
A Visma, gigante norueguesa de softwares de gestão, acabou de fazer um movimento de peso para entrar no Brasil. Para isso, ela anunciou a aquisição da catarinense Conta Azul, fintech especializada em ERP na nuvem.
Os valores do negócio não foram divulgados, mas o deal foi confirmado pela própria Visma e, segundo apurou a Bloomberg Law, o negócio gira em torno dos US$ 300 milhões – cerca de R$ 1,7 bilhão, e o Bank of America foi o assessor da operação, que ainda deve passar pelo crivo das autoridades reguladoras brasileiras.
De acordo com uma pessoa próxima à operação, o múltiplo aplicado ficou alinhado com benchmarks globais para empresas de software. Segundo o Nasdaq Emerging Cloud Index da gestora de venture capital Bessemer, a média de múltiplo de receita está em 8,9 vezes.
Em nota no site da Visma, o CEO global Merete Hveven destacou que o deal com a Conta Azul é um “marco” para sua empresa. “Acreditamos que sua plataforma inovadora [da Conta Azul] e sólida posição de mercado representam a base ideal para o nosso crescimento de longo prazo no Brasil”, afirmou, em nota.
Do lado da Conta Azul, o CEO Vinicius Roveda afirmou em comunicado que a operação acontece em um momento decisivo para a companhia. “Com a expertise e os recursos da Visma, estamos ainda mais preparados para fortalecer nossa proposta de valor e ampliar nosso alcance e impacto no Brasil”, destacou na nota divulgada pela Visma.
O “namoro” da Visma com a Conta Azul começou em maio, quando a empresa norueguesa fez oficialmente uma proposta pela startup, com valores girando em torno de R$ 1,5 bilhão, conforme revelaram fontes ligadas à startup. Na época, porém, Vinicius negou uma possível venda de sua companhia.
O Startups apurou que as conversas com a Visma começaram depois que a Conta Azul recebeu uma proposta de compra por parte de uma outra empresa. A oferta foi negada, mas acendeu a curiosidade para saber como o mercado avaliava o negócio. Foi aí que o Bank of America foi contratado com o mandato de explorar opções.
Com a transação, todos os investidores anteriores da Conta Azul – nomes como Monashees, Tiger Capital, Ribbit e BTG Pactual – saíram do negócio, assim como os fundadores José Sardagna e Vinícius Roveda.
Atualmente a Conta Azul atende cerca de 100 mil pequenas e médias empresas brasileiras com seu ERP na nuvem. Entretanto, em conversa com o Startups no fim do ano passado, ela já estava ensaiando novos movimentos para crescer no mercado local, como a adição de serviços financeiros à sua plataforma, após receber do Banco Central a licença para operar como Instituição de pagamentos (IP).
“É um marco muito legal em uma semana complicada para o Brasil”, disse um executivo do mercado. “Indica que o país está no radar. Será a primeira transação de muitas”, complementou.
Quem é o comprador?
Caso você esteja se perguntando quem é essa tal de Visma, aqui vão algumas informações. Fundada ainda nos anos 90 em Oslo, a Visma se tornou uma empresa privada em 2006 após ser adquirida pela gigante britânica de private equity HG Capital.
Desde então, a companhia se estabeleceu como um player regional de ERP para pequenas e médias empresas – uma proposta semelhante à da Conta Azul – atualmente contando com cerca de 2,1 milhões de clientes e uma receita de US$ 3,2 bilhões.
Na Europa, a Visma tem planos de um IPO, tanto que anunciou no fim de junho a expectativa de fazer sua oferta pública na bolsa de Londres no primeiro semestre do ano que vem. O último valuation divulgado para a companhia foi no fim de 2023, quando foi avaliada em US$ 21 bilhões depois de uma rodada privada.
Aliás, essa rodada deu o gás para um sprint de M&As para a Visma. Em 2024, a companhia comprou cerca de 50 startups, inclusive algumas na América Latina, como a Rindegastos no Chile e Mandú, no Peru. Agora, com a Conta Azul, chegou a vez do Brasil.