Pouco depois de assumir o comando da OLX no Brasil, Lucas Vargas deixou a companhia.
O executivo, que foi presidente do VivaReal, depois do Grupo Zap, e estava como responsável pela operação da OLX com a conclusão da compra do Grupo ZAP – um negócio de R$ 2,9 bilhões anunciado no começo de 2020 – acaba de assumir o comando do banco digital Nomad. Criado pelo fundador do iFood Patrick Sigrist, Marcos Nader (Mercado Eletrônico, Comprova e DocuSign), Eduardo Haber (Advis Investimentos e Tribeca Partners) o Nomad tem como proposta oferecer acesso a serviços financeiros no exterior para brasileiros.
“Com a venda, você passa a fazer parte de uma coisa maior, o que é um momento de recomeço, de fazer novos alinhamentos. Então comecei a considerar um recomeço também em algum outro lugar. Achei que era o momento de dar um passo para trás e considerar tudo”, diz Vargas ao Startups.
Ele conta que com a venda de sua participação no negócio – a primeira liquidez que teve em 9 anos – avaliou buscar sócios para uma nova empreitada ou investir em outras empresas por meio de um fundo próprio. O que ele não queria era deixar de tocar uma operação. Além disso, era importante pegar algo em estágio inicial de desenvolvimento.
Em uma das conversas nesta busca, ele foi apresentado aos fundadores da Nomad, que estavam procurando um CEO para a companhia. A ponte foi feita pela Monashees, que liderou a rodada de R$ 30 milhões anunciada em dezembro/20 – que contou com a participação da Abstract e de Hans Tung, da GGV Capital. Coincidentemente (ou não), a gestora de Eric Archer também foi quem apresentou Vargas a Brian Requarth, fundador do VivaReal. “Chamamos o Lucas para complementar o time. Cada um de nós tem nossas habilidades e nossas vontades, contribui de formas distintas, todas necessárias para o sucesso da Nomad”, diz Sigrist. Com a movimentação, os fundadores continuam no dia a dia, olhando questões estratégicas e ajudando na construção da companhia.
Vargas, que se considera “um cara de startups, não um profissional do setor imobiliário” – apesar de ter registro no Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (CRECI-SP 172390) – acredita que consegue trazer para a Nomad sua experiência de acelerar o crescimento da operação (como fez no VivaReal) e também uma perspectiva diferente, mais associada à experiência do usuário, do que a que seria oferecida por alguém com experiência no setor financeiro.
Segundo ele, um dos principais pontos será trabalhar a educação dos consumidores, explicar o que é, como fazer e quais as vantagens de se ter patrimônio fora do país. “A diversificação serve como proteção Às questões inerentes ao nosso mercado”, diz sem dar detalhes de como isso será feito.
A Nomad foi lançada oficialmente em novembro/20, com quase um ano de atraso por conta da pandemia. A lista de espera chegou a 50 mil nomes e a companhia atualmente tem 10 mil clientes. O objetivo é chegar a 100 mil até o fim do ano. A equipe deve passar de 100 pessoas – contra 40 atualmente.
Além de uma conta digital para o público que ela chama de “afluentes” – pessoas de alta renda atendidos pelos segmentos premium dos grandes bancos (Santander Van Gogh, Banco do Brasil Estilo, Bradesco Prime e Itaú Personalitté) – a companhia oferece a opção de investimentos nos EUA, e pretende incluir atendimento em outros países.
A diversificação de ofertas também leva a uma diversificação de receitas. Atualmente a Nomad se remunera pelo spread no câmbio (2% em cima do dólar comercial, com IOF de 1,11%) e da taxa de interchange nas compras feitas com o cartão de débito com bandeira Mastercard.
Ter dinheiro fora tem começado a interessar os brasileiros por conta da queda dos juros e do surgimento de serviços que permitem fazer isso de forma simples e barata (e legal), como a corretora australiana Stake e a Avenue, do ex-XP Beto Lee, que também busca se tornar um banco digital.
Em entrevista ao Startups em novembro/20, Sigrist disse que a Nomad se diferencia da Avenue porque não tem mentalidade de banqueiro. “Queremos fazer uma coisa legal. Ganhar dinheiro vai ser consequência”, disse. A avaliação é semelhante à de um investidor, que não participou da rodada da companhia, mas gosta do que a fintech está fazendo. “Entre Avenue e Nomad eu aposto no Patrick. Ele tem a atitude correta”, diz.