Depois de quatro anos sem fazer aquisições, a Olist assinou um novo cheque e está incorporando a fintech Flip. O negócio marca a entrada da companhia na oferta de crédito, e vem reforçado com a criação de um FDIC de R$ 90 milhões para financiar operações de antecipação de recebíveis. A compra também acelera os planos de crescimento da companhia e reforça seu posicionamento de plataforma integrada de ofertas para pequenas e médias empresas.
O valor da operação não foi divulgado. O negócio será pago com dinheiro e ações. Assim, Gustavo Traballe e Raphael Levi, fundadores da Flip, se tornam sócios da Olist e passam a atuar como executivos da companhia. A expectativa é que nos próximos 60 dias a opção de contratação de crédito diretamente pela plataforma da Olist esteja disponível para seus 50 mil clientes.
Segundo o portal Finsiders, a Flip foi criada com um investimento inicial de R$ 10 milhões e nunca captou dinheiro de investidores. Em 2024 a fintech teve receita de R$ 40 milhões e a projeção era dobrar esse número em 2025. Em sete anos de operação, ela originou mais de R$ 1 bilhão em operações de crédito, e, segundo Tiago, tem um baixo índice de perdas. “Ela tem Net Interest Margin [ou NIM, uma medida de rentabilidade para instituições financeiras] melhor que o de empresas abertas”, destaca Tiago Dalvi, fundador e CEO da Olist.
Acelerador de crescimento
Segundo ele, o acesso a crédito é a principal dor dos pequenos e médios negócios. “A maior razão de quebra de empresas é o descompasso de fluxo de caixa”, comenta. E por ser a “espinha dorsal” de dezenas de milhares de negócios, a companhia tem conhecimento sobre sazonalidade, estoque, prazos de venda etc., o que permite que ela consiga oferecer crédito em melhores condições que os grandes bancos. “Eles têm produtos robustos. Mas não conhecem a realidade dos pequenos e médios. Ninguém tem essas informações [que a Olist tem]”, avalia.
A ideia de oferecer crédito sempre esteve no radar, mas era preciso que a Olist ganhasse mais musculatura antes de dar esse passo, conta Tiago. Ao ponderar sobre a criação de uma oferta própria, ou comprar alguma operação já existente, a decisão foi pela última por conta do tempo necessário para construir bons modelos de análise. A busca por um ativo começou um ano atrás. Há cerca de nove meses a Flip apareceu no radar e as conversas tiveram início.
De acordo com o Tiago, com a Flip, a Olist antecipa seu plano de crescimento de cinco anos para algo entre 12 e 18 meses. A expectativa é que a oferta de crédito se torne, rapidamente, um dos três principais produtos da companhia.
Em pouco mais de dois anos, a tendência é que essa linha de negócios represente metade da receita e uma parcela significativa da margem da operação.
A fatia é semelhante à que o Mercado Livre tem com o Mercado Pago. Entre 50% e 60% da receita da empresa vem da sua fintech. A participação dos serviços financeiros também é representativa para nomes como Shopify e a Toast. “O SaaS com fintech embedded é a tendência”, diz Tiago.
A oferta de crédito também entrou no radar da Totvs anos atrás. A primeira tentativa foi com parceiros como a Creditas. Depois a companhia avançou por conta própria com a compra da Supplier até que, em 2023, colocou de pé uma joint venture com o Itaú.
Tiago aposta na estratégia de integração como principal impulsionador para a oferta da Olist. “[O que a Olist está propondo] É muito diferente do que já foi feito”, garante.
Nova fase da Olist
Nascida há uma década como uma ferramenta para vendedores gerenciarem suas vendas em marketplaces, a Olist avançou para as áreas de logística e de sistemas de gestão ao comprar a TinyERP, a Vnda e PAX entre 2020 e 2021. Há um ano e meio ela lançou sua vertical financeira, com uma conta digital integrada ao ERP e uma solução de pagamentos. Todos os meses, R$ 5 bilhões passam pela plataforma da companhia, o que equivale a 6% ou 7% do volume transacionado no varejo brasileiro.
Alçada ao panteão dos unicórnios com um valuation de US$ 1,5 bilhões após sua série E em 2021, a Olist não tem previsão de novas rodadas de captação por ter bastante dinheiro em caixa, segundo seu fundador. “Estamos na nossa fase mais bacana. Com maior maturidade e o melhor produto da história. Um ecossistema completíssimo, com um time robusto e muito azeitado. Agora é seguir avançando”, avalia Tiago.
A Olimpia Partners assessorou a Olist e a IGC assessorou a Flip na operação.