente de uma startup é entender que uma operação só roda saudável, quando enxergamos que as pessoas fazem parte da estratégia. E eu me incluo nesse grupo, só foi possível lidar de uma melhor maneira com as dificuldades, quando me coloquei no lugar de vulnerabilidade. Não acredito que exista uma fórmula pronta para o sucesso, mas tenho certeza que todos os dias acordo predestinado a ser o melhor possível”, comenta o cofundador da fintech.
A Conta Black possui hoje 18 mil membros, sendo 90% deles negros, e a expectativa para os próximos 18 meses é de aumentar este número para 100 mil. Mais adiante, em 10 anos, Sergio pretende vingar um IPO.
De presidente a investidor
Quem conhece a trajetória do norte-americano Brian Requarth, investidor-anjo em mais de 70 startups (Quinto Andar e Conta Simples foram algumas das agraciadas), não imagina que o empreendedor já se sentiu inseguro no comando de uma startup. Brian foi cofundador e presidente do VivaReal por mais de 10 anos, até a proptech ser vendida à OLX Brasil, no ano passado, por R$ 2,9 bilhões.
“A maioria dos presidentes de startups que estão em fase de crescimento nunca viveram isso antes, é uma experiência de muitos aprendizados. Eu mesmo tinha muita insegurança quando estava comandando o VivaReal por não ter todas as respostas”, diz Brian, que está agora a frente da Latitud, plataforma focada em financiar projetos inovadores na América Latina. Ele também preside o conselho do Grupo ZAP.
Na sua visão, não há um caminho perfeito para um empreendedor escalar suas habilidades. É uma jornada tortuosa, de erros e acertos. Para quem está começando, fica a dica: “Ouça o mercado, a necessidade do cliente. Empreendedores com pouca experiência ficam geralmente focados no que eles próprios querem, mas são os clientes que validam seu negócio”.