A edtech carioca Árvore acaba de concluir a aquisição de duas empresas com o objetivo de acelerar o crescimento da plataforma no Brasil, além de colocar em prática os planos de internacionalização da companhia. As operações, de valor não revelado, incluem a compra da A Taba, empresa especializada em curadoria literária infantil e juvenil, e acquihire da Typper, startup de inteligência artificial para educação e design.
Fundada em 2014 com a missão de usar tecnologia para incentivar a leitura nas salas de aula, a Árvore desenvolve ferramentas que são utilizadas atualmente por 3,5 milhões de alunos em todos os estados do país, em mais de 1.200 escolas da rede privada e dezenas de redes públicas.
Com soluções divididas entre quatro categorias – Ler, Sentir, Comunicar e Criar –, a Árvore também tem trazido inteligência artificial para esses processos, com a criação de aplicações como a avaliação de fluência de leitura. Segundo João Leal, CEO da Árvore, a funcionalidade permite otimizar um processo que tradicionalmente levava de três a quatro meses, e agora é feito de forma instantânea.
“Você apresenta um texto para o aluno ler, e vai contando quantas palavras ele consegue ler por segundo de maneira correta, quantas errou, quantas omitiu etc. E esse processo leva tempo porque o professor tem que ouvir todo mundo, depois mapear esses resultados e tudo o mais. E a gente fez isso com a IA, dando uma devolutiva na hora. Com os resultados, conseguimos oferecer uma experiência mais personalizada. Então se um aluno do quinto ano está lendo como um aluno do segundo ano, a plataforma se adapta para mostrar livros que ele tenha capacidade de ler. E cruzamos isso com o gosto do aluno, dentro de uma temática que ele se interesse”, explica João.
O desenvolvimento dessa funcionalidade foi feito em parceria com a Typper, que também participou de um piloto para audiobook. Impressionado com a qualidade das entregas, João decidiu que era hora de trazer a equipe da startup para dentro da edtech.
A aquisição do time da Typper, fundada por João Barros, Mateus Coutinho, Carlos Mees e João Cunha, vai permitir à Árvore ampliar sua capacidade tecnológica, com foco em criar ferramentas que facilitem a gestão escolar, liberem tempo do professor e aumentem o impacto da leitura na aprendizagem.
“O que mais me motiva é trazer essa cultura de IA. Eu tenho 41 anos e eles, sei lá, 20 e poucos. Já nasceram no mundo da IA e têm uma perspectiva diferente e uma velocidade de construção impressionante. Não tenho dúvidas de que eles vão ajudar a acelerar uma cultura AI-driven na Árvore, levando isso para o time como um todo”, diz João.
Com as aquisições, tanto a A Taba quanto a Typper deixam de atuar de forma independente e suas equipes passam a estar totalmente dedicadas aos projetos da Árvore.
Fundadora da A Taba, Denise Guilherme é doutoranda em Literatura e Crítica Literária, mestre em Educação pela PUC-SP, e autora de livros infantis. Para João, a chegada de Denise ao time fortalece a visão da edtech de formar leitores em larga escala sem abrir mão da qualidade pedagógica e das experiências literárias.
“A Denise tem um embasamento pedagógico muito profundo e tem avançado em criar o primeiro currículo de leitura para o Brasil. Ou seja, quais livros um aluno do primeiro ano deveria estar lendo, quais deveria ler no segundo ano, e por aí vai. O que estamos fazendo é dar uma escala maior para ela dentro da nossa base, para testar e validar coisas. Ela vai assumir o cargo de diretora pedagógica na Árvore com o principal objetivo de criar esse currículo e aproximar a Árvore da Academia”, explica o CEO.
A chegada da executiva também vai de encontro aos planos de internacionalização da startup. Segundo João, as escolas públicas e privadas nos Estados Unidos costumam exigir que edtechs tenham algum embasamento científico para que possam oferecer suas soluções às instituições de ensino.
“Nossa expectativa é que a gente consiga desenvolver o melhor currículo de leitura do Brasil, com impacto e evidência, conseguindo comprovar isso a partir de parcerias com universidades do Brasil e do exterior”, aponta João.
Atualmente, a Árvore também atua com escolas bilíngues no Brasil, e tem uma versão da plataforma desenvolvida em inglês, com opções de livros em inglês e espanhol. Essas instituições, que antes usavam plataformas de fora do Brasil, têm ajudado a validar as soluções da edtech em outras línguas, afirma o CEO.
“Como a gente está conseguindo competir com essas plataformas de fora, queremos dar um passo maior e acelerar a ida a outros países com uma solução mundial”, diz.