Logo no primeiro dia útil do ano, uma fusão de grande porte sacudiu o mercado logístico no país. A Sequoia, uma das maiores operadoras logísticas do país, anunciou um acordo com a Move3 para unir as suas operações e criar a segunda maior companhia de entrega de pacotes no país, atrás apenas dos Correios.
Segundo divulgado pelas companhias ao mercado, a Sequoia controlará 60% da nova companhia, enquanto a a Move3 ficará com os 40% restantes. A transação, feita por meio de uma troca de ações, ainda deve passar pela aprovação do Cade.
Com a fusão, a nova companhia terá receita líquida de mais de R$ 2,4 bilhões, cerca de 1 mil unidades operacionais e uma cobertura de 5.030 cidades, superando outras operadoras privadas do mercado local, como Jadlog e TotalExpress. Entretanto, o que essa consolidação de grandes players pode representar para o mercado em 2024?
“A fusão chega como um exemplo do que poderemos ver este ano, com grandes players tradicionais de logística unindo forças com empresas que investiram em tecnologia”, avalia João Cristofolini, ex-CEO da Pegaki, empresa que fundou e vendeu para a Intelipost. Segundo o empresário, a Sequoia tem volume e está recuperando suas finanças, e agora investiu para trazer para perto um player que investiu pesado em tecnologia para inovar em seus processos, que é o caso da Move3.
“A Move3 não é uma startup, pois já está no mercado desde os anos 90, mas ela investiu em inovação, com tecnologias como robôs e automação, se tornando um player regional bastante respeitado”, pontua João. Com sede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, a Move3 opera em um espaço de mais de 40 mil metros quadrados e é dona de 10 marcas, entre elas Flash Courrier, Moove+ e Rodoê.
Segundo destacaram as duas companhias, as marcas continuarão operando de forma independente, com estratégias comerciais próprias, mas a Sequoia une-se às marcas da Move3. Em um primeiro momento, as companhias calculam as sinergias possam render R$ 90 milhões em economias. Além disso, os centros de distribuição que estiverem no mesmo raio serão integrados, com uma projeção de redução de custos de R$ 24 milhões com a devolução de centros no primeiro ano de operação.
De acordo com João, que atualmente está à frente da ImLog, uma edtech para a formação de profissionais para logtechs, o movimento de uma gigante como a Sequoia (que tem investidores graúdos como a Warburg Pincus por trás), pode dar a letra para outros players olharem para o que as logtechs estão fazendo.
“As grandes tem o dinheiro e o volume, mas são as logtechs e players menores que estão pensando em inovação – mas falta o volume. Existem diversas outras Move3 espalhadas pelo país, e que podem juntar forças com os grandes players”, explica João.
Consolidação em tecnologia?
Nos números, a união de forças entre Sequoia e Move3 mostra uma consolidação principalmente em termos de volume, mas segundo as fontes ouvidas pelo Startups, em termos de tecnologia, estamos apenas no começo.
“Acho que a fusão é positiva para o mercado em geral, em especial para os clientes”, avalia Vasco Oliveira, CEO da nstech. O CEO da nstech, por sua vez, também não é um estranho a planos de consolidação no mercado logístico: no mercado há dois anos, a nstech tem investido pesado (cerca de R$ 1,5 bilhão) para criar um ecossistema de soluções tecnológicas para operadoras logísticas.
“São duas empresas que admiro e que juntas terão mais capacidade de concorrer nesse mercado crescente de last mile, ainda muito fragmentado, que ainda é liderado pelos Correios, que concorre com a iniciativa privada com subsídio ao não pagar impostos”, completa o CEO.
A Move3 também seu histórico de compras, trazendo logtechs para seu portfólio. Este ano, a empresa comprada foi a logtech Levoo, especializada em soluções de última milha (last mile). O valor da transação não foi divulgado, mas fez parte do orçamento de R$ 50 milhões da holding para fusões e aquisições em 2023.
Para João Cristofolini, com a Move3 a Sequoia ganha um diferencial para aumentar sua eficiência no last mile, mas este é apenas um dos desafios que as grandes operadoras logísticas ainda terão que enfrentar. “O mercado pode se consolidar no volume, mas em tecnologia ainda tem muito a explorar, em áreas que ainda são dores para as empresas. Logística reversa é um exemplo”, avalia.