O movimento das startups grandes de “enxugar” suas operações continua rolando. E a mais nova empresa a fazer cortes em seu quadro de funcionários é a Betterfly, unicórnio chileno do segmento de benefícios corporativos. O Startups apurou que cerca de 30 das 100 pessoas da operação foram demitidas – incluindo o country manager, Caio Ribeiro.
Os cortes se concentraram nas áreas de marketing, comercial e no time que estava responsável pelo Xerpay, produto de adiantamento salarial que a Betterfly comprou no ano passado após levantar US$ 60 milhões em uma rodada de série B. Em fevereiro deste ano, a empresa fez a sua série C, na qual foi alçada ao patamar de unicórnio ao captar US$ 125 milhões.
O Startups apurou que a empresa tinha planos de chegar a 150 funcionários no Brasil até o fim do ano, mas vinha enfrentando problemas para se firmar no mercado local. “A empresa investiu bastante no Brasil, fez um evento fechado bem caro [em maio] e uma campanha milionária na Globo, mas mesmo assim não atingiu as metas comerciais. Tudo bem estranho”, disse um ex-funcionário sob condição de anonimato. Um executivo que foi ao evento de lançamento da companhia relatou ter ouvido de funcionários da área comercial que eles não entendiam muito bem o que estavam vendendo.
A Betterfly é uma hrtech com uma pegada de impacto social. O aplicativo tem recursos como telemedicina, psicologia e nutrição, com recompensas pelos hábitos saudáveis dos funcionários das empresas clientes. Os bons hábitos, como caminhar ou meditar, são transformados em doações para causas sociais e ambientais, e no aumento do prêmio de um seguro de vida. No Brasil, a companhia tem acordos de distribuição com a Icatu e a Chubb.
O Startups apurou que,o corte dos funcionários acontecido na quinta-feira da semana passada, mas se deu de uma forma pouco condizente com a linha de negócios da Betterfly. “O problema não é o layoff, talvez este seja só mais um. Mas a maneira como foi. As pessoas foram perdendo seus acessos antes de serem comunicadas e começaram pelo WhatsApp a perguntar se tinha algo errado com seus logins até que começaram a vir as notícias de desligamentos. Foi bem duro para uma empresa de RH. Esperávamos mais profissionalismo”, disse um dispensado.
Não há relatos de corte em outras operações da companhia. A Betterfly está presente no México, Colômbia, Argentina, Peru, Equador, Panamá e Costa Rica. Em julho, anunciou a compra da Flexoh para desembarcar na Europa e disse que planejava estrear nos EUA em 2023.
Saída do Country Manager
Possivelmente o anúncio mais curioso do corte seja a saída do country manager Caio Ribeiro, que foi contratado pela companhia em fevereiro para coordenar a estratégia de expansão da marca no país. Entramos em contato com o executivo para falar sobre o assunto, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta matéria. Em seu perfil no LinkedIn, ele não alterou o status e mantém sua ligação com a hrtech.
Outros funcionários já mudaram seus status, acusando a saída da companhia. O Startups apurou que os profissinais estão impedidos de divulgar detalhes da movimentação em função de uma cláusula de confidencialidade (NDA) assinada por eles.
Contatada pela reportagem, a Betterfly confirmou a reestruturação de sua operação no Brasil. Segundo a empresa, a ação faz parte de uma redefinição estratégica para ampliar o alcance de seu produto e adaptar novas ofertas.
“As mudanças buscam fortalecer a estrutura para a eficiência e a especialização do primeiro unicórnio social da América Latina. A empresa visa uma operação mais eficiente e ágil e, por isso, reestrutura a equipe”, afirmou a empresa ao Startups em uma nota em que não deu mais detalhes sobre números, nem mencionou a saída do country manager.
Confira abaixo o comunicado da Betterfly na íntegra.
A Betterfly Brasil informa que iniciou um processo de reestruturação de suas equipes. A ação faz parte de uma redefinição estratégica para levar o seu produto – que alia proteção, prevenção e propósito – a milhões de famílias do país e, ainda, para adaptação de novas ofertas que vai trazer ao mercado.
Desde o momento em que decidiu expandir suas operações, o Brasil tem sido um pilar dentro da estratégia global de atingir a meta de proteger 100 milhões de pessoas até 2025. As mudanças buscam fortalecer a estrutura para a eficiência e a especialização do primeiro unicórnio social da América Latina.
A empresa visa uma operação mais eficiente e ágil e, por isso, reestrutura a equipe. Na Betterfly, as pessoas estão no centro do negócio e, neste processo, o respeito e a dignidade do ser humano é essencial, assim como o cuidado com as pessoas, não apenas no início da experiência de trabalho, mas também no fim da jornada.
Unicorn down
Com a Betterfly, a lista de unicórnios sofrendo cortes só aumenta. Nesta semana, já reportamos aqui o enxugamento que rolou na Loggi, que dispensou 15% de sua força de trabalho – algo em torno de 500 colaboradores – de áreas como tecnologia, design e recrutamento. Outro corte aconteceu na MadeiraMadeira, que demitiu 60 pessoas – cerca de 3% de seu quadro.
Nos últimos meses, nomes como QuintoAndar, Loft, Facily, Kavak também enxugaram. E a lista não parece ter chegado ao fim.